quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Saloio parte I
Saía pela 1ª vez da terra onde nascera o saloio Trasmontano,
vestido de fatiota comprada na feira, calças de cotim, camisa de riscado,
sapatos emprestados para oito dias que era o tempo definido com o exame de 4ª
classe. Via também pela 1ª vez o comboio de perto 10 anos depois de o ouvir
apitar, junto ao túnel, ou já perto da estação e de avistar ao longe aquela
fumaceira a sair pela chaminé, juntamente com o ruido típico de “pouca terra muita
lenha” cujas imitações despertavam o interesse da garotada. Teve uma sensação
estranha ao entrar no cais onde outras pessoas esperavam já de bilhete na mão
aquele monstro de ferro, deslizando pelos carris de via estreita. Assentou-se
no primeiro banco de madeira repleto de manhas negras, deteriorado pelos
numerosos passageiros que por lá tinham passado. Olhou à sua volta
discretamente e com a timidez de quem não se sente à vontade em propriedades
alheias, sem balbuciar uma única palavra, viajou imóvel até à cidade, seguindo
a pés para a estalagem onde iria ficar durante esses dias em troca de uns
escudos previamente negociados por uma familiar. No dia seguinte às 9horas
devia comparecer na escola onde teria de ser examinado pelos professores, mas,
apesar de ter saído da estalagem antecipadamente, não conseguia localizar
aquele maldito edifício, valeu-lhe a ajuda de uma moça, para chegar a tempo.
Aprovado na prova escrita e oral, voltou para a pacatez onde viveu, sentindo
esmorecer aquele sentimento de liberdade juntamente com a esperança de sair
daquela toca rotineira onde nunca se passava nada de novo.Foi na década 60, a pobreza rondava as Aldeias do Nordeste
Transmontano sobretudo a numerosa população, que vivia precariamente com poucos
meios, explorando o cultivo dos terrenos, com a batata, centeio, trigo e a
castanha paga a preços pouco elevados, razão pela qual servia para a nutrição animalesca.
Época chamada hoje de Salazarista, ditadura governamental, não se podendo abrir
a boca não sendo à feição desses governantes. Porém, para um puto de 11 anos, o
mais importante não era a política. O saloio via partir para instituições religiosas
nomeadamente para a Congregação de São Francisco de Sales, toda a rapaziada
onde lhes era facultado o privilégio de estudar supostamente para Padre quase
gratuitamente(https://pt.wikipedia.org/wiki/Salesianos)
com a ajuda de conhecimentos e pedidos, mesmo sendo destinada aos pobres e
desfavorecidos. Por lá se ficavam os lafraus até atingir um nível escolar
bastante elevado onde o latim favorecia mais tarde as equivalências, sobretudo
em Português via ensino. »»» continuação
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