sábado, 10 de novembro de 2018

Puridade

 Puridade
Por António Braz
Passadas QUATRO décadas no “frenezy” da tutoria inerente, começaram a manifestar-se, na personalidade específica do puto, sintomáticas mutações depauperadas recorrentes da apatia, talvez assolado pela saturação e monotonia, ou pelo pavor de envelhecer eremítico longe de tudo e de todos, sem carinho nem afeto; sem uma verdadeira família, esposa e filhos para dar e receber carinhosamente, o que um bom coração encerra e não permite espairecer. Viveu, até esta data, tão intensamente, segundo os seus próprios critérios de conduta, simples e honestamente, guardando o mais secretamente possível, momentos inesquecíveis, de fraqueza, os quais poderiam ser considerados errôneos, de profanações pelos que creem em propagandas baratas de teólogos os quais põem o carro à frente dos bois e não se cansam de dizer: “fazei o que eu digo e não façais o que eu faço! E o puto regredia no tempo e revia o filme desses bons pregadores, transgredindo, praticando atos malévolos, abandonando filhos para preservar o sacerdócio, dar aos ricos o que pertencia aos pobres, e sem remorsos partir para o que: alguns lhe chamam de outro mundo, sem deixar o legado de um tostão àqueles a quem concebeu a vida, e uma simples confissão baniu do pecado.
Voltando ao puto, matutava, cada vez mais frequentemente, na ideia de deixar de lado este viver, que, mesmo sendo maravilhoso, a longo prazo tornar-se-ia subversivo. Começou a frequentar “dancings” na esperança de encontrar a sua metade a fim de construir um futuro, porém, rapidamente notou que não eram de todo o género de pessoas que procurava. Os amigos apresentavam-lhe fêmeas que também não possuíam os requisitos necessários. Continuava a divertir-se com elas sem pretensão alguma nem ofensa do termo, mas, o tempo escasseava, oscilava, e começava a sentir vexame em convívios com pessoas mais jovens, embora espiritualmente guardasse rejuvenescimento.
E num dia de primavera, estacionado na praça de táxis da “porte de champerret”, enquanto esperava os clientes, teve uma espécie de sonho tão profundo, onde a sua vida iria ter uma reviravolta tão acentuada que o levaria a deixar a profissão que exercia e o saturava, encontrar uma mulher com quem casaria, e juntos trabalhariam agradavelmente num prédio de seis andares; teriam duas filhas tão lindas que na rua as pessoas mandavam parar o carrinho para as admirar, um lar tão feliz como o dos contos de fadas. E foi uma real visão que o puto teve… no decorrer desse mesmo ano, num baile de verão, na pacata terra que era a sua, foi chamado para um canto mais discreto por um amigo mais velho que ele, e vinha acompanhado de uma senhora, que lhe apresentou… cumprimentou-a cordialmente, sem deixar transparecer a empatia. Foram dançar várias vezes mas o diálogo não se estabelecia… até que por fim ela deu-lhe o seu endereço em paris caso quisesse visitá-la.
Não ficou muito entusiasmado o puto, porém, para satisfazer a curiosidade, foi visitá-la chegando pouco tempo depois à conclusão que era a mulher que aparecia na sua visão. Também os ouros desejos se concretizaram, e o puto que não acreditava em visões foi subjugado de onde saiu feliz.

Sem comentários: