sexta-feira, 19 de abril de 2019

Adeus sentido

 Adeus sentido  por António Brás
Por muito que a pena me pese, entre os dedos trémulos, no vazio da escuridão, nas tormentas imensuráveis, e nas promessas vãs que se esvaneceram no ápice de um relâmpago, escrever-te-ei; no tronco de uma oliveira centenária, pelo caminho sinuoso onde deixaste traças gravadas no chão, nas paisagens que não tiveste tempo para admirar, nos lugares sagrados onde propagaste a tua imensa sabedoria, que connosco partilhaste na esplanada em noites tórridas de calor, ou molhadas e geladas dentro daquele lugar peculiar, que o mundo inteiro conhecia pelo teu nome; mas, a tua ausência pesa-nos tanto! O vento que outrora varria lamúrias, deixou de sarar feridas profundas, e nem o tempo consegue atenuar o sofrimento de quem sente profundamente a tua precoce partida, naquele dia fatídico, naquela hora que alguém programou sem consternação. Foste e serás eternamente o meu irmão aniversariante no dia consagrado a Camões, o grande, grande amigo, que juntos, na tua modesta casa, sempre à disposição de quem precisava, cozinhávamos o festim, o qual seria partilhado pelos numerosos amigos,
 no café do Reis, onde não faltava nada, amor, carinho e boa disposição por entre as compridas mesas da fraternidade. Eras um pilar onde toda a Aldeia se apoiava, sem jamais demostrares fragilidade. Um homem corajoso e serviçal, desinteressado, complacente, integro, e cheio de energia positiva. Muitos foram os que por ti choraram, numerosos os que padecem com a tua ausência… o outão perdeu a magia dos teus passos subindo as escadas duas a duas… fecharam-se as portas e as janelas daquela que foi a casa mais famosa de Murçós e a tua ausência torna-se insuportável. Já vezes sem fim, assentado na esplanada, ergui os olhos para a janela onde costumavas aparecer bisbilhotando o que se passava em baixo, esperando ver-te, e a tua imagem nublada, desaparece na expressão dos meus olhos molhados. Eras um ídolo, sobretudo para os nossos pequenos emigrantes, e, segundo alguns deles, agora já não vale a pena vir de férias ao Portugal do Reis! Como pode a pacatez de um ser simples manifestar tanta popularidade? Incomparável nas suas ideologias politicas ou religiosas, defendia com arbítrio as suas convicções diante de todas as classes sociais, sem pusilanimidade ou desvairo.
Escrever-te-ei sempre que as saudades me apertarem o coração, e as sequelas que a tua partida deixou, acompanhar-me-ão para sempre
Porque eras o meu grande, grande amigo.
Xau Pantin

Sem comentários: