segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Destinos e Destinados


Destinos e Destinados
Por António Braz
3ª parte
Rompiam os primeiros raios de sol, na manhã do dia importantíssimo, que os pais de Carlitos tanto ansiavam, por diversos motivos e razões, no Palacete familiar, situado discretamente na periferia do Porto, onde o parque arborizado com diversidade e gosto requintado, estranhava o vaivém de tanta gente, e o ruido dos motores de automóveis alta gama, e as tulipas pareciam fechar-se em “copas”, enquanto no interior o pessoal de serviço comungava da hostilidade sem reminiscências, que é como quem diz: “olho vivo e pé ligeiro”.
No seu quarto, enquanto o costureiro reputado dava os últimos retoques ao smoking junto da janela, Carlitos de olhar fixo no vazio, deixou que vagueassem pelo seu pensamento imagens de um passado recente, e as de um futuro, quem sabe talvez exasperante, de pavor, de amargura, de tudo menos de felicidade porque não amava Paula com quem se casaria dentro de poucas horas. Ponderou ainda durante a noite anterior se haveria uma possibilidade de fugir para longe com Júlia, mas… de que viveriam? E estaria ela disposta a acompanhá-lo, depois de ter sido convidada, oito dias antes, para o seu casamento com outra mulher? O suor gotejava pelo seu rosto vindo repousar na branquíssima camisa junto do laço preto que o sufocava… o nervosismo dificultava o trabalho do costureiro, mas não ousava adverti-lo porque os pais pagavam e muito bem…
- Carlitos, são horas – gritou uma voz feminina no rés-do-chão - a limousine está à espera…
O costureiro terminara o seu trabalho, e para grande perplexidade sua, o rapaz continuava hirto junto da janela parecendo não ver nem ouvir ninguém. Tocou-lhe ao de leve no ombro ao mesmo tempo que balbuciava: - estão à sua espera…
- Como? Ah, sim… vou casar não é?
- Creio que sim, menino.
Desceu as escadas como um morto vivo, sem alento mas convicto de que seus pais só queriam o melhor para a sua vida.
-Estás lindo meu filho! Abraçou-o a mãe em lágrimas, enquanto o pai de braço dado com a esposa, limitou-se a fixá-lo olhos nos olhos como adivinhando a mágoa que perfurava aquele coração jovem, inexperiente, enfim… no fundo não passava de um menino mimado ingrato, que sempre teve tudo e mesmo assim não era suficiente… precisavas de uma lição da vida – pensava para consigo.
Chegados à igreja onde Paula já esperava e desesperava, Carlitos percorreu a passadeira vermelha acompanhado pelo pai sem lançar um único olhar aos convivas numerosos e de olhar fixo nele como quem quer devorar… Só, num canto discreto, Júlia vestia um lindo vestido de seda vermelha, sapatos de salto alto, e um chale preto por cima dos ombros, chapéu com renda que lhe ocultava as lágrimas, mas no coração uma dor que não era de rancor, era de deceção, de amargura porque o homem que ela amava com todas as suas forças ia casar na sua presença com outra. Sabia que não lhe pertencia, e jamais aspirou a ser sua esposa… mas doía tanto!
O cortejo longo de 1 km percorreu o trajeto que os separava de onde se realizariam as festividades, buzinando, e lançando flores, até à Quinta da Ponte do Louro, Carlos e Paula eram marido e mulher casados.



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