domingo, 27 de setembro de 2015

Castelo mágico



 Viver eternamente n'um destes castelos, é talvez um sonho louco, ou a loucura de um sonho, tal como visitar a Lua n'uma dessas naves rapidíssimas, onde a gravidade nos permite cambalhotas sem tocar o solo, viver de pernas para o ar, dispersar os sentimentos dolorosos, imaginar que não existe mais ninguém capaz de vos trair, acusar, martirizar, cobiçar invejosamente, o pouco que vos foi acordado... imaginar que nada nem ninguém vos pode atingir com palavras transformadas em balas, propósitos lançados por canhões de dimensões gigantescas, misseis direcionados com tanta precisão que atingem o alvo em frações de segundos. Lá longe, envolto pelas nuvens refrescantes, tocar o céu azul como quem toca uma pedra preciosa, beijar a imensidão dos oceanos com lábios de uma elasticidade dimensional... Respirar a pureza... a preciosidade iluminante que transforma um olhar traiçoeiro num atraente enlaçar de corpos...onde os lábios sentem a doçura do beijo... os braços o calor do amor fazendo desfalecer momentaneamente o coração que bate ao ritmo carinhoso de uma palavra solta inaudível, sem eco, inconsequente.
Cai a noite sobre telhados que em tempos abrigaram famílias numerosas, ruidosas, e hoje caíram n'um silêncio de abandono ou morte! A flor que abre com o sol e se fecha com a aproximação da escuridão, permanece ainda agarrada à esperança de um novo dia... Mas as raízes vão apodrecendo insaciavelmente... e o tronco verga e vai acabar por cair. Do alto do meu castelo, (chamo-lhe meu mas não é) vejo as pessoas fugindo até à exaustão, carregando ao colo uma criança que chora, com fome e sede, sem saber, nem compreender a crueldade da humanidade, Como manadas de gado, levados pelo desespero não escolhem a direção... Olham em frente e são rasteirados... Caem, levantam-se, e os insensíveis veem-nos como assaltantes dos seus bens... com desprezo e uma réstia de esperança que fiquem por lá... longe, com fome sede ou frio, importante é não serem importunados com os problemas dos outros... do alto do meu castelo gostaria tanto poder atenuar tamanho sofrimento... mas, até ele abandona os necessitados... diluiu-se como uma bola de sabão, e eu caí na cruel e dolorosa realidade da monotonia diária.



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