domingo, 10 de maio de 2015

Concerto especial

Apareceu, em Murçós, junto do café "sequinha", montado numa velha zundap, de bandoleira às costas, que supostamente dento da capa trazia um instrumrnto musical; derigiu-se a passos lentos e insseguros para dentro do café, com ar taciturno, tal um extraterrestre caído da nave Russa abandonada na amplitude da atmosfera. Cá fora, assentados, estavamos uns sete ou oito: Vitor (poulo) Manuel Adelino, Reis, Miguel o Lagarteiro, talvez o que o conhecia melhor e com ele tinha afinidades contrárias ao sentido do termo... chamou-o pelo nome e pergutou: - que andas a fazer ó...? n'um me digas que bens dar um concerto aqui?! O outro não respondeu. Entrou no café, sempre com o mesmo ar, enquanto nós os que o não conheciamos nos interrogavamos sobre a identidade do sujeito. O Miguel, já com umas cubas no bico, começou a troçar humoristicamente do individuo, e com ar de brincadeira chamou-nos para dentro dizendo: - Se quereis ver um verdadeiro concerto de musica e canto andai lá para dentro!
Entramos de rompante para não perder uma nesga do espetáculo prometedor.. O forasteiro assentou-se a uma mesa com altivez e cerimónia encostando o instrumento à perna esquerda como quem receia o roubo de uma preciosidade, e pede uma bebita,  assediado pelas numerosas perguntas, às quais ainda não tinha aberto a boca para responder. Pouco a pouco foram-se desliniando casos que metiam cachopas, bailes e outas peripécias enquanto o homem se mantinha mudo como um túmulo.- Quem é perguntei, já enfadado com o assédio do Miguel ao rapaz, humilhando-o? Ninguém me respondeu. O Reis, e o Vitor riam às gargalhadas enquanto nós os outros continuavamos na espetativa do mistério daquele sujeito que apareceu como por magia para animar ainda mais o ambiente que onde se encontra o lagarteiro, só por si, já dá espetáculo...  - Bah, toca lá e canta uns fados dedicados a esta gente - incentivava o Reis já velho conhecido seu.
Finalmente, com uma lentidão cerimonial, puxou o fecho  da capa, e extraiu uma viola, aparentemente em bom estado de conservação. Passou os dedos pelas cordas da viola, e logo nos primeiros acordes me começou a cheirar a esturro... - mais um zé cabra à solta - pensei para comigo. Os outros continuavam a soltar gargalhadas, e quando o seu tom de voz se ouviu desafinado que nem uma cassarola velha, compreendi que o forrasteiro não teria os 5L bem aferidos... improvisava no canto, sem rima nem alma, que faria levantar um morto com o enchente de rir.Era do serro de penhas juntas, e às suas custa, divertiam-se novos e velhos em abuso da sua deficiência. O moço continuava a arranhar na viola e cantava... viva á... esta é prós de Murçós,,, boa gente que nós bem sabemos... na ponta da lingua eu tenho... também o miguel é um bom c... o concerto durou talvez uma hora durante a qual morremos de rir. Infelizmente o Miguel com um copito exagera, e após uma discusão com o músico que metia porrada, este pega nos trouxos, e tal como tinha chegado assim partiu, sem um até sempre. Ficamos com a sensação de sabor a pouco, mas que animou a tarde, lá isso animou. Xau Pantin.

4 comentários:

Anónimo disse...

boas António.
ainda hoje me parto a rir quando me lembro do concerto inesperado do cantor do "serro de pena juntas".
espero que na minha ida ao santo António o mesmo já esteja contratado.
foi do melhor.
grande abraço e ate ao santo António.
Victor Fernandes.


antonio disse...

Pois é Vitor... não sei se terão possibilidades de o contratar tão eleevado é o "caché" mas que seria um bom contrato lá isso não restam dúvidas. Já falta pouco para a tua nova visita... sempre bem-vinda. Abraço e até breve.

Anónimo disse...

Quando li esta pequena narrativa de um episódio engraçado da vida quotidiana ocorrido no nosso mundo rural neste décimo quinto ano do segundo milénio depois de Cristo, pensei para comigo:
-Ora aí tens matéria original para poderes matar o tempo com cogitações e escrita de comentários em blogues que são de muito maior proveito, para o corpo e o espírito, do que as lavagens diárias ao cérebro que os grandes deste mundo te impingem através da maior parte dos programas de mais de cem canais de televisão a que tens acesso!
Efetivamente, nós, os blogueres, temos o dever cívico de fazer renascer, ainda que com estas novas roupagens eletrónicas, as histórias de encantar que, muito antigamente, no tempo em que os animais falavam e não havia internet, ouvíamos ao colo dos nossos pais e avós, divertindo-nos e ensinando-nos lições de vida que nos ajudaram a escolher os caminhos onde não há lobos maus, nem drogas alucinogénicas, nem alienações eletrónicas.

antonio disse...

Sr. Anónimo: bem haja pela visita e comentário o qual expressa na perfeição o cotidiano que nos traz submersos com os realitys schow, na guerra das audiencias que o povinho paga eludido e incentivado a telefonar vezes sem fim para pagar estes apresentadores chatos.
Longe vão os tempos em que a juventude se divertia atrás de uma bola de farrapos... fica a nostalgia. Cumprimentos