quarta-feira, 14 de outubro de 2020

E... quando o outono chegar

E… quando as árvores se despirem, as folhas no chão caírem, e a serra de branco se vestir,

  lembra- te de quando eramos meninos, e procurávamos os ninhos, jogávamos ao pião, dias inteiros, por não termos para onde ir. E… na indigência vivida, que o deleite ternamente cobria, como nômades viajávamos no tempo, à procura da alegria. E… a herança de parcos quinhões, que a ledice substituía, perseverou sempre a esperança, mesmo que fosse aos trambolhões. E… quando já não houver pedras para pisar, nem encalhes para tropeçar, as andorinhas fugirem, daquele ninho confortável, não se sabendo onde foram parar. E… Quando os filhos vierem, para alegrar a casinha, damos-lhes tudo o que temos, mesmo o que tanta falta nos fazia. São… frutos que a vida nos deu, sonhos realizados, embalados em doces berços, adormecem com nossos fados. E… quando a hora chegar, de o ninho abandonar, e outras pessoas amar, fogem para nunca mais voltar. E… quando formos velhinhos, que já não 

possamos andar, bate-nos à porta um estranho, para nos levar a um lar. E… dentro da bagagem levamos, dois trapos para nos abrigar, porque nestes lugares mórbidos, nada mais podemos esperar. Aqui… ficam bem meus queridos pais, nós voltamos vê-los, para da herança tratar. E… a felicidade que o ninho embalou, em ódio e raiva se tornou, batem-se matam-se, como selvagens, pelos tostões que o progenitor amealhou. E… são tantas as dores, causadas pelos que outrora foram amores, é num turbilhão de espinhos plantados, pelos filhos seus agressores. E… de mãos dadas a tremer, trocam um olhar a lacrimejar, sentem frio, sentem o coração a bater, ao ritmo de quem quer morrer.

António Brás Pereira


 

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