sábado, 7 de agosto de 2021

O Puto de Vale dos Amieiros


 O que ficou por dizer in: “O Puto de Vale dos amieiros”

O salto para terras de França foi uma dádiva divina, para o agora já rapaz que continuava vivendo nesta pacata e adorável Aldeia, bem perto da serra da nogueira, onde o vento soprava, em dias medonhos de inverno, gelado e veloz levando consigo sonhos mal aconchegados, esperanças desvanecidas, que só a neve que frequentemente caía, branca e leve, silenciosa, poderia testemunhar que persistiria para sempre, embora o afeto se revelasse incondicional, mas, quando se é jovem, damos connosco a imaginar maravilhas em outros lugares, que por muito que estiquemos a corda ingénua, permanecemos submersos e impotentes. Já não encontrou as dificuldades daqueles que emigraram anos antes, na linguagem, e nas residências construídas pelas próprias mãos com materiais residuais ou em abarracamento, nos lugares nauseabundos, aglomerados e com as mínimas condições higiénicas de sobrevivência. O que mais o assustou foi uma hora a pés por montes e terrenos
acidentados, já em Calabor, numa casa que acolhia dezenas de fugitivos, sobressaltou-o a entrada de um passador que dias antes tinha estado em Rebordainhos fazendo perguntas discretamente sobre os que tencionavam fazer-se ao salto? Não era recorrente ver pessoas bem apresentadas chegar num “boca de sapo” ( GS Citroen) estacionar no prado, e fazerem perguntas sobre a emigração, pelo que tomamos este homem por mais um Pide à procura  de informações, e como não se podia abrir o bico nestes tempos, havendo já dois exemplos com o tio João Santo que um dia levaram embora este homem fosse a pessoa mais abstrata a politicas e tinha uma casa das mais abastadas da terra, e outra pessoa que guardou inocentemente um panfleto de greve vindo de Paris.

Foi-nos acordado um salvo-condutos pela guardilha deste desta Aldeia e seguimos de táxi para a Poebla de senabra onde tomamos o comboio até Irum e aí com o suborno do passador entramos noutro táxi e os guardas fizeram vista grossa para passarmos. Em Hendaye, já território Françês foram-nos entregues bilhetes para Paris onde chegamos por volta das 2h da manhã. Entramos noutro táxi que nos levou a Cité des fleurs no 17m arrondissement, e o chofer gritou de fora Várias vezes: MR Martin? Até que o meu primo chico abriu a janela do rés-do-chão para ver o que se passava. Pagou e ficamos entregues.

Foi em 1968 ano de numerosas manifestações, e imensas greves que paralisaram a França, pelo que encontrar emprego revelou-se missão impossível. É com imensa gratidão que me dirijo ao meu primo Francisco e esposa que me suportaram durante um mês, sobretudo que a loja era pequena, dormindo no chão junto da cama deles que obrigatoriamente, durante este tempo não puderam fazer uma vida normal de casados.

Também tenho que agradecer ao António “pintasilgo” e ao Moisés que pediram emprego para mim na construção civil onde me foi feito uma carta de estadia e outra de trabalho, assim como segurança social com contrato de 6 meses.

 

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