sábado, 27 de fevereiro de 2016

Por cá

 Noticias da Aldeia aguardadas com precipitada ansiedade, e, suponho grande espectativa, misturadas com saudade e desespero, contando os dias que faltam para uma breve visita, em tempos de esporádicas férias. Em Francês costuma dizer-se – pas de nouvelles, bonnes nouvelles – Por cá tudo igual, que significa bem diferente do mês de Agosto, sobretudo da semana festiva, onde confesso não saber de onde saem tantas pessoas, quase todas oriundas desta pacata terra, ou pelas circunstâncias matrimoniais, que certas más-línguas consideram injustamente estrangeiros, mesmo residindo permanentemente aqui e pagar os devidos impostos e mais obrigações. A listagem das pessoas que residem permanentemente aqui é tarefa fácil, desmoralizante talvez… e mesmo sabendo que não são notícias agradáveis para quem visita este espaço e dedica uns minutos à leitura, a realidade é aterrorizante, como infelizmente se verifica na maioria das Aldeias do Nordeste Transmontano, Vilas ou Cidades, que perdem de dia para dia uma percentagem considerável de pessoas. O envelhecimento ou terceira idade aqui, num levantamento aproximativo, ´e de 60% beneficiando a quási totalidade destas pessoas de pequenas reformas, pensões por invalidez ou pensão velhice. Residentes efetivos são aproximadamente 98 de todas as idades. Menores de dezoito anos 8, entre vinte e quarenta anos 15, e finalmente entre quarenta e sessenta anos 11.
Já não é arrepiante para um passageiro que atravessa a Aldeia de lés a lés, a qualquer hora do dia,  não se encontrar com uma única pessoa. Também no campo não se houve um ruido humano, ou longinquamente, e repetidas são as expressões referentes a possíveis acidentes, cujas vitimas não poderão ser socorridas ou só tardiamente. As deslocações para o campo são agora feitas com tratores, automóveis, motos 4 ou 4x4, pelo que só pelo caminho se cruzam alguns e rapidamente seguem à sua vida. No inverno, em dias medonhos de frio neve ou chuva refugiam-se ainda mais, cada um em sua casa, que pode ser considerado o ninho confortável ou o asilo da solidão. Por detrás dos vidros das marquises, onde o sol vem timidamente fazer umas visitas esporádicas, olha-se ao longe, no espaço e no tempo, com olhos esbugalhados, corações palpitantes que batem a ritmos cardíacos reduzidos pelo desespero, temendo uma mais que provável ida definitiva para um desses lares, onde se vai morrendo à míngua, E as poucas lágrimas que estes olhos ternos guardam secretamente ao abrigo da curiosidade alheia, correm lentamente, pelos rostos cansados, enrugados e pálidos, vindo desaguar num lenço enxovalhado. Lembram-se tão bem dos tempos em que naquela casa viveu uma família! E as chagas reavivam-se… deixando vagas ondas de momentos felizes… no enquadramento da mente que também já lhes prega partidas… surgem datas fragmentadas, vozes de crianças aos gritos, e o trepar apressado no soalho esburacado de uma mãe trazendo a ternura de um peito a aleitar, o afago que apraz.
Dizia uma comentadora, de Murçós, n’uma das redes sociais – estes espaços deveriam apenas servir para postar coisas lindas - é verdade; deveriam… o que considero idêntico varrer a casa e esconder a imundície por baixo dos móveis. Sendo verdade que a roupa suja não se deva lavar em nenhuma destas redes, porque será que o gráfico de visitas só sobe quando isso acontece?(reality show) Queiram os astutos voluntários, os invencíveis peritos, os mágicos, tomar a liberdade de transformar com sua varinha mágica, este isolamento; esta solidão e esta desertificação num paraíso terrestre, ou pelo menos no que esta terra foi em tempos idos… tentam os salvadores de causas perdidas insurgir proliferando promessas e calunias, que é como quem diz: atirar areia para os olhos de outrem, organizando eventos conviviais de interesse pessoal, sabendo perfeitamente os mais instruídos, que aliás nunca quiseram saber disto para nada, que o barco deriva há já alguns anos, e vai acabar por se afundar…
Não quero terminar o meu texto com ondas negativas, pelo que felicito todos aqueles que vão fazendo esforços para vir visitar a terra amada e considerada a mais linda do mundo… também para os impossibilitados por razões profissionais e outras fica o incentivo, porque sei, tendo vivido quase 30 anos nas mesmas circunstâncias, o quanto nos dói, com o aperto das saudades, desfrutar destes ares puros que alimentaram os vossos pulmões até à hora da inevitável partida.


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