Destinos e destinados Por António Braz
2ª Parte
Fernanda foi encontrada
num jardim público, no dia seguinte, quase morta de frio fome e sem alento, por
um Senhor que passeava seu cão. Não sabia como tinha ido parar ali, apenas se
recordava que estivera à beira do abismo. O suicídio era a única saída que via,
porém, algo ou alguém a agarrava puxando-a … e depois de tantos avanços e
recuos caiu numa espécie de coma barbitúrico. Assustado com a descoberta do seu
cão lavrador, o senhor Félix, médico de profissão, tomou imediatamente o pulso
da rapariga. Vivia; embora em estado de hipotermia avançado. Pegou no telemóvel
para ligar à polícia, mas logo a rapariga, mesmo em estado de debilidade,
gesticulava com a mão negativamente. -Não? Mas… levou a moça para a sua casa e
só quando já tinha recuperado, teve conhecimento da sua história com todos os
pormenores.
Era Sexta-feira, e como
em quase todas as Sextas-Feiras, a família do Carlitos, preparava-se para ir
passar o fim-de-semana na casa do campo. Ao pequeno-almoço repararam, que a
mesa não tinha sido posta como de costume, o que afligia a Senhora Beatriz,
visto o marido poder ficar de mau humor para o resto do dia… gritou percorrendo
toda a casa, à procura da Fernanda, subiu ao andar superior onde ela dormia, e
nada. Perguntou ao Carlinhos se a tinha visto e este respondeu negativamente
sem se sociar do que poderia ter acontecido…
Na casa do campo morava
um caseiro e a esposa disponibilizar-se-ia para as tarefas correntes, pelo que
o caso Fernanda caiu brevemente no esquecimento, e, criadas não faltavam por aí…
Para o Carlitos e júlia
era mais um fim-de-semana tão desejado que não hesitavam em zarpar para os
lugares secretos que tão bem conheciam, e onde podiam dar asas aos desejos de
beijos ardentes, sem jamais terem passado essa barreira imposta pela moça que
sabia perfeitamente que aquele homem por quem estava apaixonada nunca seria seu
marido dadas as diferenças sociais, e os pais não eram de sentimentos.
Brincavam como gaiatos enrolados num prazer de felicidade em cada minuto que
passava, como se aquele viver pudesse durar eternamente… corriam pelos campos
fora como loucos, nadavam nus na ribeira, trocavam olhares apaixonados, e riam,
riam de tudo quanto era imposições, obrigações, comportamentos, indiferenças,
enfim… só existiam eles no mundo. Mas o Carlitos possuía o dom de predador com
orgulho desmedido, e na sua cabeça cogitava desde há muito tempo, a maneira
astuciosa de fazer cair na esparrela aquela moça que fazia palpitar seu
coração, e por quem nutria um ansejo incontrolável de possessão. Já tinha
desperdiçado demasiado tempo pelo que chegara a hora de passar aos atos
concretos. Foram dar uma volta de automóvel até ao castelo deserto, e pelo
caminho as suas mãos zanzavam pelas partes intimas da moça, que incomoda ia
sapeando resistindo, resistindo, até que: Pararam o carro num caminho escuro e
deserto. E enquanto se beijavam ardentemente o Carlitos carregou no botão de
baixar o assento. Caíram um sobre o outro e aí ficaram enlaçados num ato
consumado.
De volta a casa, Júlia
reparou na mudança de atitude do rapaz, e não compreendia aquele inédito
abstratismo, perguntou: - Não foi bom Carlinhos meu amor? Porque ficaste assim?
Não era o que desejavas desde que nos conhecemos?
- Pensava que eras só
minha? Esperava tanto ter-te só para mim…
- Em que século vives? Eu
sou só tua.
- Como posso acreditar,
se a tua virgindade pertenceu a outro?!
- E tu? Será que podias
ser-me fiel, e casar comigo?
-Falamos de ti… e
acredita que me dececionaste. Gosto de ti, mas…
- Mas tens namorada com
quem vais casar e eu que fique para aí à espera do Rei que traz um sapo na
barriga, disposta a aceitar os teus caprichos de menino mimado que não vive no
mesmo século dos outros mortais e faz exigências convenientes ao seu ego. É
assim?
Separaram-se nestes
termos, e quando se aproximavam de casa sentiram os olhares dos pais do Carlos
que pareciam adivinhar o que se tinha passado e a mulher olho para o marido com
ar interrogativo ao mesmo tempo que dizia:
- Creio que devemos
averbar o casamento, não achas?
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