terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

TERRAS BRAVÍAS

 
Lá longe, onde o sol castiga mais; em terras acidentadas, quebradas, árduas e magras, por entre as lousas subtraídas do roço, pela força muscular de homens rijos e rudes, no silencio e desespero, tentavam as plantações de oliveiras, em terrenos baldios, já cansados, do pouco rendimento de umas palhas de centeio ou trigo, transportado dificilmente em carroças de burros ou umas vacas magricelas a cair de velhas e cansaço, para a Eira e malhadas a malhos. Porque as tecnologias vinham ainda a caminho.
Bicho, Vale Grande, Vale da Porca, Vale de Raposo, são nomes de lugares, sitos entre 4 e 6 km, dista da Aldeia de Murçós, limítrofes com as Arcas e Vilarinho de Agrochão. Aqui, nos ribeiros e ladeiras, abriram-se covas com mais de 50cm de profundidade, com picos, ferros de caviar, pás, e outros utensílios, à força dos braços, lentamente, penosamente, com o suor a cair gota a gota, pelos rostos enrugados e endurecidos, marcas visíveis e salientes, que o tempo já passado nesta liderança, deixou. Centenas de pés de oliveiras foram plantadas, pelos mais idosos, e antepassados, as quais acarinharam, trataram minuciosamente, para delas subtraírem, o azeite tão necessário à sobrevivência do agregado familiar, composto com numerosos filhos, netos ou parentes próximos.
As gerações recentes, com a evolução dos tempos, mais as novas tecnologias, não querem nem podem satisfazer os desejos herdados, o que martiriza os corações daqueles que com tanto esforço construíram, esperando sucessão e a continuidade de uma casa agrícola, farta, e orgulhosa.
- Até me dói o coração, ver assim tudo perdido… - Dizem alguns anciãos.
Os castanheiros, com as doenças do cancro e da tinta, e a subida climatérica, secaram; resistindo apenas aqueles plantados mais tarde nos pontos altos. Da carpintaria restam apenas as máquinas: A Aldeia está caindo num deserto, dentro de dez anos, a gravidade, tornar-se-á numa calamidade.
Também lá para os lados da Reboreda e Ribeira, onde os animais não conseguiam manter-se equilibrados, em pé, foram “gaviadas” e plantadas centenas de cepas, as quais eram cavadas à mão, duas vezes por ano, e transportadas as uvas em carros de madeira, construídos exclusivamente para tal feito, por carreiros e caminhos tortuosos e medonhos. Contam os que viveram nesta época difícil, as peripécias engenhosas adoptadas, para conseguirem levar aos lagares estes frutos, dos quais extraíam o vinho, necessário e útil na ajuda de trabalhos rigorosos. Os três moinhos existentes para moer os cereais, trigo e centeio, também se situavam para estas bandas, pelo facto de ser a ribeira que os fazia funcionar, para além de servir outras funções como: a do linho, e regadio.
Homens de luta e garra! Alcunhas de quem fala a história… Valongo, Carriças, Valente, etc.
A casa grande e rica da Aldeia, era a da Viúva. Pertenciam-lhe os melhores prédios rústicos e Urbanos, que mais tarde os herdeiros foram vendendo.
A vida das famílias mais pobres não foi fácil. Enquanto não chegaram as mineiras, a miséria e mesmo a fome rondaram a população, que os contadores de histórias descrevem hoje, como tempos difíceis, já fazendo parte do passado.





5 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Dizem que os velhos não gostam de revoluções. Mas eu tenho a certeza de que bateriam palmas se as aldeias se enchessem de gente e a terra fosse revolvida por máquinas do outro mundo que permitissem colheitas de espanto.

Não é o tipo de trabalho, nem a sociedade, que os velhos choram. Eles vertem lágrimas pela terra que tanto dá e tão pouco se lhe está a pedir. São eles que estão certos. Os cegos somos nós.

Beijos e obrigada por este texto tão verdadeiro.

antonio disse...

Concordo contigo, Fátima. Com eles também, sabendo que lhe levou tanto tempo a construir, com izaustivos meios, e de repente ouvem os herdeiros dizer: da-me mais prejuizo que lucro, prefiro vê-lo de monte...por outro lado tambem não vejo quem quer que seja interessado em deixar os seus empregos para vir trabalhar , para aquecer...porque esta terra é rica em tudo, infelizmente nada se vende...a aldeia é um Para´so, para quem viveu numerosos anos no stress de uma grande cidade. Obrigado pela visita, não te julgues obrigada,porque a minha consideração e respeito, por ti, serão sempre iguais. Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Sentir-me obrigada?! Nem penses! Sabes bem que tenho enorme prazer em ler-te e em conversar contigo.

Como sabes, sonho com o dia em que possa voltar à aldeia. Infelizmente, aquilo que dizes é verdade:serão muito poucos aqueles que podem viver daquilo que o trabalho das terras que possuem dá. Vê o teu caso e o meu: se os nossos pais nos puderam criar com as terras que tinham, nós já não podemos fazer o mesmo, porque aquilo que era um foi dividido pelo número de filhos. E deu pouco a cada um.

Beijos

Rebordas disse...

Dizem que o homem não cria raízes, mas penso que essa afirmação não seja totalmente verdadeira. Não posso falar pelos outros, mas no que me diz respeito, sei que mesmo após pràticamente 40 anos de exílio voluntário, o único pensamente que se mantém presente é regressar à minha origem, mais precisamente, ao lugar onde passei os primeiros anos da minha vida. Não precisaria de muito, apenas o suficiente para a sobrevivência e um cantinho onde cair para descansar. Infelizmente a rotina, o comodismo e outras circunstâncias acabam se sobrepondo aos nossos desejos.
Parabéns a ti, Tonho, que conseguiste impor a tua vontade e hoje nos brindas com teus textos divinos e fotos de encher os olhos e a cabeça de ótimas lembranças.
Abraços

Antonio disse...

Concordo totalmente Rebordas.O enrraizamento humano faz-se atrvés dos sentimentos juntamente com as boas e más recordações... pessoalmente não compreendo que certas pessoas não sintam nostálgicamente o desejo de voltar, mesmo não tendo sido fácil para alguns de nós... eu, preparei o meu regreço com a ajuda de Deus, porque me torturava a ideia de ter ficar definitivamente longe dos meus amores profundos, que eram a terra e a família. Tive sorte? Acho que sim, e agradeço eternamente a quem me proporcionou, tanta felicidade. A monotonía é mais fácil de quebrar que a saudade. Obrigado pela tua visita elogiosa, coisa que sempre faz prazer... desejo-te que os teus sonhos se realizem, tal como os descreves,até sempre. Abraço grande