quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Saudades

Saudades
António Braz

 São tantas as saudades que vivencio, de tudo quanto me marcou na vida…quando vejo fotos desbotadas, ou sinto cheiros inodoros;
Quando ouço uma voz, e me lembro do passado, eu sinto saudades.
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem nunca mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do único que me marcou, do desvairo que sofri, da paixão que me martirizou, do desencanto, do beijo que meus lábios secaram, daqueles momentos eufóricos de ternura e loucura.
Sinto saudades do presente, que não aproveitei convenientemente, lembrando-me apenas do passado, e asseverando o futuro…
Mas também sinto saudades do futuro,
cuja reciprocidade provavelmente  idealizado, não será como eu pensava que seria…
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e jamais apareceu;
de quem veio correndo,
sem me conhecer tal como eu sou,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi com sensatez!

Daqueles que não souberam como dizer-me Adeus
de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só avistei de vislumbre!
Sinto saudades de tantas coisas que tive, e de outras que não cheguei a ter, mesmo sendo fortemente desejadas.
Sinto saudades de coisas circunspectas, hilariantes, de fatos e experiencias…
Sinto saudades do meu Husky que alguém me ofereceu um dia, e que tão fielmente me amava, como só os animais sabem fazer!
Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades de tantas coisas vividas e das que deixei esgueirar-se sem as viver.
Quantas vezes procuro sem saber o quê? Nem onde? Para resgatar o desconhecido sem saber onde o perdi…
Vejo o mundo a girar e penso que poderia ter saudades numa só língua universal, mesmo não sendo poliglota, aquela que usamos no desespero, ou para contar dinheiro, fazer amor, declarar sentimentos fortes, onde quer que estejamos.
Será que tenho tantas saudades por ter encontrado a palavra certa todas as vezes que sinto o peito apertar, às vezes nostálgico, às vezes feliz, funcionando melhor que um sinal vital, quando falamos de sentimentos; prova inequívoca da nossa cessibilidade! Do amor que dedicamos ao pouco que tivemos, lamentando as coisas lindas que nos concederam…


Sem comentários: