Por António Braz
Passadas QUATRO décadas no
“frenezy” da tutoria inerente, começaram a manifestar-se, na personalidade
específica do puto, sintomáticas mutações depauperadas recorrentes da apatia,
talvez assolado pela saturação e monotonia, ou pelo pavor de envelhecer
eremítico longe de tudo e de todos, sem carinho nem afeto; sem uma verdadeira
família, esposa e filhos para dar e receber carinhosamente, o que um bom
coração encerra e não permite espairecer. Viveu, até esta data, tão
intensamente, segundo os seus próprios critérios de conduta, simples e
honestamente, guardando o mais secretamente possível, momentos inesquecíveis,
de fraqueza, os quais poderiam ser considerados errôneos, de profanações pelos
que creem em propagandas baratas de teólogos os quais põem o carro à frente dos
bois e não se cansam de dizer: “fazei o que eu digo e não façais o que eu faço!
E o puto regredia no tempo e revia o filme desses bons pregadores,
transgredindo, praticando atos malévolos, abandonando filhos para preservar o
sacerdócio, dar aos ricos o que pertencia aos pobres, e sem remorsos partir
para o que: alguns lhe chamam de outro mundo, sem deixar o legado de um tostão
àqueles a quem concebeu a vida, e uma simples confissão baniu do pecado.
Voltando ao puto,
matutava, cada vez mais frequentemente, na ideia de deixar de lado este viver,
que, mesmo sendo maravilhoso, a longo prazo tornar-se-ia subversivo. Começou a
frequentar “dancings” na esperança de encontrar a sua metade a fim de construir
um futuro, porém, rapidamente notou que não eram de todo o género de pessoas
que procurava. Os amigos apresentavam-lhe fêmeas que também não possuíam os
requisitos necessários. Continuava a divertir-se com elas sem pretensão alguma
nem ofensa do termo, mas, o tempo escasseava, oscilava, e começava a sentir
vexame em convívios com pessoas mais jovens, embora espiritualmente guardasse
rejuvenescimento.
E num dia de primavera,
estacionado na praça de táxis da “porte de champerret”, enquanto esperava os
clientes, teve uma espécie de sonho tão profundo, onde a sua vida iria ter uma
reviravolta tão acentuada que o levaria a deixar a profissão que exercia e o
saturava, encontrar uma mulher com quem casaria, e juntos trabalhariam agradavelmente
num prédio de seis andares; teriam duas filhas tão lindas que na rua as pessoas
mandavam parar o carrinho para as admirar, um lar tão feliz como o dos contos
de fadas. E foi uma real visão que o puto teve… no decorrer desse mesmo ano,
num baile de verão, na pacata terra que era a sua, foi chamado para um canto
mais discreto por um amigo mais velho que ele, e vinha acompanhado de uma senhora,
que lhe apresentou… cumprimentou-a cordialmente, sem deixar transparecer a
empatia. Foram dançar várias vezes mas o diálogo não se estabelecia… até que
por fim ela deu-lhe o seu endereço em paris caso quisesse visitá-la.
Não ficou muito
entusiasmado o puto, porém, para satisfazer a curiosidade, foi visitá-la
chegando pouco tempo depois à conclusão que era a mulher que aparecia na sua
visão. Também os ouros desejos se concretizaram, e o puto que não acreditava em
visões foi subjugado de onde saiu feliz.
Sem comentários:
Enviar um comentário