quinta-feira, 22 de novembro de 2012

TASCAS DE MURÇÓS

 




Estas são algumas das tascas que exerciam a honrosa profissão em Murçós da minha lembrança. Outras existiram antes, segundo informações dos mais velhos, onde se bebia um copito e jogava às cartas, talvez a mais recordada do Sr.Albano.



 A que vemos na foto à esquerda, foi propriedade do Sr. João Tores, enquanto viveu, e, ainda hoje a tia Marquinhas vai vendendo umas bagatelas, para manter a tradição dos pequenos comércios, onde se encontrava de tudo um pouco, e também para matar saudades do tempo em que as pessoas chamavam do fundo das escadas, a qualquer hora do dia ou noite, e eles desciam ao "soto" servir: um kilo de pregos, de açúcar, cem gramas de pimento qeimão, um molete de trigo com três orelhas, meio quartilho de vinho ou de gaz para as candeias, uma coroa de rebuçados, e tantos outros produtos adequados às necessidades do povo...era vulgar os clientes chegar e perguntar: Tem isto? Tem aquilo? Entravam para o anterior, davam dois dedos de paleio, enquanto esperavam ser servidos. Também alguma clientela vinha abrigar-se das intempéries, em volta de uma mesa, e por debaixo a braseira bem acesa para aquecer o físico e o espírito...
 O sistema de publicidade, simples, barato e astucioso, informava a clientela que passava na grande rua e desconhecia o tipo de servitude dos comerciantes, como se pode ler por cima do nome da rua, realizados artesanalmente! Chamava-lhe na altura cervejaria, porque era mais moderno e chic, deixando para trás: taberna ou tasca! O estabelecimento estava dividido em duas, e mais tarde em três peças, com balcões no intermédio a dividir: Café-bar, taberna, e soto onde se encontravam os produtos alimentares e outros, em bazar ou sobre umas prateleiras colocadas para melhor orientação.
Esta pertence à tia Elisa, aberta bem mais tarde, de regreço do estrangeiro onde residiu algum tempo. Aqui existe já um bar, sala com mesas, e noutro compartimentos o que se pode considerar um minusculo super-mertcado... misturam-se produtos alimentares com os da limpeza, ou mesmo tóxicos, mas, as circunstancias a tal obrigam, já que o espaço é restrito, e a clientela numerosa, acorrendo aos bons preços praticados, embora com algumas reticencias referentes a certos factos...
Actualmente, creio ser a que mais vende, porque a crise também se verifica por cá!
Como o comércio só por si não permite à sobrevivencia do casal, aproveitam para trabalhar os prédios agricolas, aproveitando a clientela para o fim do dia, ou cedo pela manhã, para fazer as compras.
 Aqui para também o carteiro todos os dias para abrir a caixa do correio, perguntar nomes que desconhece e refrescar-se em tempos quentes.
A tia Elisa tem várias faculdades serviçais. A de enfermagem, administrando injecçõse a quem solicita os seus serviços; celebração da palavra nos Domingos em que o padre não aparece...
Mulher simpática, inérgica, e sempre disposta a servir o seu próximo, embora goste também de palavrear de tempos a tempos!
Em Murçós existem quatro estabelecimentos do género.

Murçós foi uma das freguesias mais populadas do concelho de Macedo de Cavaleiros, e, enquanto funcionaram as minas, das mais abastadas financeiramente. Aqui matavam-se vitelas que eram vendidas num fim de semana, borregos, cabritos e outros meios alimentares, que os comerciantes não desdenhavam, por saberem que havia dinheiro fresquinho para pagar...
Ainda hoje passam por cá cinco padeiros vendedores ambulantes por semana dois talhos rulantes dois vendedores de frutas legumes e outros produtos alimentares quatro vezes por semana; dois peixeiros, dois carros de congelados, para além dos fornecedores dos comércios permanentes... até os tendeiros vem visitar frequentemente Murçós! Como podem verificar, não estamos isolados, temos serviços a domicilio, e a carreira todos os dias para Macedo. Se é verdade que a população envelheceu, e a juventude procurou novos horizontes, não é menos verdade que todos os fins de semana se juntam desenas de pessoas no Outão, lugar mítico de numerosas e agradáveis recordações.

4 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Bom dia, Tonho

Com efeito, as antigas tabernas tiveram de se modernizar para dar resposta às exigências dos tempos. Não sei se o espírito é o mesmo, (não posso fazer muitas comparações porque, na minha infância, só os homens frequentavam a taberna), mas os cafés parecem-me mais democráticos porque se abrem a toda a gente, permitindo maior convívio.

Beijos

antonio disse...

Fátima: para os mais novos, isto das tascas até pode fazer confusão... contudo na minha memória está guardado um lugar convival, mesmo havendo zaragatas de tempos a tempos. Eram as pipas de vinho a entrar e a sair, rolando por cima de uns paus, o calor da braseira, o cheiro a tabaco e vinho... mas, sobretudo um lugar mágico onde podíamos comprar uns reboçaditos quando abezavamos uns tostões!!! Os cafés vieram com a evolução dos tempos e das mentalidades, sendo mais um elemento de ficção ignorante, sobretudo nas cidades onde ninguém se conhece.
Grato pela visita beijos.

jorge ferreira disse...

Boa tarde!as
Não conheço Murçós, mas,na minha opinião as tascas são centros de convívio sem igual.Também a nível de gastronomia são o máximo.Eu dou a minha opinião e nem sequer bebo bebidas alcoólicas.

antonio disse...

Obrigado Jorge Ferreira pela sua visita e expressar o que lhe vai na alma referente ao meu texto. Não sendo de Murçós, ou não conhecendo, é para nós uma honra comentar... efectivamente, em certas tascas serviam os peixinhos do rio em escabeche, uma alheira caseira ou chourça... enfim... petiscos regionais com abundancia e naturalidade. Com a evolução dos tempos e o dinheiro que abunda, tudo é hoje diferente... Cumprimentos