quarta-feira, 28 de julho de 2021

Os nossos avós

Por terras do mundo maravilhoso

Foi já há muito tempo, quando se andava de pés descalços, por caminhos áridos e as pedras soltas martirizavam aqueles que apressados não reparavam sobre o que marchavam, soltando um aí de dor, mas já o dedo grande, sangrava, servindo-se de umas folhas quaisquer para o curativo do hematoma… voltava a pegar na enxada que punha no ombrito vulnerável, e seguíamos caminho pela canada da ribeirinha, vale de piteiras e múrio onde os ouriços secos, aguardavam um passo falso para ferrarem. O sol já ia alto começando a desidratar os caminhantes, mas, no múrio havia uma nascente, de água fresquinha e boa… havia um carreirão que nos levava a vale das vinhas, e depois até vale de miúça, onde a minha avó materna semeava batatas, já no limite do termo de veigas. Íamos regar as ditosas batatas com água acumulada num pequeno poço feito com a força dos braços. Já me não recordo quem me acompanhava, mas creio ser a minha irmã quatro anos mais velha que eu, e que vivia com a minha avó materna. De volta procurávamos alcaria (planta medicinal que

serve par infeções, chás dor de estomago, cujo nome científico crio ser: Platango major, em algumas terras “chrguacinha”) enchiamos um saco porque era uma zona onde abundava, e quase toda a gente utilizava de várias maneiras. À sombra de um carvalhal comemos uma côdea de centeio dura, e um pedacinho de queijo de cabra que a tia Mari da Graça tinha ofertado à mãe. Chegávamos a casa exaustos e aliviados do susto que o caminho tão longo por entre matagais, nos pregava. Já cerca da Aldeia ouviam-se carros a chiar, era a acarreja, para alguns já com tratores, rápidos e eficazes. A minha avó Lana, era assim que lhe chamávamos, era pobre e eu mal a conheci assim como o meu avô. Viviam numa pequenina casa no bairro da chave, criaram os seus quatro filhos, três raparigas e um rapaz, mas dois deles embarcaram cedo para o Brasil e o rapaz nunca mais voltou a Portugal. Deixou três filhos que a tia Dulce criou sozinha, com as dificuldades existentes nesse tempo? Eram assim os homens machistas de outros tempos, sem peso na consciência, e que eu não concebo que pudessem dormir descansados numa cama sabendo que

os filhos que reconheceu choravam dias e dias com fome!

Os meus avós paternos conheci-os melhor. Eramos vizinhos, ou melhor vivíamos numa dependência que lhes pertencia. Em dias invernais, embora as relações não fossem as melhores, ia para casa deles onde a lareira estava sempre acesa, mas ele com a sua bengala nem nos deixava aquecer os pés. Era uma casa grande onde residiam onze pessoas, netos de filha solteira e um filho solteirão que era quem fabricava para alimentar toda esta genteinha. Meu avô tinha um feitio esquisito, era rude com maus feitios, jogador e apanhava cada bebedeira? A minha avó era a mártir de serviço… levava pancada e era obrigada a pôr na mesa o que tantas vezes faltava. Também não era meiga connosco, nunca nos deu nem um copo de água para beber. Porém eram os meus avós e dedico-lhes este texto esperando que estejam bem em qualquer lugar, 

 
 

 

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