terça-feira, 1 de agosto de 2023

Destinos

Destinos de destinados 665 A por AB Fernando Júnior não dormia nem se alimentava havia dois dias e com a avó internada aquela casa tornava-se num rio sem água. Os criados manifestavam o seu desalento impotente perante factos que mordiam no corpo de quem ama daqueles a quem a vida teria prometido um mar de rosas e hoje nadavam em mares de areia ríspidas sem tino nem referencias, perdidos desesperadamente. Cinco dias depois falecia a avó não resistindo à dor que a martirizava e influenciou a doença que parecia melhorar, segundo diagnóstico hospitalar, quis partir para junto do único homem que amou com todas as suas forças, e juntos construíram uma desastrosa família, que alguém escolheu, não se sabe onde nem como, foram julgados e condenados a escândalos que não tinham lugar na sua casa, onde jamais faltou harmonia, honestidade e bens materiais pelos quais lutaram sempre, tentando fazer daquela família um exemplo que infelizmente falhou. Fernando Júnior permaneceu junto daquele jazigo durante indeterminadas horas, não se queria separar da única família que tinha, murmurava e pensava no que seria a sua vida sem eles. Não voltou a casa. Tinha consigo um farnel de frutos furtados, levantou os olhos ao céu e seguiu pelo primeiro caminho que encontrou… mas faltava-lhe o álcool que o ajudava a andar a droga que o tirasse daquele inferno. Caía mesmo agarrado às paredes, deixou os sapatos, e caminhou descalço até que os ferimentos das pedras o obrigaram a sentar-se junto de uma árvore centenária, mas o frio trespassava-lhe o corpo e a alma. Adormeceu e nos sonhos reviveu todo o passado, do qual se arrependia tarde demais. Também Fernando C revivia o seu desastroso passado, sem que os seus olhos vissem a luz que o propulsou para dentro de uma juventude irresponsável. Foi assistir ao funeral dos pais vestido com a melhor roupa que tinha, e antes de se despedir deles pediu que o perdoassem. Nunca mais teria um viver digno e os remorsos dormiam com ele todas as noites, na cama dos seus pecados na angústia de uma sobrevivência que não desejava, mas, sabia que tinha de pagar pelos numerosos e graves erros cometidos Eram nove horas da manhã, o sol raiva, os pássaros deixavam os ninhos para procurar alimento aos filhotes, e Borboleta que morava junto do velho carvalho veio abrir os grandes portões férreos para sair com o seu automóvel quando reparou naquele homem caído ferido e com certeza faminto junto do seu muro a uns 10 metros dali. Aproximou-se cautelosamente, tocou-lhe com um pé e chamou: senhor? O que faz aí a estas horas? Como não obteve resposta voltou-o para ver se estava vivo. Levou a sua mão à carótida e quando lhe tocou estremeceu. És tu? Ó meu deus… estava vivo, mas borboleta reconheceu imediatamente o seu amigo de faculdade que nunca mais tinha visto depois de acabar com a relação a pedido da mãe. Casara com um engenheiro e como já trabalhavam os dois e ganhavam bem a vida compraram aquela mansão com a ajudo do pai do rapaz e estavam pagando o resto ao banco onde fizeram o empréstimo. Subitamente apareceram ali doi cães de grande estatura, e não fosse a repreensão de borboleta teriam atacado o pobre rapaz. Oi, fofo, levanta-te. Tentou com bofetadas no rosto, mas o rapaz tinha caído num coma profundo não podia reagir. Sem demoras pegou no telemóvel e chamou o INEM. Acompanhou-os ao hospital de onde só saiu eram 9h da noite depois de confirmado estar fora de perigo.

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