domingo, 7 de novembro de 2021

Dia de sorte: por António Braz 06/11/21 De volta a casa, Francisco contou o sucedido à mãe sua confidente a quem não escondia supostamente nada. A progenitora reconfortou-o como o seu bebé, desdramatizando os acontecimentos… raparigas não lhe faltariam na faculdade ou fora, dados os seus atributos de beleza e morfologia, mas teria de ser seletivo, não cair na armadilha das caçadeiras de rapazes de famílias abastadas e com situação social privilegiada como a dele. Francisco limitou-se a ouvir, aparentando satisfação quando por dentro sentia um vazio imenso que devassava todo o seu ser, martirizando-o como um condenado ao flagelo que o sistema protocolar obrigava ao silencio aparentando satisfação, alegria que jamais teria dadas as circunstancias, e muito menos felicidade. Os dias sucediam-se, lentos, às vezes medonhos, num ritual de convivência por obrigação, frequentando e estudando, sempre só, como um cão vadio à procura do impossível. Não tinha voltado à casa dos avós receando mais perguntas indiscretas, mesmo sentindo saudades do seu amigo Alfredo com quem gostava conversar de coisas banais, banhados pela beleza da quinta, onde podia esquecer todos os problemas mundanos, saboreando a pureza do ar e a magnificência da paisagem, sem obrigações nem compromissos, esquecendo um mundo feroz sem compaixão nem remissão, mas sobretudo sem ser julgado segundo critérios de obrigatoriedade. Terminou o ano naquele estado de espírito, julgou não ter capacidade para começar outro da mesma maneira. Um dia, ao jantar, pediu aos pais para o enviarem estudar para Inglaterra ou Estados Unidos. Surpreendido o casal começou logo a fazer julgamentos mentais que pudessem levar o filho distanciar-se daqueles que lhe eram queridos, de sua casa, do quarto onde passava horas supostamente a estudar, do jardim que tanto prezava em tempos de sol, de tudo que fizera parte do seu viver… Como sempre foi a mãe a primeira a fazer a pergunta que se impunha: - Filho! O que te deu? Não és feliz junto de nós? - O problema é muito mais complexo, porém, gostaria que soubessem que são os melhores pais do mundo… aqui nunca me faltou afeto, carinho, amor e os bens materiais essenciais para prosseguir os estudos que sempre me fizeram sonhar…
Mas, se nada te falta porque queres deixar-nos na dor e no desespero sem termos a certeza que estás bem longe de nós? Francisco sentiu-se encurralado, sem respostas ou com a resposta que morreria com ele. Tentou convencer os pais que o estudo nestes Países tem outro valor em qualquer parte do mundo, e o ensino está a léguas de distância do nosso. Convictos de que o filho tinha alguma razão, acabaram por aceitar, iniciando imediatamente os preparativos ao consultar as melhores faculdades situadas em Londres e Nova Yorque. A que lhe dava mais vantagens era a: UYN com residência próxima embora os preços fossem elevados. Faltava apenas um mês para embarcar e no seu pensamento velava noite e dia a ideia de partir sem se despedir dos avós e do seu amigo Alfredo por quem tinha grande estima. Mas a mãe resolveu dar uma festa em casa para comemorar a sua despedida. Convidou as filhas das amigas de boas famílias com a firme intenção de com um tiro matar dois coelhos. Vieram os avós, o Alfredo e a namorada e mais dois ou três rapazes de confiança. Francisco estava radiante. O cocktail realizou-se ao ar livre até altas horas da noite e o rapaz que não estava acostumado a beber começou a sentir-se cansado, decidiu a cambalear ir abraçar os avós e o amigo, retirando-se para o seu quarto. A mãe que não tinha conseguido os seus intentos, resolveu ir falar diretamente com uma moça pequena e de pouca beleza, propondo-lhe namoro com o filho. Esta exitou e perguntou? Porque não foi o seu filho a vir ter comigo? Como não está acostumado a beber hoje está K.O. Pode ir ter com ele ao quarto e ficar lá toda anoite, percebe o que quero dizer. Sim. Percebo muito bem, mas não é honesto… Quer ou não quer namorar com o meu filho? E quem sabe… você não gosta de bebés? Adorava ter um filho…então mulher vá e faça o necessário. Deve saber como se faz? Meta-se na sua cama e conduza-o ao êxtase. Isto ficará para sempre entre nós

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