quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Sentimentos



Como resistir ao suposto lampejo dum ímpeto insensato que nos aproxima com tanta força e vivacidade onde o pusilânime dos atos me retém e o pávido me arrasta lentamente desprovido para um beco sem saída? O coração impõe mas a mente não retém. Deleitar-me-ia com o palato que Eva sucumbiu à tentação se me fosse possível adivinhar, até quando? Onde e para quê? Quebrar laços ternos de magia e de traição seriam atos de desatino ou benevolência? Hoje ouço vozes em noites medonhas impregnadas no íntimo que me provocam calafrios e acordo ensopado em camas do desejo, coberto com lençóis de remorsos, rotos, frustrados incentivos ao desertar por uma janela alta e mórbida já cansada pelo tempo que passou a vigiar injustos e injustiças, sem poder interferir, nem sequer manifestar uma opinião…

Não é justo perguntar-te: porque serei tanto do teu agrado? Quando te desejo, e me sinto perdido nos dias que não ouço a tua voz, através de um teclado virtual, imaginando-te longe e ao mesmo tempo tão presente no meu pobre viver! Sei que é um amor impossível, e mesmo sabendo, alimento ilusões como um adolescente vulnerável, inexperiente, mantendo acesa e viva aquela luzinha que surge do nada e que acaba por se apagar. Magoar-te alargando ainda mais esperanças vãs pena-me e exaspera-me, porém, necessito de tão pouco para ir vivendo! Sei que não tenho o direito, e sinto-me como o malvado intruso… o aniquilador execrado que surge no dedo apontado, se esconde em buraco infinito, e sofre em silêncio nas trevas do desespero. Fossemos ambos jovens e livres como os passarinhos… não tivéssemos responsabilidades e obrigações… e tudo se tornaria tão fácil! Mas, somos adultos, eu com um passado negro, o seu cândido imaculado; porque deveríamos manchar o que se manteve sem nodoas, branco, brilhante e virtuoso? Esquecer, esquecer, esquecer, esquecer para sempre.


 

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