sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Destinos e destinados


Destinos e destinados        Por António Braz
2ª Parte
Fernanda foi encontrada num jardim público, no dia seguinte, quase morta de frio fome e sem alento, por um Senhor que passeava seu cão. Não sabia como tinha ido parar ali, apenas se recordava que estivera à beira do abismo. O suicídio era a única saída que via, porém, algo ou alguém a agarrava puxando-a … e depois de tantos avanços e recuos caiu numa espécie de coma barbitúrico. Assustado com a descoberta do seu cão lavrador, o senhor Félix, médico de profissão, tomou imediatamente o pulso da rapariga. Vivia; embora em estado de hipotermia avançado. Pegou no telemóvel para ligar à polícia, mas logo a rapariga, mesmo em estado de debilidade, gesticulava com a mão negativamente. -Não? Mas… levou a moça para a sua casa e só quando já tinha recuperado, teve conhecimento da sua história com todos os pormenores.
Era Sexta-feira, e como em quase todas as Sextas-Feiras, a família do Carlitos, preparava-se para ir passar o fim-de-semana na casa do campo. Ao pequeno-almoço repararam, que a mesa não tinha sido posta como de costume, o que afligia a Senhora Beatriz, visto o marido poder ficar de mau humor para o resto do dia… gritou percorrendo toda a casa, à procura da Fernanda, subiu ao andar superior onde ela dormia, e nada. Perguntou ao Carlinhos se a tinha visto e este respondeu negativamente sem se sociar do que poderia ter acontecido…
Na casa do campo morava um caseiro e a esposa disponibilizar-se-ia para as tarefas correntes, pelo que o caso Fernanda caiu brevemente no esquecimento, e, criadas não faltavam por aí…
Para o Carlitos e júlia era mais um fim-de-semana tão desejado que não hesitavam em zarpar para os lugares secretos que tão bem conheciam, e onde podiam dar asas aos desejos de beijos ardentes, sem jamais terem passado essa barreira imposta pela moça que sabia perfeitamente que aquele homem por quem estava apaixonada nunca seria seu marido dadas as diferenças sociais, e os pais não eram de sentimentos. Brincavam como gaiatos enrolados num prazer de felicidade em cada minuto que passava, como se aquele viver pudesse durar eternamente… corriam pelos campos fora como loucos, nadavam nus na ribeira, trocavam olhares apaixonados, e riam, riam de tudo quanto era imposições, obrigações, comportamentos, indiferenças, enfim… só existiam eles no mundo. Mas o Carlitos possuía o dom de predador com orgulho desmedido, e na sua cabeça cogitava desde há muito tempo, a maneira astuciosa de fazer cair na esparrela aquela moça que fazia palpitar seu coração, e por quem nutria um ansejo incontrolável de possessão. Já tinha desperdiçado demasiado tempo pelo que chegara a hora de passar aos atos concretos. Foram dar uma volta de automóvel até ao castelo deserto, e pelo caminho as suas mãos zanzavam pelas partes intimas da moça, que incomoda ia sapeando resistindo, resistindo, até que: Pararam o carro num caminho escuro e deserto. E enquanto se beijavam ardentemente o Carlitos carregou no botão de baixar o assento. Caíram um sobre o outro e aí ficaram enlaçados num ato consumado.
De volta a casa, Júlia reparou na mudança de atitude do rapaz, e não compreendia aquele inédito abstratismo, perguntou: - Não foi bom Carlinhos meu amor? Porque ficaste assim? Não era o que desejavas desde que nos conhecemos?
- Pensava que eras só minha? Esperava tanto ter-te só para mim…
- Em que século vives? Eu sou só tua.
- Como posso acreditar, se a tua virgindade pertenceu a outro?!
- E tu? Será que podias ser-me fiel, e casar comigo?
-Falamos de ti… e acredita que me dececionaste. Gosto de ti, mas…
- Mas tens namorada com quem vais casar e eu que fique para aí à espera do Rei que traz um sapo na barriga, disposta a aceitar os teus caprichos de menino mimado que não vive no mesmo século dos outros mortais e faz exigências convenientes ao seu ego. É assim?
Separaram-se nestes termos, e quando se aproximavam de casa sentiram os olhares dos pais do Carlos que pareciam adivinhar o que se tinha passado e a mulher olho para o marido com ar interrogativo ao mesmo tempo que dizia:
- Creio que devemos averbar o casamento, não achas?

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