quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A Guerra dos cardos

 Os habitantes deste planeta, são o fruto de apodrecimento contagiante, cujas consequências catastróficas, ameaçam a curto prazo com um apocalipse desastroso. A humildade foi substituída pela arrogância e esta pela indiferença, desprezo, abandono dos bons e justos princípios, em detrimento do pretensioso, suscetível de poder, liderança, com propósitos bem definidos, interesses particulares. Já não existem aqueles princípios que diferenciavam os bons dos maus, nem limites nas maldades entre humanos, sejam eles, de etnia ou religião irrelevante, sobrepondo-se ações de barbarismo sem fundamento convincente que as justifiquem, onde agem impulsivos dons de demência, ou propósitos de fortaleza, ao que em linguagem vulgar se diz: “olho por olho dente por dente” Essência da filosofia barata e da metafisica com características irracionais, cuja associação encontrará a ligação detalhada mais abaixo. O ano 2014 foi rico em acontecimentos de caracter negativo, tanto a nível Nacional como Mundial… o aliciamento ao suborno e à corrupção é herança que data de longincos tempos, só modificaram os valores os quais vão sendo cada vez mais significativos, quanto às posições e situações nesta sociedade de “braço comprido,” encolhendo à escada para atingir mais facilmente o topo, doa a quem doer, custe a quem custar, sem remorsos, já que a consciência onde reside? Todos nós, nem que fosse uma só vez na vida, fomos tentados a comer a maçã-de-adão; e, por fraqueza ou por ambição, entramos no filme fazendo o papel de Eva… também saímos lesados, como aquele homem que se deslocou a pés à feira dos chãos, em tempos da minha infância, com a firme ideia de comprar um bom jerico a baixo preço, tentando dar a volta a um desses vendedores vulneráveis que nem contar até dez sabiam. Tinha vestido a sua samarra com gola de pele de raposa, calçado luvas de cabedal para lhe dar um ar de homem importante, enchido com jornais a sebenta carteira de Carção onde só levava cinquenta reis, e de bengala cascada de novo, aponta um pobre diabo, recatado num canto discreto, cabisbaixo e rosto severo, com esta pergunta?

- Oi! Quanto vale o animal velho que nem mil diabos?
- Velho? Velho! – Responde o outro – E como sabe vossemecê a idade dele?
- Os anos, meu caro!
- Já lhe viu a dentadura?
- Ó carrapato… com essa já me não enganas! Sei que há para aí lordes a pagar a dentistas para…
- Ó home dos diabos… vocemeçê que diz?
Uma hora mais tarde, após troca de palavras, um regateando o outro tentando vender a banha da cobra o mais caro possível, chegaram a um consenso, e o da samarra saía da feira estrada acima com o burro de rédea, fazendo grandes esforços para o obrigar a andar, ao mesmo tempo que resmungava só para ele: - Mafarrico. Nem me deixou com que comprar um molete e um copo de vinho… cinquenta mil reis! – Repetia furioso.
Chegado às Santas Engrácias o burro caiu de cansaço para nunca mais se levantar… mil pragas foram rogadas ao cigano, que festejava a sua proeza com os amigos.
Voltando ao que me levou a escrever este texto, desejava expressar o meu julgamento, em relação ao atentado do Charlie Hebdo, visto estar em causa a liberdade de expressão, a qual também sofre com o poder deliberativo segundo o peso e as medidas. Antes de me prenunciar a este sujeito devo sublinhar a minha submissão a um processo-crime, por parte de uma instituição e os seus corpos gerentes vestidos de branco e azul, após o despejo de um idoso em condições, segundo relato seu, diante de testemunhas, de forma repugnante, cuja verdade e justiça foi por água abaixo e só parará nas profundas do inferno…
Sendo fervoroso pungente da liberdade de expressão quando existe veracidade, e não provoca nem fere suscetibilidades caricaturais, ainda que consideradas humorísticas, mas só tem humor por atingir direta ou indiretamente seres humanos ou religiões, que acreditam e respeitam os seus ideais.
Combater o mal com o mal não é o lema de nenhum humanista, pelo que também condeno esses atentados bárbaros e mortíferos de inocentes que se encontram encurralados como mosquitos num cubo in virtualis, entre guerras de poderes fanáticos ver suicidas. Degolar um inocente cordeiro para lavar com seu sangue o mal que o rebanho causou, é das maiores cobardias vindas ao mundo…
Chocou-me também imenso a infeliz citação do papa, ( não vos multipliqueis como coelhos) no avião de volta das Filipinas, onde a população cristã, procria não usando os contracetivos convencionais ou naturais, vivendo na miséria, é verdade, mas também como seres humanos que merecem respeito nos julgamentos, ou pelo menos que sejam pronunciados com tato e ponderação. A desculpa pedida antecipadamente pelo Santo Padre em relação à observação, não alivia o meu sentido crítico de cristão que aprendeu na catequese a multiplicação do pão e dos peixes, quando Jesus se deparou com numerosas bocas para saciar e pouca alimentação. Consciente de que o Papa não pode fazer milagres, e da miséria que existe por esse mundo fora, o apelo seria ao esforço coletivo de entreajuda entre seres humanos.


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