quinta-feira, 7 de maio de 2015

Ribeira

Ao passar na ribeirinha
Pus o pé molhei a meia (+3)
Não casei na minha terra
Fui casar a terra alheia

Era assim a cantilena da minha infância, da qual me ria, ingenuamente, talvez? E que hoje, lá para os lados da ribeira, luzio ou escairo, Reboreda,onde a paisagem saudável e maravilhosa nos transportam para sonhos longínquos que se perderam na civilização em detrimento da felicidade que a mãe natureza nos aponta e nós cegos e surdos, não vemos nem ouvimos, talvez embalados por um único objetivo, ser o maior; ambição que nos traz durante anos, abstraídos do circulo doirado, o qual só com a idade conciliamos e admitimos não valer a pena guerras, discórdias, ignominias, enfim, tudo quanto é mau, que nos mina e nos conduz, ao dia final, com ou sem reconhecimento ficando para a posteridade bem depressa esquecida.
A paisagem toda de verde vestida, e perfumada de flores campestres, únicos espetadores ao longo dos tempos, da ribeira de água cristalina, que corre desenfreadamente, por entre arbustos, árvores centenárias, amieiros que noutros tempos fizeram a felicidade do calçado (socos), pedras lisas, algas, e trutas que a contracorrente sobem pelas águas frias a fim de se reproduzirem. De tempos a tempos ouve-se um passarinho cantar, um dos resistentes, que não abandonaram o seu sítio, à procura de riquezas e vaidades, contentando-se com o que as suas raízes lhe deixaram como herança. -  Noutros tempos -  dizia-me a minha companheira de passeio – enquanto trabalhávamos estes terrenos quebrados, e limpávamos o suor da fronte, erguíamos a cabeça e ouvíamos cantar como rouxinóis pássaros lindos que nos acompanhavam no dia-a-dia com dificuldades para realizar trabalhos quase impossíveis, e,
 que, com a vontade corajosa, transformávamos em alimentos. Também as milhares  espécies de flores campestres tem bem gravada na memória de quem andou por estes maravilhosos lugares, a sua história e o nome correspondente, que até pode não ser o verdadeiro nome, mas era assim que eram identificadas, pelos que com elas conviviam. Foram muitos e variados os exemplos dados entre flores idênticas, mas não iguais. As marias, ou malmequeres, as da esteva com suas chagas e outra que não possui, as do linho selvagem e as daquelas que lhe chamavam “ de sabão”. – tentem identificá-las aqueles que as reconhecem.
Tudo me parecia mágico, hoje, junto da ribeira, onde o balão de oxigénio chega no momento oportuno, e as pernas pediam para ir cada vez mais longe, deste mundo ingrato e cínico, com aparência de cordeirinho manso. Aflorou-me a vontade de ficar ali para sempre… onde
 ninguém me julga, pelo que fui nem pelo que sou… onde a pureza dos seres vivos se curva á admiração de quem sente com o coração… naquele lugar sagrado e bendito, nobre e puro… belo, atraente, o céu na terra!
Os moinhos, dos” ferreiros” e do povo, jazem em ruinas no meio de tanta grandeza! Daqui saíram centenas de sacos de farinha, moídos pela grande “mó”, pedra granítica de grande dimensão que se deve ter admirado com a visita de alguém. Noutros tempos em que elas trabalhavam, entravam uns e saiam outros; hoje, infelizmente, tudo o que é natural, foi


 substituído pelas novas tecnologias, que diga-se de passagem, bastante úteis, mas, como é dolorosa a nostalgia!
O tempo parecia ter parado, proporcionando-me um sentimento de ligeireza felicíssima… olho mais uma vez à minha volta e o paraíso terrestre deslumbra-me… não tenho vontade de voltar para o ninho apodrecido e abandonado pelos ocupantes dos tempos felizes, que se transformou num exilo maquiavélico… Como seria lindo partir rodeado por tanta beleza que a mãe natureza pariu! – sem murmúrios fictícios, lágrimas forçadas, gestos hipócritas, e um ramo de flores compradas na florista e criadas nas estufas, artificiais, sem perfume, apenas um bilhetinho indicando o nome da pessoa que ofereceu para camuflar as aparências.
Não casei na minha terra, mas peço para ser levado para lá, quando um fia partir
Deixo a ligação para mais fotos aqui





































7 comentários:

Anónimo disse...

Boas Pereira.
Anda-vas a pesca ou a tentar por o moinho a trabalbar.
Que pena tenho de nao te acompanhar.
Grande abraço e já estava com saudades das tuas aventuras.
Vitor Fernandes.
Não viste nenhum javali???????

Fátima Pereira Stocker disse...

Bom dia, Tonho

Belo passeio, sim, a uma ribeira que eu fotografo sempre do lado de cá, não sei por quê, mas com as tua fotografias fica mais completa.

Gostaria de ver as restantes, contudo, o link não permite fazer a ligação, diz que não tenho autorização.

Beijos e obrigada

antonio disse...

Olá Vitor! Andava simplesmente a matar o tempo, pois não sou pescador nem comedor, e muito menos pedreiro... contudo seria com grande alegria que o veria em pé... o moinho como é óbvio! Não, não vi nenhum bichinho daqueles que vos fazem moer a paciênçia nas longas horas de espera, mas a paisagem é espectacular dos dois lados da ribeira. Quando voltas por cá? Abraço e até breve.

antonio disse...

Olá Fátima! Sim as ribeiras com tudo quanto as rodeia, ou ladeia, são de uma beleza espetacular! Seja esta a nossa, ou a de teixedo, todas elas me fascinam... tenho visto umas fotos da de Rossas com cascatas junto da ponte onde antigamente iamos tomar balho... que beleza. Bem haja o meu amigo, perito e com material de profissional.
Quanto ao link, eu já activei a publicação no web picasa, agora já as vejo sem iniciar sessão, espero que os restantes visitantes possam também ver este album... mas se fizeres o favor dizes-me alguma coisa, até como conseguir. Fico-te imensamente grato. Obrigado, beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Agora já vi tudo, Tonho. Estão muito bonitas... e eu cheia de saudades.

Fazeis muito bem, tu e tua mulher em dardes esses passeios, que fazem bem ao corpo e à alma.

Beijos

Anónimo disse...

Espetacular!

Um abraço e continuação de bons passeios.

antonio disse...

Obrigado Sr.(a) anónimo. Bem haja pela visita e amáveis palavras.
Retribuo o abraço e desejo-lhe as maiores felicidades.