sábado, 25 de abril de 2020

25 de Abril

 25 De Abril 1974
Como todos os dias, saí de casa, no bairro de Quebrantões, em Gaia, tomei o autocarro para a Avenida dos Aliados, onde frequentava um curso profissional numa instituição privada. Murmurava-se, no interior, com aquele medo que nos perseguiu durante tantos anos no regime Ditador Salazarista o que se ouvira na rádio. Falava-se entre dentes de uma revolução de capitães, cujo código teria sido a cação de Zeca Afonso, Grândola Vila Morena, mas os olhares tímidos e receosos, procuravam através das janelas a verdade. Numerosas pessoas movimentavam-se, umas temerosas outras receosas, mas aquele frenesim, era tudo menos peculiar. À entrada da ponte de D. Luís, (tabuleiro de cima) uma grande quantidade de militares armados com G3, e os canhões da pesada logo ao lado apontados como se de uma guerra se tratasse. – Andam armadilhar a ponte – aventurou-se um homem dizer, bem informado andava do que se passou às duas da madrugada – para que a revolução não passe para o lado do Porto. Chegados à estação de S. Bento, a confusão era cada vez mais densa, grupos de homens correndo atrás de guardas e polícias, armados de armas brancas, e estes tentavam regressar ao quartel situado nas fontainhas… gritava-se por todo o lado o slogan: LIBERDADE. LIBERDADE. Eu ingénuo e inocente furei por entre os revolucionários, e entrei para a escola, mas já os professores vinham saindo fechando a porta, ao mesmo tempo que aconselhavam o regresso às nossas casas o mais rápido possível porque poderia haver
 consequências gravíssimas para a população. Já não conseguia passar para tomar o autocarro, nem sequer me deixavam aproximar do tabuleiro de cima da ponte D. Luís. Resolvi, correndo ofegante, atravessar o rio Douro pelo tabuleiro de baixo da ponte, onde a confusão era menor, e como era jovem,” ó pernas para que vos quero” regressei a casa sem danos, mas com o coração a bater a 200 à hora, e segui através da televisão a evolução dos acontecimentos que felizmente correram sem derrame de sangue. Em Maio do mesmo ano fui chamado para o serviço militar, e durante o governo provisório liderado pelo General Spínola as coisas não correram da melhor forma salvo na educação Nacional onde os exames foram facilitados ao máximo, não havia provas negativas, porque os examinadores ajudavam, e muitos fomos os que usufruíram destas facilidades. A comemoração do dia 1º de Maio pela primeira vez, foi também um dia que me marcou, e o povo saiu à rua, agora livre em multidões por todo o território, clamando o que nos asfixiou durante tantos anos. Viva a liberdade, viva o 25 de Abril, e a democracia.




Sem comentários: