Noutros tempos, quando nós eramos pequenas, dizia-me a tia Aurora e a tia Maria Bárbara, com oitenta e tais anos, já proximas dos noventa, a vida era outra... nossos pais faziam-nos trabalhar como nêgras...depois vieram as minas, e, tudo mudou para toda a gente.... começou a haver dinheiro, os obreiros ganhavam e gastavam... os comerciantes esfregavam as mãos, e a animação na Aldeia era de convivio, alegria, e prosperidade. Havia pessoas que viviam amontuadas numa pequena casa sem compartimentos, algumas delas terreiras! Comia-se a "côdia" e o caldito, e lá caminhavamos por caminhos áridos, gelados no inverno e abrasadores no verão.
Tantos sacrifícios, meu Deus! Mas valeu a pena... deixamos aos nossos filhos uma educação que vale mais que quantas fortunas há...
Voltavam da Igreja, onde como todos os dias assistiam ao terço pelas almas, juntamente com mais duas ou três mulheres, já que a desertificação da juventude se acentua cada vez mais, e os mais idosos vão partindo... restam duas dezenas de reformados quase todos do Estrangeiro, para onde se deslocam a passar o inverno no conforto das terras evoluidas, junto dos filhos ou netos.
Os Outonos sucedem-se e a monotonía aldeã revela-se cada vez mais solitária... quase arrepiante, passar rua abaixo e rua acima, e nem sequer se encontra um homem assentado nas baras de um carro a ler jornal... como dizia o presidente da junta de Soutelo Mourisco. De tempos em quando vem um ou outro emigrante passar uns dias, mas apesar das saudades, resta-lhes apenas o sentimento de quando eram putos e brincavam ao." burro pelado, rou-rou e outros divertimentos daqueles tempos.
AS FOLHAS
Eu vejo você girando ao vento,
Como dançarinos graciosos
Os ” tutus” brilhantes.
N’uma dança frenética,
Que vos leva loucamente.
Sua vida é muito curta e tão bonita
Infelizmente, sobre a melodia,
um vento frio do outono e chuva.
N’uma última explosão, gritando para a vida
Você gira subindo para o céu,
Mas o vento volta agarrá-la.
Gentilmente resignada,.
Você cai, é uma agonia.
Bonitas, bonitas folhas de outono!
Mas o vento volta agarrá-la.
Gentilmente resignada,.
Você cai, é uma agonia.
Bonitas, bonitas folhas de outono!
Também a agricultura sofre as consequências agravantes, só a poder de rega se conseguem aulguns frutos e legumes para a sobrevivencia dos Aldeões.
Os medronheiros em flor e fruto fazem rejubilar de prazer os olhos que por todo o lado vê as folhas cair, porque assim é o Outono.
4 comentários:
António
O Outono põe-nos assim! Melancólicos.
A melancolia é a porta de entrada ou de saída da tristeza. Pode ser até o prenúncio de qualquer coisa que nasce ou o sentimento final de uma perda. A melancolia é tristemente suave se não se instalar definitivamente, porque se persistir, impedir-nos-á de viver intensamente a vida, o mundo e as pessoas que nos rodeiam.
Um abraço
Eduarda
Olá Eduarda! Tinha já saudades dos seus comentários tão dignos esclarecedores dos sentimentos invasivos e repletos de realismo... para além da melancolia existem outros factores agravantes frutos da vitimização Aldeã. A monotonia mina-nos lentamente, enquanto o tempo se escapa pelo orifício místico da ironia infinita que nos projecta na disparidade.
Mas, deixemos a filosofia a seus donos e a teologia a quem pratica... Encontrei a tia Lúcia enquanto apanhava as castanhas, e diz ter ficado imensamente grata pelas poucas palavras que lhe dedicamos nos comentários do blog. da terra. Perguntou-me se a conhecia... andava com o irmão Orlando.
Bem haja pela visita e espero ver muitos textos no seu blog.... sou notificado quando há um novo e já tempos que não escreve. Abraço
Tonho
Começando pelo que escreveste à Eduarda: também a mim a Lúcia se me dirigiu, agradecendo aquilo que escrevemos. Confesso que me comoveu e balbuciei apenas que não tínhamos feito mais do que a nossa obrigação.
Depois o teu artigo, mais uma vez repleto de sensibilidade. Como sobre isso já falou bastante a Eduarda, limito-me a dizer-te que soltei boas gargalhadas por me teres feito lembrar a saída do presidente da junta de Soutelo.
Beijos
Olá Fátima: a tia Lúcia é realmente uma pessoa extraordinária, que eu sempre admirei... desde o tempo da doutrina, que ela ensinava como catequista, passando pelo sofrimento do marido, Albino, que ainda hoje ouço, aos gritos, martirizado por aquela maldita doença, e ela, suportou todo este calvário com dignidade, carinho e amor, enquanto três filhos pequerruchos a olhavam com inquietação, embora não compreendessem ainda as dimensões catastróficas, que o destino ou fatalidade escolhera para vitimas, inocentemente, injustamente.
- Não foi nada demais, a senhora merece mais que ninguém... respondi-lhe eu, enquanto ela humildemente dizia não merecer...talvez um dia alguém escreva um texto digno dos seus méritos?
Bem-hajas pela visita, e não me leves a mal se ainda não escrevi nada no nosso cantinho... espreito todos os dias, e lamento imenso que as pessoas não comentem qualquer que seja a razão... beijos saudosos
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