- Oi! Quanto vale o animal velho que nem mil diabos?
- Velho?
Velho! – Responde o outro – E como sabe vossemecê a idade dele?
- Os anos,
meu caro!
- Já lhe viu
a dentadura?
- Ó
carrapato… com essa já me não enganas! Sei que há para aí lordes a pagar a
dentistas para…
- Ó home dos
diabos… vocemeçê que diz?
Uma hora
mais tarde, após troca de palavras, um regateando o outro tentando vender a
banha da cobra o mais caro possível, chegaram a um consenso, e o da samarra saía
da feira estrada acima com o burro de rédea, fazendo grandes esforços para o
obrigar a andar, ao mesmo tempo que resmungava só para ele: - Mafarrico. Nem me
deixou com que comprar um molete e um copo de vinho… cinquenta mil reis! –
Repetia furioso.
Chegado às
Santas Engrácias o burro caiu de cansaço para nunca mais se levantar… mil
pragas foram rogadas ao cigano, que festejava a sua proeza com os amigos.
Voltando ao
que me levou a escrever este texto, desejava expressar o meu julgamento, em
relação ao atentado do Charlie Hebdo, visto estar em causa a liberdade de
expressão, a qual também sofre com o poder deliberativo segundo o peso e as
medidas. Antes de me prenunciar a este sujeito devo sublinhar a minha submissão
a um processo-crime, por parte de uma instituição e os seus corpos gerentes
vestidos de branco e azul, após o despejo de um idoso em condições, segundo
relato seu, diante de testemunhas, de forma repugnante, cuja verdade e justiça
foi por água abaixo e só parará nas profundas do inferno…
Sendo
fervoroso pungente da liberdade de expressão quando existe veracidade, e não
provoca nem fere suscetibilidades caricaturais, ainda que consideradas humorísticas,
mas só tem humor por atingir direta ou indiretamente seres humanos ou religiões,
que acreditam e respeitam os seus ideais.
Combater o
mal com o mal não é o lema de nenhum humanista, pelo que também condeno esses
atentados bárbaros e mortíferos de inocentes que se encontram encurralados como
mosquitos num cubo in virtualis, entre guerras de poderes fanáticos ver
suicidas. Degolar um inocente cordeiro para lavar com seu sangue o mal que o
rebanho causou, é das maiores cobardias vindas ao mundo…
Chocou-me
também imenso a infeliz citação do papa, ( não vos multipliqueis como coelhos)
no avião de volta das Filipinas, onde a população cristã, procria não usando os
contracetivos convencionais ou naturais, vivendo na miséria, é verdade, mas
também como seres humanos que merecem respeito nos julgamentos, ou pelo menos
que sejam pronunciados com tato e ponderação. A desculpa pedida antecipadamente
pelo Santo Padre em relação à observação, não alivia o meu sentido crítico de
cristão que aprendeu na catequese a multiplicação do pão e dos peixes, quando
Jesus se deparou com numerosas bocas para saciar e pouca alimentação.
Consciente de que o Papa não pode fazer milagres, e da miséria que existe por
esse mundo fora, o apelo seria ao esforço coletivo de entreajuda entre seres
humanos.
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