quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Rei gaspar

E os reis passaram sem ninguém os ver, “encafuados” nos seus tronos luxuosos, envoltos em ouro, respirando o incenso, curando-se com a mirra… mas que birra! Deixarem que os poucos fumeiros abanassem os chouriços (salpicões, chouriças e alheiras) já afumados e meio secos, para saltar sobre a rica brasa de carvalho que nem a baba gordurenta consegue apagar… um cheiro agradável da adobe entra pelas narinas dos que passam por acaso na rua deserta agasalhados mas com frio… porque é tempo do tempo… e, neste tempo, outrora eram outros tempos e nestes dias cantavam-se os reis… aos fidalgos por infinidade e aos rurais por afinidade, esperando uma recompensa, mesmo que a melodia e os cantores cantassem como “caçarolas”… raros eram os que apagavam as luzes, e se o faziam existia um verso para lhe cantar… As boas tradições vão-se apagando e o descontentamento dos que por lá passaram e se divertiram como loucos, mexe e remexe, procuram mas não veem… também não ouvem, a não ser parvoíces nos televisores – tais como a reality show, lavagem de roupa suja, e nem um 
único programa cultural! As formações académicas, tem, a meu ver, muita influência no snobismo cínico, o qual orgulha os encarregados de educação, a ponto de fingir esquecer o que foram eles e seus pais…Marginais são considerados aqueles que não vão à missa ao Domingo, comungar mesmo vivendo no pecado, pagar ao padre o equivalente de uma jeira, mesmo não tendo possibilidades, enfim fazer tudo o que eles dizem se não querem arder no inferno… Chamam-lhe janeiras, e as pessoas importantes são brindadas com elas ensaiadas, acompanhadas de instrumentos, perdendo o “charme” a capela e o seu significado.
Já nas festividades de fim de ano, e precedentemente no Natal, a afluência dos visitantes foi este ano insignificante relativamente a tempos idos. Só aqueles mais mordidos pela saudade se esforçam por estar presentes no cantinho que os viu nascer… pois não sabem o que perdem, porque apesar de poucos são bons, e recordam alegremente as falcatruas de adolescentes que irritavam os mais velhos, lesados e feridos no orgulho de ter e ver desaparecer numa noite escura e nem rastos das peças furtadas pelos “lafraus” de costume, cozinhados ao abrigo dos olhares indiscretos, e saboreados alegremente como um verdadeiro


 repasto dos abastados… surpreendi-os nesta conversas animada sobressaindo os nomes dos mais atrevidos numerosos que com a idade e a emancipação se tornaram “sages” embora o bichinho ainda mexa com eles sentindo-se lisonjeados com a reputação animadora dos tempos mortos numa Aldeia onde quase nunca se passa nada? Fiquei um tanto quanto perplexo e surpreendido com os nomes citados, mas, também eu participei, no meu tempo e noutros lugares em patuscadas da juventude mesmo não sendo dos mais “corrécios”.
O café do Reis, agora sob a gerência da “sequinha”, foi o pseudónimo que ela escolheu, continua a ser o local preferido dos que estão assim como dos que chegam por alguns dias, também atingidos pela dita crise europeia, porque se nos referirmos aos gastos em presentes
 em Portugal durante as festividades, (2.000. 500.000,00) só há crise para os pobres como sempre, os outros podem manter os níveis de vida com margem de crescimento… por cá a rotina de sempre, tendencialmente a aumentar o isolamento, por conseguinte a falta de novidades, se contarmos com aquelas que não podem ser dadas para não ferir sensibilidades, correndo-se o risco de um apartheid branco.

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