quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Labirinto de sentimentos

Maria Simplesmente
 CEGA, SURDA E MUDA- 21
Não vejo, não oiço, não falo.
Não vejo nada nem ninguém
Vivo em plena escuridão.
Sinto apenas os passos trôpegos e arrastados da minha mãe.
Vejo a vida estilhaçada desarrumada e basculhada
O bem e o mal numa luta desenfreada.
Sinto almas penadas que choram comigo também.
Oiço espíritos errantes no oceano a boiar.
Sereias ao longe a cantar.Lobos com pele de cordeiro a uivar.Oiço as más-línguas a minha vida julgar.
Homenagem muito sentida a um amigo que partiu
Caminho aos solavancos entre o arvoredo e o luar.
Cheiro ao longe a maresia e sinto-me emocionar.
Oiço a frescura da relva.
Falo com o cheiro da alfazema no ar.
Apalpo o bulir das folhas que a aragem faz abanar
Não sei ver, ouvir nem falar.
Mas com os olhos da alma, os ouvidos do coração a língua do pensamento
Eu vejo, falo, sinto e oiço os batimentos cardíacos bater bem alto cá dentro
As maldades dos outros que me querem incutir.
Oiço curvas sinuosas, atalhos, rectas e desvios tudo eu posso ouvir.
Vejo o chilrear das aves que voam rente aos meus ouvidos.
Sigo pela vida fora com a alma emalada e todos os meus sentidos. 
Não oiço, não vejo nem falo.
Não tenho eira nem beira
Tenho o vazio da vida como minha companheira
As estrelas são os meus olhos
O luar a minha mais pura sensação
A língua afiada dos outros, uma mera frustração. 
Por isso vejo, sinto e falo apenas com a poesia saída do coração.
Reservados os direitos de autor.
M.C.M. (São Marques)
Reservados os direitos de autor

Sem comentários: