sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Rebordainhos dia de reis

Dia de Reis por AB O dia surgiu estofado de branco em toda a superfície da Aldeia dormente, com os pés quentes e a pouca vontade de deixar os cobertores saborear ignorando os que dormiram ao relento cobertos com cartões de papelão que serviam de lençóis baratos. Vi aquela mulher abrir a porta com um lenço de cabeça nas mãos, que imediatamente colocou como se estivéssemos no Alasca. Os bons dias fugitivos e uma careta que resumia o estado do tempo. Foi buscar lenha para acender o lume, e quando voltava da minha caminhada matinal a cheminé fumegava pelos cantos, as duas pequenas cadelas que tentaram acompanhar-me desistiram aos 20 metros, com certeza lhe cheirou a lareira, melhor que a aventura do nariz gelado tentando alargar o passo. No cruzamento da escola um carro vermelho apitou e eu voltei-me para ver quem era. – Que anda você por aqui a fazer com tanto frio? – perguntou-me o condutor enquanto os saudava juntamente com a esposa. Estavam chegando com 779 quilómetros nas rodas vindos de Bilbau onde trabalham e residem O Jaime Fernandes e a esposa. Nos espelhos laterais viam-se ainda as sequelas do percurso com sincelos pendentes que ornamentavam o automóvel. Na casa certamente já bem quente esperava-os o irmão Zé para um matabicho à maneira dos transmontanos. Chouriça e alheira assadas e quentinhas com um naco de pão e uma malga (tigela) de café para ajudar a esquecer um percurso rude, mas que alegra o coração quando por entre o nevoeiro se começam a enxergar as primeiras casas, da terra amada onde nasceram e se criaram com dificuldades, mas paz e alegria. Dois dias antes a minha esposa ordenou-me a colheita das laranjas pois o nevoeiro aproximava e rapidamente as gela. Foi uma recolta menor que os anos precedente por termos tido um verão demasiado quente. As mandarinas só deram para não faltar ao dever, e uma tangerineira secou talvez com raios radioativos vindos da Rússia, sabe-se lá?
Hoje era um dia muito importante na terra onde nasci. O cantar dos reis a quatro vozes percorrendo todas as casas da paróquia, com missa solene e rezas onde se mencionava o nome dos antepassados, e dos donos da casa. Era uma tradição que supostamente jamais deixariam perder, mas nada é absolutamente garantido e os nossos reis pelas almas perderam-se, muito pela falta de vontade, porque cantores não faltavam ainda que tivessem de vir encomendados de Taiwan… lamento imenso e não concebo um desleixo tão prejudicial às nossas tradições, com neve e frio, cantando às portas dos senhores honrados como diz o verso: em tais festas, como estas, cantam-se os reis aos fidalgos, também nós os cantaremos, a estes senhores horados, 3x.Conheço as estrofes todas de cor e sempre me disponibilizei para qualquer uma das quatro vozes, mesmo que a de superano exigia-se bastante esforço
de vir encomendados de Taiwan… lamento imenso e não concebo um desleixo tão prejudicial às nossas tradições, com neve e frio, cantando às portas dos senhores honrados como diz o verso: em tais festas, como estas, cantam-se os reis aos fidalgos, também nós os cantaremos, a estes senhores horados, 3x.Conheço as estrofes todas de cor e sempre me disponibilizei para qualquer uma das quatro vozes, mesmo que a de superano exigia-se bastante esforço. No final janta-se em casa dos mordomos que brindávamos com várias cantilenas. Tudo tem um fim alguns precoces por falta de empenho e zelo que me deixa triste, impotente, manifestando o meu descontentamento. Pelos reis e pelas almas cantarei sozinho na minha mente

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