Saloio parte IV
Seis meses depois, já com toda a papelada que lhe permitia
residir e trabalhar no território Francês, terminou o seu contrato e a
profissão que por força das circunstâncias, exerceu. Era tempo de férias, de
regresso a Portugal com uns tostões no bolso, fruto das economias cotidianas,
não sendo partidário das confusões nas quais se envolviam frequentemente, os
seus compatriotas em festas ou cafés frequentados por gente que alimentava o
sentimento do racismo, e como se costuma dizer: “para cá do marão mandam os que
cá estão”; foi um retorno ao enraizamento cheio de felicidade, misturado com
vaidade singela, que lhe dava ares de maturidade. Logo pela manhã ao raiar do
sol, subiu a rua principal até ao cimo do povo, lugar mítico de belas
recordações. No seu percurso encontrou-se com diversas pessoas que, depois de
um breve cumprimento, o observaram dos pés à cabeça, murmurando enquanto ele se
distanciava: - Já não parece o mesmo!...
A vida é uma das melhores escolas existentes no Mundo, e do
viver se retiram ilações que nos podem orientar ou desencaminhar, segundo os
fenómenos psíquicos de cada ser racional.
No comentário de uma destas partes narradas, surgem
divergências entre o narrador e a leitora, onde o primeiro, é julgado da
maneira que passo a citar: - Quanto azedume
tem esse seu coração! Não corresponde nada á sua pessoa…
Analisando estas duas
frases detalhadamente, concebo que exista em mim, revolta, indignação, e até
mesmo azedume; provocados pela hipocrisia, injustiça, humilhação. Também jamais
reivindiquei prediletos, o “Santo do pau Carunchoso”, assim como nunca
mendiguei outra personalidade que não fosse a minha, mesmo sabendo que alguém
escreveu: - “il n’y a que les imbéciles qui ne changent pas d’avis”.
Dando por concluído este
ciclo narrativo do “saloio”, para não ferir sensibilidades, velar por uma
reputação que me querem atribuir, mas sobretudo porque cheguei à conclusão do
desinteresse quando o sujeito é “tabout” gostaria ainda de acrescentar o
seguinte:
Tendo nascido na
precaridade e vivido na humildade, educado com dignidade, dirigido para a
religião cristã, batizado, comungado e crismado, ajudado à eucaristia em latim,
aprendido a doutrina, orando venerando os Santos, chego hoje, em relação a tudo
aquilo que me ensinaram, a temer que as serpentes tentadoras do pecado se
tenham multiplicado aos milhares, e como Eva, muitos de nós, tenhamos dado uma
trinca na maçã proibida…
Também os algozes
idênticos aos que repartiram as roupas de Cristo andam por aí eufóricos para
repartirem os bens legados pelos pais, sobretudo o dinheiro, ainda antes que
estes faleçam… Prometem aos idosos, (e não aos velhos farrapos) acarinhá-los protegê-los, ajudá-los a dar uns passos,
com a finalidade de lhes extorquirem o fruto de tanto suor derramado que agora
se transforma em lágrimas nos asilos, porque: “les oiseaux se cachent pour
mourir”.
Convivi durante o meu
percurso de vida, com diversas pessoas, praticantes de variadas ideologias religiosas,
respeitando-as, e considerando-as simplesmente como seres humanos,
independentemente da cor de pele, e nenhum deles me dececionou, como aconteceu
com outros que se dizem Cristãos praticantes, mas que só praticam
interessadamente para desta prática retirarem frutos ditos de subsistência, que
considero de enriquecimento, em detrimento dos pobres de espirito e socialmente
carenciados.
Tal como antigamente, na
terra onde nasci, era necessário curvar o dorso e retirar o chapéu àqueles que
nasceram privilegiados, ou à custa de terceiros adquiriram galões protocolares,
ainda hoje a mentalidade de elogiar uns e julgar outros, segundo critérios
convencionais, em nada mudou, mesmo não havendo o poderoso sistema social, que
tornava os pobres mais pobres, e os abastados avarentos. As boas pessoas que
tinham coração de Madre Teresa de Calcutá, contavam-se pelos dedos de uma das
mãos, mas essas não fingiam…tinham estes professores de quem falo nas minhas
narrativas um irmão o qual já homenageei neste espaço criado para tal, podia
também citar o nome de três mulheres, as quais nunca foram por ninguém
elogiadas por serem puras, talvez idôneas. Estas não mostravam à mão esquerda o
que davam com a direita, nem esperavam retorno para as suas briosas ações
sociais.
Lamento não dar sempre
boas novas, ainda que para tal tivesse de recorrer à mentira para agradar a
toda a gente; não sou dessa têmpera, e sempre defendi os pobres e oprimidos
condenando tudo e todos os que por manobras maliciosas atingem os vulneráveis,
em benefício da galanteria pretensiosa, só para não ficar mal na fotografia. As
pessoas conhecem muito bem um individuo enquanto não toca nos pontos sensíveis que
os possa comprometer, direta ou indiretamente…depois é muito mais fácil
deitá-lo abaixo endrominando, ao que chamo descer mais baixo que a profundidade
de um vulcão em erosão.
Quero deixar aqui os
parabéns para a Sra. Serrana de pseudónimo, por ter sido aprovada no exame de
4ª classe com distinção, SFF… coisa que já não existia, ou ainda não tinha sido
inventado nos meus tempos. Não creio que tenha ficado por aí, como não concordo
que o mérito seja atribuído ao professor, que não sendo Santo não pode fazer
milagres com pessoas que não sejam superdotados.
O povo Português tem essas
características, de dar beijos nos rostos cheios de creme.
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