quarta-feira, 23 de julho de 2014

Tiradores de cortiça

 A extração manual da cortiça em Murçós, é mais uma atividade, que se vem desenvolvendo com grande intensidade, devido à propagação dos sobreiros, que, com as subidas climatológicas, e o solo fértil, se veem nascer e crescer, por entre a diversificada vegetação, em quase todo o “termo” da Freguesia. A minha visita de hoje, foi lá para os lados da Ribeira, Reboreda, e Lusio, lugares bem conhecidos dos filhos desta terra, que há quarenta anos, frequentavam diariamente, de onde traziam grande quantidade de meios que contribuíam para a subsistência, nomeadamente as uvas de boa casta e alta graduação, através de caminhos sinuosos, (carreirões) trabalhos árduos, que alguns ainda recordam, com certa nostalgia…
 Esta prática requer engenhosidade na conduta da extração, devido às “mazelas” que podem afetar gravemente as árvores, e um poder intrépido das alturas, cujas proteções restritas apenas ao equilíbrio do tirador, que nem sequer pode retirar do corpo as esfomeadas formigas, picando sem dó nem piedade, enquanto com a machada arredondada traçam o golpe vertical e horizontal, para depois as “trancas” descolarem, à força dos músculos, os “canelos”, creio ser assim chamados, as frações da cortiça. Outra contrariedade que afeta penosamente os tiradores de cortiça, são os acessos às árvores, situadas maioritariamente em lugares afastados dos caminhos rodoviários, sendo transportada centenas de metros, às costa, por trajetos onde nem as cabras entram! Nas redondezas houve já numerosos acidentes mortais; porém, creio ser uma indústria rentável, sobretudo para os intermediários…
 A cortiça é vendida à arroba, ou seja 15kg. Os preços diferem, segundo diversificados critérios, relacionados com: verde ou seca, espessura, dimensões, etc.
Como toda a gente sabe é uma rentabilidade para os proprietários isenta de custos, embora limitada de nove em nove anos…, tal como o carrasco, e outras árvores, são protegidas, e as sanções aplicadas pelos vigilantes equipados com binóculos de capacidade longínqua, ao cargo da GNR (os verdes) são dissuasivas dado o montante das coimas. São riquezas que a natureza vai oferecendo de tempo a outro aos humildes agricultores ajudando o País no comércio das exportações. Não há proprietários de grandes quantidades desta preciosidade, mas, os que possuem alguns, é a cereja no cimo do bolo!
  Hoje, na ribeira, ainda a descer a grande encosta, já se ouviam vozes humanas… o ruido das machadas, o estalar da cortiça, os rires dos corticeiros brigando, enquanto bem próxima, a ribeira corria lentamente, imperturbável, ladeada pelas espécies meio selvagens meio atraentes, e as suas límpidas águas cristalinas, expressavam orgulhosamente o amor intenso dedicado à natureza, em benefícios dos sortudos que podem usufruir, de lugares de pureza natural e de incondicional beleza, sossego paz e harmonia. A visita das cabras do Toneco, única desde havia tanto tempo, começava a pesar… bem-haja aos tiradores de cortiça: Carlos, Reis e Zé… foi como se tivesse havido festa lá para os lados da Ribeira… 









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