domingo, 15 de março de 2020

Eu e a natureza

Hoje, só a natureza me apraz… porque me sinto tão só? Neste vazio de pranto, que veste de negro a alegria, que noutros tempos sentia, e de silencio a voz, por já não haver quem a ouvia. Os risos e as gargalhadas, soltos ao vento que passava, levando-os já não sei bem para onde, nem quem deles desfrutava? Já não me vejo nos passos, tão longos que outrora dava, caminho pela estrada sozinho, tal como um pequeno menino, que aprende a andar sem destino, e em tudo tropeçava. Agarro-me ao nada e caio, levanto-me sem forças nem alento, são tão pesados os anos, que carrego do tempo… e dos amores partilhados, daqueles encantos sagrados, dos lugares onde vivi, cenas de filmes cortados, e na ternura de um beijo furtado, estremeço e acordo, daquele sonho tão lindo, puro, mas de uma leveza singela, transportado num barco que navega no ar, por já não haver água a bordo. Já não tenho terra, nem casa onde me abrigar, sinto um aperto no peito, e os olhos a lacrimejar… quem com tanta
intensidade viveu, e tão brioso caminho percorreu, não tem direito a lamentos, devendo aceitar os sofrimentos, por ter sido lindo o destino seu. Quem foi rei, quem foi mendigo, quem tão profundamente amou e foi amado, quem tudo teve e tudo lhe faltou, e com a ajuda de Deus superou, percorrendo horizontes ilustres, atingiu o destino marcado… vivo hoje com as lindas recordações, viajo sem sair do meu quarto, jogo à bola descalço no pátio, sem equipa, sem bola nem fato… o treinador não vem ou chega tarde, e a relva descorou, há buracos que a ratazana abriu, perderam-se as palestras, e ninguém as encontrou. Já não ouço como em tempos ouvia, a garotada na rua a brincar, os cães deixaram de ladrar, foram atrás dos donos, e nunca mais querem voltar? Se as ruas perderam o brio, e as portas das casas se trancaram de vez, que se levantem as pedras, e as calçadas voltem às estrumeiras, e os lugares esqueçam

aquele que tanta falta nos fez… voltar ao reino maravilhoso, para extrair a cortiça, ao que ladeia os sobreiros, àqueles lugares de magia, onde a água da ribeira, corre discreta, por entre o arvoredo sem cobiça, E os moinhos que tanta gente alimentaram, foram esquecidos, abandonados, como nós seremos um dia, porque não há paragens na vida, seremos encarcerados… em instituições de desapego, fitando as paredes, horas sem fim, esperando as visitas que não vem, sem sorrisos sem agrado, quem terá pena de mim?






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