sábado, 23 de maio de 2020

À descoberta II

Por terras de ninguém II
Chamava-se Francisco, de nacionalidade Espanhola, vivia e trabalhava nesta fábrica, desde há muito tempo, era mais um emigrante, vindo de terras Galegas, com certeza á procura de uma vida melhor. Como tantos outros, também ele foi forçado a deixar os filhos entregues a algum familiar que cuidou deles, enquanto amealhava uns tostões e os enviava para os sustentar e tentar dar-lhe uma educação no meio social que ele e sua esposa não tiveram…o mais velho também nomeado Francisco júnior, completou os seus estudos, veio ter com os pais, e arranjou um emprego na mesma fábrica, nos escritórios, era alto, e tal como o pai, este pequeno, tinha uma paixão pelo futebol… não foi difícil integrar-se na equipa que o pai dirigia, uma grupo de jovens, de pelo menos cinco ou seis nacionalidades, praticando este desporto sem preconceitos nem atitudes discriminatórias, era um “hobby”, que nos fazia esquecer os horários de trabalho, e os lugares, alguns deles complicados. O “ passageiro” sentia-se, bem no seio daquela família desportiva com os mesmos objetivos, gostava do ambiente, admirava a
paixão do “mister” francisco, quer ganhássemos ou perdêssemos, o orgulho dele, era jogar com equipamentos e todo o material fornecido pela fábrica, lavado e passado pela secção desportiva, onde existiam vários níveis de competição, Numerosas foram as vezes em que o “passageiro” foi convidado para o repasto, cofeccionado à espanhola, naquela casa pequenina em Levollois Perret. Pouco tempo depois, as coisa em Espanha, com a destituição de franco, tornaram-se agradáveis, e a maioria dos colegas Espanhóis regressaram definitivamente ao país de origem, e nunca mais tive notícias deles.
Também na vida do “passageiro” tinham surgido outros compromissos radicais, que o mantiveram distanciado, por obrigações de serviço militar, durante três anos. Voltou novamente à fábrica onde trabalhou mais seis meses, apesar de ter voltado para o lugar que ocupava quando partira, bastante agradável e cobiçado por numerosos trabalhadores. Entretanto tinha conseguido os exames do seu CAP (Certificado de Aptidão Professional) para conduzir um táxi em Paris, e como adorava os desafios, foi nesta profissão que se extasiou,
onde encontrou a adrenalina, a felicidade, e a liberdade. Amante dos desportos, da música, e do teatro, tentou ingressar neles todos, com poucos meios e frágeis conhecimentos que o pudessem ajudar. Praticou-os todos e mais alguns, como o ténis de mesa, natação e ciclismo, modalidades amadoras mas já com um nível bastante elevado. Porém, o mais apaixonante era o futebol. Foi convidado para integrar uma equipa, depois de ter sido presenciado pelos dirigentes, que se chamava “Amical 17em”. Tinha já jogado algum tempo na associação Santulhanence que competiam na Federação Francesa de Futebol. Mas a um nível que não lhe convinha, embora tivesse feito neste grupo numerosos amigos. Aceitou a proposta do Amical 17em, onde jogou alguns anos como ponta de lança, afirmando-se mais tarde como defesa central indiscutível apesar do seu metro e setenta de altura Esta equipa era sediada junto da praça de Clichy, cujo presidente era também proprietário de um café, mas quem mandava naquilo tudo era o “coelho” homem com os seus sessenta anos, natural de Avintes,
 desguedelhado e magro, apaixonado incondicional deste desporto que rivalizava com outras equipas Portuguesas no mesmo campeonato e ao mesmo nível, o último que não se podia subir mais devido às formalidades exigidas que eram de só poderem jogar três estrangeiros. Eramos todos portugueses, do Porto lisboa, Minho, Trás-os- Montes e outras. Foi neste contexto bem amigável, como o nome do clube que eu fiz numerosos e grandes amigos… o “passageiro e o seu R5 partiram de Vinhas onde recolheu o Antas, casado em  Ponte da Barca, e o Américo, pequeno mas reguila, natural de Podame concelho de Monção, com o qual fui passar oito dias de férias, na casa da sua mãe. Entretanto encontramos o Nelo em Monção onde havia festividades, o qual nos convidou para a noite com umas garinas e uns copos, mais copos do que garinas, mas passamos uma noite memorável. No dia seguinte tivemos o convite do Astor, que residia em Vila Nova de Cerveira, casado com duas filhas, e outro colega casado na Arrifana. Com o R5 atravessamos uma serra medonha, supostamente um atalho e ao mesmo tempo para me mostrar as paisagens Minhotas. Chegamos a Cerveira bebemos um copo e descemos para o lugar das festividades. As malgas de barro e o vinho churro verde, apareciam-me nas mãos vindas não se sabe de onde, e mesmo com pouca graduação, misturado com uns whiskies, quando regressamos a Podame, que ficava a uns 70km, por volta das duas horas da manhã, o Américo que conhecia o caminho adormeceu, e eu naquele estado, sempre em primeira, porque via várias estradas, consegui, com a ajuda do meu R5, levar o barco a bom porto, mas já cantavam os galos quando chegamos. No dia seguinte tínhamos encontro marcado, eu, o Nelo, o Astor, o Américo e o Antas para ir ter com o Mister Coelho ao Porto para assistir a um jogo de futebol, e no dia seguinte o jantar da queima das fitas do filho que se tinha formado em Engenharia. Na sua bonita casa de Avintes, á noite depois do jantar, mediante numerosos convivas, reparei que os olhos daquele senhor brilhavam como estrelas no céu… quanta felicidade meu Deus! Aproximei-me a sorrir e com o olhar fiz-lhe aquela pergunta: como é mister? Respondeu a gaguejar, porque as palavras não saiam, e o coração apertava, apenas compreendi: hoje foi o dia mais feliz da minha vida.




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