quarta-feira, 16 de julho de 2014

taxi driver ii


Pelas ruas de Paris II
A aprendizagem prática foi-se adequando lentamente com passagens desagradáveis e outras que fariam “mijar” de rir os mais carrancudos do Universo. Já com cinco anos de serviço, um dos mais antigos na casa, confiavam-me os carros novos, sempre de marca Peugeot, salvo o último que era um Citroen. Apesar das consequências agravantes que os engarrafamentos proporcionavam, o cansaço, e o calor que no verão assava uma sardinha, no interior do carro sem os “gadgets” existentes agora, tais como o ar condicionado, as funcionalidades automáticas, mas sobretudo o GPS, bastante útil para calmar aqueles clientes mais “chatos”, e eram numerosos, escolhi trabalhar em horário diurno, receando os frequentes ataques dos delinquentes, bêbedos, drogados, e “tesos” que saiam dos cabarets sem um tostão para pagar, ameaçando, agredindo e até matando, com armas de fogo, brancas e outras estratégias, alguns dos colegas, recusando-se a pagar. Paris é uma das cidades mais lindas do mundo visitada de dia, e quente de noite, porque frequentada pelas mais diversas personagens do showbiz Ness, dos estrangeiros que vem divertir-se nos numerosos cabarets tais como: O moulin rouge, lido, folies bergères, casino, não esquecendo os valiosos teatros, operas, l’Olimpia,Chez Maxim´s, Saint Germain des Près e o café au flore, Camps Élisés para além dos conhecidos monumentos: T our Eiffel, Arc du Trionphe, Sacrée Coeur, Louvre, Baubour, Trocadero etc.
Voltando ao táxi driver dos anos 80 que se deslocava agora dentro de Paris como “peixe na água, e que entre dois clientes, enquanto atravessava “les Invalides” vazio, cantava um fado, só no seu carro, de Fernando Farinha, Amália, Teresa Tarouca, Alfredo Marceneiro, e até “Carmencita” de Isabel de Oliveira… No seu carro entraram numerosas personalidades, de Platini, Johnny Hallyday,Enrico Macias, Alain Delon, Abbé Pierre, e tantos outros com os quais conversei de coisas e d’outras, alguns deles notaram que era estrangeiro, mas sempre respeitando o motorista e a profissão.
Numerosas e extravagantes foram certas passagens de uma clientela diversificada, tais como:
- Subia a av. de Clichy, numa manhã fria de neve, quando alguém levanta o braço do outro lado do passeio. Parei e a pessoa, entrou, deu os bons-dias, e disse: - Bois de Boulogne SVP.
A meio do caminho olhei pelo retrovisor e estupefacto reparei que o homem se tinha transformado em mulher, coberta com porcas roupas. Um travesti brasileiro!
Numa manhã, junto da Place de la Bastille, uma linda moça meio adormecida, lançou-se contra o meu carro, obrigando-me a uma travagem brusca. Entrou e pediu-me para a levar a Mantes- -la-Jolie. Respondi não pois já estava fora do nosso circuito, para além de não conhecer bem o caminho. Insistiu e cedi. Foi-me indicando o caminho, e já na localidade, reparei que já tínhamos passado várias vezes pela mesma rua. Aventurei-me a perguntar o que se estava passando, quando numa fração de segundos me ordenou para parar, surgindo de imediato um “lafrau” com uma grande chave de fendas que logo me apontou ao pescoço. Pediram-me para desligar o carro, e entregar as chaves juntamente com o dinheiro que tinha em caixa. Despejaram-me e foram estacionar o carro a 300m dali, e eu sem dinheiro, só me restou dirigir-me para um posto de policia que me foi indicado do qual telefonei para os patrões contando-lhe o sucedido.
No hotel Georges V apanhei um cliente americano para levar ao Aeroporto Charles de Gaulle. À chegada, o individuo puxa por um grande maço de notas de cem francos e começa a passa-las para a minha mão perante a minha grande estupefação. Contou até 10, e Ergeu os olhos para mim ao mesmo tempo que dizia. – Não tenho mais… chega?
Sorri, ao mesmo tempo que lhe entregava nove destas notas dizendo: - Esta chega.
No seu sorriso vi os agradecimentos pela honestidade que existia em todas as profissões.

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