sábado, 14 de janeiro de 2023

Dia de sorte30 por Ab Há decisões e reações surpreendentes que nos desarmam atirando-nos para uma perplexidade duvidosa quando atos maquiavélicos danificam os sentimentos, consideração e indignação, surgem lado a lado, mas jamais poderão conviver, mesmo para pagar dividas. O professor era com certeza um homem “sage” ponderando na destruição de um lar, construído pedra a pedra, com imensas contrariedades pelo caminho superadas pela confiança que num momento de fragilidade, cedeu à tentação da carne num impulso inesperado onde o arrependimento e o perdão foram mais robustos que a traição. Francisco apesar de ofendido, tinha uma grande consideração por aquela família, que como tantas desencarrilham distraídas ou tentadas por um demónio à solta. Não lhe ocorriam palavras que justificassem o passado, mas estava convicto de que aquela família generosa necessitava de uma para voltar ao que sempre foi honrada e honesta para florescer novamente a felicidade até aqui presa num ato errado. Abraçou o professor em lágrimas, agradecendo o fato de se deslocarem para apresentar as condolências, daqueles que sabiam ser a sua família que tanto amava. Quanto ao incidente de que foi vítima, voltou-se para a esposa e de olhos nos olhos apenas disse: não volte a trair um marido bom e generosa nem a sua filha que em si depositou os seus valores e princípios. A minha gratidão será o perdão que me minava por dentro e esta noite poderei dormir de consciência tranquila. Fred que se encontrava de pé no salão sofria como o pai sofreu, sem balbuciar palavra, convicto das impurezas que a vida tem cujas vítimas são sempre as mesmas. Era injusto – pensava para consigo, mas infelizmente também ele era produto de impurezas, como lidar com a situação? Só no dia seguinte, quando almoçavam no grande salão com os convivas foi apresentado como sendo seu filho, cuja história os Miller conheciam de A a Z. Educadamente foi cumprimentá-los, e no decorrer da conversa ficaram a saber que vinha viver com o pai, e estudar dadas as circunstâncias que não tinham agradado minimamente a Francisco na sua passagem por Portugal. Quando os convivas partiram Francisco ordenou que estivesse o chofer e o carro à sua disposição para uma saída com o filho. Foi apresenta-lo à escola que frequentaria a partir do dia seguinte ordenando à direção para não haver favores só porque era do seu sangue. Durante o percurso reservado onde as palavras podem ferir, passaram por uma das suas empresas e convidou-o a acompanhá-lo, ou que aguardasse no automóvel se a situação não o prezava. Saiu imediatamente batendo com jeito a porta e seguiu o pai até aos elevadores. Subiram ao vigésimo segundo andar, onde por detrás de portas em vidro se verificava a movimentação de centenas de pessoas e uma sala gigantesca que impressionou o rapaz cada um testava as peças de computadores parecendo alheios ao que se passava em redor salvo quando passaram e se levantaram para os saudar brevemente. Francisco via no filho o entusiasmo e admiração, e sem dizer palavra entraram num espaçoso escritório vazio que era o seu. – É aqui que eu trabalho. – disse. O rapaz ficou embasbacado, e só quando ouviu perguntar se desejavam um refresco voltou a terra.

Sem comentários: