quarta-feira, 8 de julho de 2020

Dia de sorte II parte

 Dia de sorte II parte (Ficção)
O Alfredo trabalhava, desde pequeno no campo. Estudar não era o seu incito predileto. Tendencialmente virado para engenhos, sempre com dedicação e empenho, vivia feliz, naquele mundo aprazível onde podia manifestar o seu interesse incondicional, uma libertinagem saudável, e um desejo profundo que lhe trazia alegria e felicidade. Foi contratado para trabalhar na herdade dos avós de José, uma grande quinta, lá para os lados de Chaves. Natural de Marco de Canaveses, onde residiam ainda seus pais e mais cinco irmãos, adorava a sua terra de beleza singular e costumes que trazia bem guardados no coração. Porém, encontrar trabalho na região tornou-se complicado e quando viu aquele anúncio no jornal, encheu-se de coragem, mas de coração apertado, por ter que deixar para trás momentos inesquecíveis da sua infância, a família que tanto amava, os amigos com quem cresceu, resolveu num impulso apresentar-se à entrevista marcada para sexta-feira 13 de agosto. Entrou para o seu velho carro, um Opel corsa com mais de vinte anos de existência, pôs o velho ponto azul a funcionar, e quando tinha já percorrido uns setenta kms, a velha máquina começou a soluçar, não porque tivesse também pena de deixar a terra, mas por supostamente uma avaria qualquer.
-Mau, Maria… murmurava o Alfredo, enquanto descia para ir ao motor ver o que se passava
O fumo saía como de uma cheminé de um comboio a carvão, o que era mau presságio, mas como era engenhocas, verificou que lhe faltava água, por conseguinte só lhe restava ir à procura, naquele ermo perdido. Andou cerca de cinquenta metros a sul por mato denso, e de repente chegou-lhe aos ouvidos o som de um ribeiro não muito longe, Encheu um garrafão plástico que andava solitário pela mala, voltou e refrescou o motor da velha carcaça, a qual precisou de várias tentativas para começar a trabalhar. – Bonito! Exclamava enquanto seguia viagem. Tinha percorrido poucos kms quando se depara com uma enorme vara de javalis que ocupavam toda a estrada. – Olha estes! Saiam daí que tenho pressa…
Só uma hora depois os animais, talvez já esfomeados resolveram, deixar a estrada mediante a satisfação do automobilista.
- Já não era sem tempo! Olha o relógio e reparou que estava atrasado para entrevista. Contudo acelerou para ganhar uns minutos, e numa curva mais apertada, encontrou-se com uma máquina agrícola de grandes dimensões que o obrigou a sair da estrada para evitar o embate frontal. Saiu ileso do acidente mas o automóvel teve de ser rebocado para chaves e o pobre Alfredo acompanhou-o- Porra!.. – Gritou ao lembrar-se – hoje é dia de azar…
Chegou à entrevista já passava das 15 h o que deixou mal dispostos os Avós de José, que por acaso também se encontrava na herdade de visita. Após numerosas e detalhadas perguntas, com uma ajudinha do neto, chegaram a um consenso, que se efetivou naquele dia mesmo, já que o rapaz tinha contado as suas aventuras para chegar até ali, e não tinha carro para voltar a casa. Foram-lhe mostrados os aposentos nuns anexos junto da herdade, com cozinha, sala de banho, quarto mobilado e o mais necessário para as suas comodidades.
Os dois rapazes simpatizaram um com o outro logo nas primeiras aproximações, e sempre que José tinha uns dias de férias, vinha visitar os avós, os quais repararam que o fazia mais frequentemente que de costume. Não se iam queixar, pois adoravam o neto e era recíproco o afeto.
Um dia, na casa dos seus pais, encontrando-se só com a mãe, aproveitou para lhe revelar que simpatizara com uma rapariga na faculdade, que saiam, e até já se tinham beijado.
- Isso é normal meu filho… quem é ela? Pertence a boa família?
Não sei. Nunca entramos em pormenores referentes aos familiares.
- Mas devias informar-te filho! Há por aí tanta gente a querer aproveitar-se…?
- Mas eu acho que gosto da Cindy…
- Gostar não basta… mas fica sossegado que eu vou tentar informar-me.
- Já nos beijámos, e…
- Também é normal. És um homem e como tal, não seria conveniente se fosses atirado por homens, para além da vergonha da família, e da necessidade de teres um herdeiro, que o Estado não se demora a levar o que lhe não pertence.
José ficou mergulhado em reflexões, pensamentos que o martirizavam, não conseguia encontrar a sua verdadeira identidade, e o que era mais conveniente, teria de ser posto em prática, independentemente dos custos futuros. Iria formar-se magistrado, e como tal, sacrificaria tudo quanto fosse necessário, mas jamais dececionaria a sua família, e uma profissão prestigiosa. (continua)




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