Voltaram
para ver, se o que consta, o que dizem, o que se escreve aqui, ali, além,
acolá, é realmente verdade… incrédulos como o apóstolo Tiago vieram para
certificar-se da verdade. Um após outro foram chegando, vindos do estrangeiro,
dos quatro cantos de Portugal. Chegaram quinta-feira santa pela tarde. Para quê
mais cedo? Seria um desperdício de tempo… e o tempo vale muito mais longe
daqui! Três dias são largamente suficientes para matar saudades; se é que elas
existem realmente ou apenas a curiosidade? Animam-se os ânimos com meia dúzia de
bebidas alcoólicas num dos dois cafés onde os comerciantes os esperavam como o
diabo espera as almas que supostamente leva para o inferno… ouve-se um
ensurdecedor barulho de vozes à mistura com gargalhadas e o tilintar dos copos…
a porta da entrada permanece aberta até às quatro ou cinco da madrugada, por
onde sai continuamente uma fumaceira já rejeitada pelos pulmões daqueles que só
arredaram pés para ir comer, não querendo perturbar os hábitos e costumes dos
pacatos lares, os quais para a ocasião também fazem um esforço no sentido de
agradar aos que amavelmente se deslocaram, percorrendo centenas de quilómetros.
Já não é como dantes! Aliás nunca mais voltará a ser como dantes. Passado é
passado… - ainda me lembro – murmura um de meia idade, na esplanada, à sombra
do ardente sol, também presente na semana santa, para quebrar a tradição, e
contradizer os que nela acreditam dizendo que chove sempre, para os ouvidos distraídos,
e olhares
longínquos, para os que ouviram a mesma lengalenga vezes sem
fim. Vem-me à memória o titulo do livro de Pedro Chagas Freitas – Prometo falhar
– e a citação do meu cronista preferido – António Lobo Antunes – cavalheiros trémulos
que se deslocavam como os andores das procissões – As mulheres andavam de “
jau-pra-já” num corrupio de cheiros e sabores vindos dos quentes fornos onde se
mexiam os ovos, se cortavam em pedaços as chouriças, salpicões, presunto à
espera que a massa acabasse de levedar, e os folares amarelinhos fossem
apresentados na mesa dos convivas. Ouve ainda a intenção de ajudar os
familiares nas tarefas agrícolas, mas, a boa vontade tem limites, e esta gente
não veio para trabalhar… cumprem-se algumas das tradições, talvez as mais
convenientes, aquelas que não exigem esforços exorbitantes nem exposições
formais. As idades não perdoam, e aqui há tanta gente idosa! Fingem alegria e
felicidade. Meu Deus como as aparências iludem! È verdade que não faltou a
grande fogueira no largo Sábado de aleluia, o baile no baixo da Junta cujos
lucros revertem para o menino jesus, a visita pascal, e depois? Como pássaros
migratórios, abalaram, tal como vieram, em silêncio, mas tão rapidamente que
Domingo de Páscoa pela tarde, voltou a monotonia da desertificação que mói os
miolos e faz bater tão rápido o coração… seria tão lindo dar noticias boas,
escrever para os leitores o que eles queriam ler… mas meus caros, são tantos os
velórios e as penas marcam para sempre…
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