quinta-feira, 3 de agosto de 2023
Dia de sorte 702 AB
Saiu de casa tão frustrado que não via nada nem ninguém. Vagueou pelas ruas desertas e escuras, entrou em bares e bebeu até cair num canto onde o álcool o aqueceu e adormeceu cheio de dores no coração.
No dia seguinte dirigiu-se à prisão e sujo por dentro e por fora pediu para falar com o pai que não ficou surpreendido ao vê-lo, parecia que o esperava. Já tinha conhecimento do nascimento da menina e das peripécias advindas. Também estava a sofrer com a situação, mas os seus olhos derramavam lágrimas de felicidade. Disse apenas: perdoa-me filho
- Ainda tinha esperança que o perdoasse? Nunca nesta vida. Agiu como um adolescente irresponsável e asqueroso quando vendia mentiras e andavam com homens, nem sequer respeitou a promessa feita ao seu pai. Esperava uma filha que já amava profundamente, como poderia amar a filha da traição como minha irmã? Diga-me. Não fique calado. Sei que não está arrependido, e que esta sim será a sua filha adorada, depois de me ter tratado como um rato como se eu tivesse culpa? Aqui fica a minha despedida para sempre. Nunca mais os quero ver nem ouvir falar. Dentro do meu coração vai uma sensação de órfão do mundo.
Fred, filho não digas essas coisas… pondera e tenta chegar a um acordo com a mulher que te ama a ti e não a mim…
-Seria pedir-me o inferno que foi toda aminha vida e continuará a ser enquanto não fechar definitivamente os olhos.
Fred?...
Tinha voltado as costas, não via nem ouvia. Pediu para lhe abrirem a porta da prisão, e já cá fora um raio de sol veio encandeceu-o sem saber para onde ir nem o que que fazer? Precisava de roupa e comida para entrar pelo mundo onde pudesse esquecer, mas não desejava ir a casa e encontrar-se com a mulher que considerou e hoje a desprezava. Lembrou-se que ela estava internada o que facilitava para ele retirar algumas coisas úteis mais urgentes, desleixando tudo o resto que não cabia nas suas más recordações. Ia a sair com um grande saco às costas quando os pais da mulher apareceram em choros. Não foram necessárias palavras, também eles foram traídos e curvaram-se para se despedirem do afetuoso rapaz sem uma palavra. Começou a andar a passos largos para não ser apanhado pela noite em lugares menos recomendáveis, mas quando atravessava uma pequena mata apresentaram-se-lhe na frente dois homens corpulentos que com toda a certeza o tinham seguido e o obrigaram a dar-lhe o pouco dinheiro que continha uma pequena mochila. Não tentou defender-se sabendo que de nada lhe servia mesmo com o grande punhal à cintura. Já era noite escura e os animais selvagens começavam a deslocarem-se quando ao longe viu uma pequena luz entre uma colina e um imenso verdear com algumas árvores pelo meio. As forças começavam a faltar e foi de rastos que chegou junto de uma casa com poucas dimensões, telhado muito usado, e ladeada por silvas, ortigas e ervas selvagens. Exitou em bater à porta, mas não tinha outra alternativa, e a morte só viria apaziguar o seu sofrer. Ouviu-se um cão de grande estrutura ladrar junto da porta, e uma mulher já com uma certa idade apareceu de espingarda em punho. Perguntou. Que quer?
-Fred já sem alento ainda disse: descansar e caiu para o lado atordoado.
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