perpetuar, ouviu-se um pintassilgo cantar, sem orquestra a acompanhar, para ninguém poder testemunhar, já que o passarinho não poderia falar… neste enlace silencioso de profundo amar, passaram apresados outros dias outras horas, de ternura e felicidade, vividos com tanta simplicidade e discrição, num canto escuro de uma noite sem luar, no bailarico saloio de uma festa local, junto à fonte de água fresca cristalina, no solheiro de escadas em ruinas, numa imprevista viagem à estação de caminhos-de-ferro, acompanhados por anjos os quais iriam aos pais jurar- que tinham ido sós – mas, aqueles ciprestes ainda meninos, ambos sabiam que podiam contar, as lágrimas derramadas por ele recusar, fugir consigo para África, para livremente se poderem amar. A vida foi tão madrasta com a vossa maravilhosa história de amor…tantas e tão dolorosas foram as separações, que nem a senhora do Remédios conseguiu conciliar, mas, sempre que se reencontravam, não eram necessárias palavras… apenas um
ligeiro trocar de olhar para recaírem na doença que os contagiou eternamente! Eram então adolescentes. Ela recusou categoricamente o seu primeiro pedido de namoro, debaixo daquele cabanal, já a noite caía, e o medo de um não, invadia o seu espirito… tremia como “varas verdes” e as palavras não se queriam soltar da sua boca… e a desilusão foi tão penosa! – Nem pensar – respondeu ela ao seu pedido; e ele tão humilde e vulnerável, senti u o peso do céu que lhe caía sobre a cabeça… voltou para casa de cabisbaixo, surdo e mudo, teve uma noite para esquecer…
No dia seguinte, mandou-lhe uma carta por uma amiga onde explicava aquele “não” que tanto o fez sofrer, e o primeiro amor começou assim. Também o primeiro beijo marcou a jamais este amor puro e complexo, onde a paixão superava tendencialmente a obstrução… Havia entre eles aquilo que os jovens de hoje chamam “química” que não suportava outros componentes,
estranhos, insólitos, insignificantes. E os dias, os meses,
os anos foram passando a um ritmo rápido ou lento segundo as perspectivas
ocasionais. Nunca existiram projetos futuros no seu vocabulário… viviam de “amour
et d’eau fraiche”… E numa noite de luar onde os dois se foram encontrar?!
Naquele ditoso lugar, onde ninguém poderia passar… nem interromper os
pombinhos, um deles prestes a bater a asa, seguindo outros caminhos – ela suplicava-o
a chorar, para não partir e a deixar – ali naquela pasmaceira, sem os seus
ardentes beijos, nem o calor dos seus braços, ficava desfeita em pedaços…Pelo
rosto angélico de formusura, que o luar banhava de misticismo abstrato, corriam
ligeiras gotas de água desaguando no lenço que retirou do bolso, e num vaivém
de indecisões, se pode compreender a crueldade das despedidas. Porém, já alta
noite caía, quado a donzela se foi encontrar com o seu amor, e lhe jurou que ia
com ele no dia seguinte. Incrédulo, apertou-lhe as mãos, beijou-as e levou-as
ou peito, onde batia loucamente um coração apaixonado, enquanto se desvanecia
um sorriso triste para deixar lugar à alegria e felicidade.
8 comentários:
Ainda bem António! Ainda bem que, conseguiram fugir e ficar juntos! Ou não?
Cumprimentos
Apenas por algum tempo... obrigado pela visita e comentário. Cumprimrntos
Se foi só por algum tempo é porque, o coração dos dois não se tocavam. Quando o amor existe, torna-se o ingrediente mais importante da vida, e é a própria porção mágica da Felicidade. Se ele existe, é para todo o sempre e, aumenta cada vez mais!
Que pena António!
Meu caro anónimo: um romance de verdadeiro amor, cuja paixão invade cegamente dois entes, pode encontrar pelo caminho diversos e variados argumentos tendencialmente opostos à realização de projetos concretos. Desfaz-se o que não foi ponderado… há desilusão porque o imaginário superou a realidade… volta-se à casa de partida, e continua-se a procurar a tal porção mágica para atingir a Felicidade… não se deixa de amar, é verdade, porém, ainda que esse amor aumente, e seja eterno, podem os corações tocar-se às escondidas e até submeter-se ao adultério por conveniência protocolar. E mais não digo por agora… Grato pelo seu comentário cuja observação integra a lógica… atenciosamente.
António,
Quando não se partilham metas de vida em comum, o mesmo objetivo, o mesmo entendimento, as mesmas prioridades, valores e objetivos então, essa pessoa, não nos ama. Por vezes, confundimos pura atração física com o amor.
Os amantes felizes não têm fim nem morte, são eternos como é a natureza!
Cumprimentos
Tonho
"A certa altura fizeste-me lembrar um soneto lindíssimo de Camões: "Aquela triste e leda madrugada" até porque a separação pode ser uma outra forma de amar. É assim o poema:
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de ũa outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que, duns e doutros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas."
Beijos
Sr. anónimo:como não podemos ler no intimo das pessoas, também não nos é permitido fazer um julgament, mesmo com os argumentos que cita, e a priori, estão certos.
concordo com a última linha do seu comentário ( Os amantes felizes não têm fim nem morte, são eternos como é a natureza!)
Obrigado pela visita. Cumprimentos
Fátima: o soneto é belíssimo! Sinto-me lisonjeado com a comparação, e gosto das tuas visitas, mesmo sabendo que tens pouco tempo livre, porque o teu saber enrriquece os meus rascunhos. Bem hajas. Beijos
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