domingo, 29 de janeiro de 2012

PADRE DELFIM "BATOUXAS" SÓ HÁ I



Padre Delfim “Batouxas”
Quarenta e tais anos dedicados às Paróquias: Murçós, Espadanedo, Soutelo Mourisco, Cabanas, Vilar-Douro e Vouzende,  e seus Paroquianos, deveriam suscitar, nas suas gentes, como ele dizia, mais consideração, respeito e dedicação, para os poucos anos que lhe restarão na companhia dos vivos.
Vindo de uma Aldeia do concelho de Moncorvo, situada no fundo da serra de Bornes, “Burga", rodeada pela magnificência da paisagem, trouxe com ele, a simplicidade, energia,
fé e comunicação material e espiritual, entre gentes com princípios e valores, apesar da grande percentagem de analfabetismo, existente nas décadas das: “ vacas magras”.
Vocacionado para o Sacerdócio, teve a sua formação, como tantos outros Sacerdotes, no Seminário de Bragança. Fisicamente de porte elevado, alto, magro, despachado, “ como se diz por cá. Residia em Soutelo Mourisco, deslocando-se a pés, para as suas Paróquias, com as intempéries invernosas rudes, rigorosas, neve, chuva e ventos, impostas pela altitude, e a Serra da Nogueira. Jamais vacilou, e nunca renunciou às suas obrigações, passando horas nas suas longas caminhadas, derivado aos percursos, os quais com seus largos e rápidos passos, devorava sem receios nem preconceitos. Tinha uma particularidade, exprimia-se com tanta rapidez que muitas pessoas não captavam tudo do que ele dizia.
Numerosas vezes o viram passar em direcção à estação de Rossas, sempre apressado nos seus largos passos, talvez apanhar o comboio numa visita à cidade ou ao Seminário. Familiarizava-se facilmente com as pessoas, entrava nas casas delas, e não se acanhava a levantar o testo do pote ao lume, para cheirar ao mesmo tempo que perguntava: que temos hoje para o almoço? Subsistia com poucos meios em relação aos colegas, que lhe chamavam: o padre pobre… pelo facto de se contentar com os magros donativos dos Paroquianos, não quebrava tostão pelos baptizados, casamentos, e algumas missas ou responsos. Só já bastante tarde, adquiriu uma moto, e depois um automóvel velho que nem a salve-rainha.
Também tinha os seus defeitos e pecados, mas, ainda hoje, em Murçós se evoca o nome do P.e Batouxas, como flexível, moderado, sempre disposto a ajudar, sem ambições desmedidas, acções repressivas e vaidosas.
Aos 10/7/ 1989 mandou edificar uma cruz gigante para comemorar o dia das comunidades, num local escolhido a condizer com o seu significado; o cruzeiro. Por aqui passavam a maior parte das pessoas que viviam nas comunidades mesmo longínquas. Infelizmente, como o Padre Delfim, também os festejos neste lugar passaram ao esquecimento… talvez porque não revertiam fundos suficientes para os cofres Diocesanos, assim, os convívios perdiam todos os interesses.
No Lar de Cabeça Boa, o Padre Delfim, envelhece cada vez mais, juntamente com as recordações de ter feito e propagado o bem, recebendo em troca, ignorância que a justiça humana fabrica ao abrigo do orgulho e da ingratidão.
Honra prestigiosa premiada com a medalha humanista e justa.






6 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Deste-me uma boa notícia, porque eu pensava que o P.e Batouxas já tivesse falecido. É que me lembro sempre de ouvir falar dele na minha infância, o que já foi há muito tempo... Eram histórias bem humoradas!

Dele, lembro-me de o ver passar em Rebordainhos a caminho de Rossas, a cavalo, vestindo a sotaina preta. Uma vez, não sei a que propósito, fui a casa dele, um lar modesto, mas cheio de coisas que recolhia nas suas andanças: fósseis (é o que mais recordo) e objectos antigos a que ele dava valor. E que tinham, certamente, valor científico.

Obrigada por mo lembrares e por prestares esse serviço de preservação da memória das pessoas que o merecem.

Beijos

antonio disse...

Desta vez não quero faltar ao meu dever... obrigada pela visita, e tudo o mais que tens feito, tanto na divulgação como na informação, por este canto de amador, mas, com força de vontade e desinterese de rentabilidade... gostava que as pessoas não se acanhacem, comentassem e me enviassem publicações relativas a esta terra, mas isso já é facultativo.
Quanto ao Padre Delfim, é uma pessoa que merece todas as considerações, pelo desempenho e dedicação às terras e gentes, destas bandas. Também eu visitei o seu lar em Soutelo, quando estava com o padre João e depois, quando lhe fiz um pedido para intreferir no internamento do meu pai junto de um irmão que residia no Porto, a fim de ser operado para a colocação de uma protese, pelo que só lhe posso agradecer. Ele fez o meu casamento, e não era Sacerdote de chichi, resolvia rápido e sempre a favor dos desfavarecidos. Vi-o na Serra há 3 ou 4 anos, já acompanhado, porque a idade já é muita, mas, não é do meu conhecimento que tivesse falecido, tanto mais que o povo de Murçós deve-lhe muito para deixar passar a ocasião de demonstrar que também foi por cá muito querido. Beijos

Miguel Batouxas disse...

Boa noite,
Sou sobrinho-neto do padre Delfim Batouxas e é com muito orgulho que leio esta merecida homenagem.Apesar de ser muito novo e nao ter convivido muito tempo com o meu tio ja ouvi falar das historias caricatas que a ele dizem respeito, do seu sentido de humor, de justiça e solidariedade. O meu tio vive no lar da Betânia, apesar de fisicamente bem, ja muito "esquecido" relativamente a factos mais recentes, guardando, contudo, as memorias mais antigas. Apesar disso mantem o seu bom humor e é uma optima companhia para aqueles que com ele convivem, pelo que, lanço o convite para que todos aqueles que guardam dele boas recordaçoes, o visitem!Já agora aproveito para informar que no 1ºVolume da 'Bibliografia do Distrito de Bragança' lançada no passado dia 20 de Fevereiro existe uma referencia ao meu tio nomeadamente em relaçao á sua obra bibliografica - homenagem justa!
Uma correcçao, o meu tio é natural da Burga e não da Cardanha. O irmao a que se refere era o meu avô, que ja faleceu, mas que tanto quanto sei procurava ajudar, no porto, o meu tio nessas acçoes de solidariedade para com a 'sua gente'.

Cumprimentos, Miguel Batouxas

antonio disse...

Obrigado Miguel pelo seu comentário elucidativo relativamente a certas informações, nomeadamente a da naturalidade do Sr. Padre Delfim. Vou rectificar este erro, pois todos nós gostamos do lugar onde nascemos, e também por uma questão de justiça, da qual ele é fervente defensor...vou igualmente tentar saber onde fica exactamente, o lar onde reside, " supunha que fosse em: Cabeça Boa ?" para que as pessoas amigas, e são numerosas, o possam visitar. Quanto ao teu avô, que sua alma descanse em paz,era também um homem com grande coração... conheci-o após a operação do meu pai, que nos visitou, juntamente com o irmão...também vou tentar localizar a Bibliografia de que me falas, e publicá-la.
Imensamente grato pela visita, e permite-me um abraço amigo...

cristiana batouxas disse...

Sou sobrinha do Padre Delfim e informo que,lamentavelmente,faleceu hoje.O funeral sera no proximo dia 12/01 na Burga.Fica a memoria de um Homem humilde e solidario,que dedicou toda a vida "às suas gentes"...

antonio disse...

Olá Cristina! Apresento-lhe os meus sentidos pêsames, apesar de o ter feito pessoalmente ontem na Burga, que suponho, estivesse com os familiares, na casa da Junta. Foi deveras emocionante, apesar do mau tempo que sempre preseguiu seu tio, contra o qual ele lutou nas travessias invernais da Serra, sem vacilar...paz à sua alma.
Obrigado pela visita e informação que a gente de Murçós prezou com dever e obrigação...