quinta-feira, 9 de abril de 2015

De volta

Voltaram para ver, se o que consta, o que dizem, o que se escreve aqui, ali, além, acolá, é realmente verdade… incrédulos como o apóstolo Tiago vieram para certificar-se da verdade. Um após outro foram chegando, vindos do estrangeiro, dos quatro cantos de Portugal. Chegaram quinta-feira santa pela tarde. Para quê mais cedo? Seria um desperdício de tempo… e o tempo vale muito mais longe daqui! Três dias são largamente suficientes para matar saudades; se é que elas existem realmente ou apenas a curiosidade? Animam-se os ânimos com meia dúzia de bebidas alcoólicas num dos dois cafés onde os comerciantes os esperavam como o diabo espera as almas que supostamente leva para o inferno… ouve-se um ensurdecedor barulho de vozes à mistura com gargalhadas e o tilintar dos copos… a porta da entrada permanece aberta até às quatro ou cinco da madrugada, por onde sai continuamente uma fumaceira já rejeitada pelos pulmões daqueles que só arredaram pés para ir comer, não querendo perturbar os hábitos e costumes dos pacatos lares, os quais para a ocasião também fazem um esforço no sentido de agradar aos que amavelmente se deslocaram, percorrendo centenas de quilómetros. Já não é como dantes! Aliás nunca mais voltará a ser como dantes. Passado é passado… - ainda me lembro – murmura um de meia idade, na esplanada, à sombra do ardente sol, também presente na semana santa, para quebrar a tradição, e contradizer os que nela acreditam dizendo que chove sempre, para os ouvidos distraídos, e olhares
 longínquos, para os que ouviram a mesma lengalenga vezes sem fim. Vem-me à memória o titulo do livro de Pedro Chagas Freitas – Prometo falhar – e a citação do meu cronista preferido – António Lobo Antunes – cavalheiros trémulos que se deslocavam como os andores das procissões – As mulheres andavam de “ jau-pra-já” num corrupio de cheiros e sabores vindos dos quentes fornos onde se mexiam os ovos, se cortavam em pedaços as chouriças, salpicões, presunto à espera que a massa acabasse de levedar, e os folares amarelinhos fossem apresentados na mesa dos convivas. Ouve ainda a intenção de ajudar os familiares nas tarefas agrícolas, mas, a boa vontade tem limites, e esta gente não veio para trabalhar… cumprem-se algumas das tradições, talvez as mais convenientes, aquelas que não exigem esforços exorbitantes nem exposições formais. As idades não perdoam, e aqui há tanta gente idosa! Fingem alegria e felicidade. Meu Deus como as aparências iludem! È verdade que não faltou a grande fogueira no largo Sábado de aleluia, o baile no baixo da Junta cujos lucros revertem para o menino jesus, a visita pascal, e depois? Como pássaros migratórios, abalaram, tal como vieram, em silêncio, mas tão rapidamente que Domingo de Páscoa pela tarde, voltou a monotonia da desertificação que mói os miolos e faz bater tão rápido o coração… seria tão lindo dar noticias boas, escrever para os leitores o que eles queriam ler… mas meus caros, são tantos os velórios e as penas marcam para sempre…

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