quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

CANTAR DOS REIS NO CONCELHO DE MACEDO DE CAVALEIROS

No mensageiro de Bragança
Tradição de Cantar os Reis mantém-se viva Por: Ana Preto / Secção: O Olhar / 14 Janeiro 2011 ·  ImprimirEnviar a um amigo Apesar da televisão, de cada um viver mais “fechado no seu canto”, ainda há quem abra as portas às boas festas e aos desejos de um bom ano
Cantar os Reis, evocando a adoração ao Menino Jesus, é uma tradição antiga, em todo o país, que ainda se mantém, assumindo novas formas. No Nordeste Transmontano era frequente, em muitas localidades, a partir do dia 26 até ao final do mês de Janeiro (razão pela qual também se chama a este cantar “As Janeiras”), constituírem-se grupos improvisados de cantadores que, à noite, percorriam aldeias, cidades e vilas, de porta em porta, cantado aos senhores de cada casa, desejando saúde, sorte ou prosperidade, para o ano que se inicia, e abençoando o nascimento do Menino Jesus. Actualmente, esta tradição, de um modo mais espontâneo, só se mantém em certos lugares. Encerrados numa nova forma de vivência social, nem sempre os senhores das casas estão dispostos a abrir as portas e a dar algo em troca de uma canção. Antes deste tempo, normalmente o que se dava aos cantadores era uma peça de fumeiro. Segundo José Jecas, de Arcas, concelho de Macedo de Cavaleiros, nesta aldeia essa tradição não se perdeu. Ainda hoje cantam porta a porta e recebem, em troca da canção de boas festas, linguiças e alheiras. “Depois vamos para a patuscada. É espectacular, toda a gente adere, nem se deitam à espera que nós passemos”, referiu, acrescentando que, nesta aldeia, há ainda “muita rapaziada nova”. Contudo, grande parte destas tradições são mantidas através de iniciativas, muitas vezes organizadas por entidades externas, como as Câmaras Municipais. Foi isso que aconteceu, no passado dia nove em Macedo de Cavaleiros e Alfândega da Fé e, na noite anterior, em Miranda do Douro. Cada um destes municípios promoveu um encontro de cantadores de Reis, nos quais participaram diversos grupos, alguns constituídos exclusivamente para o efeito, outros que vêm desenvolvendo actividades culturais diversificadas, ao longo do ano, sempre em prol da cultura tradicional. Segundo Sílvia Garcia, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, desde que o município lançou esta iniciativa, há nove anos, tem-se notado um aumento da quantidade e da qualidade dos grupos presentes. A iniciativa é importante pelo convívio que proporciona, e também porque contribuiu para “manter uma tradição que ainda está viva no nosso concelho”, sublinhou a vereadora. António Baptista, presidente do Grupo de cantares de Castelãos, contou-nos que, naquela aldeia, a tradição de cantar os Reis estava praticamente perdida. A tradição foi retomada agora, a nível de grupo, que estava inactivo há cerca de dois anos e meio e foi agora reactivado, precisamente por causa desta iniciativa. “Estava bastante perdia, as pessoas já estavam desabituadas”. Contudo, agora “têm encarado isto com muita alegria, porque também como é uma aldeia desertificada, como todas as outras, já há pouca gente e quando há qualquer iniciativa destas as pessoas ficam satisfeitas e acompanham o grupo para todo o lado”, afirmou. É precisamente o convívio que havia, e não haverá, talvez, aquilo que Maria Teresa Espadanedo, de Morais, mais recorda com saudade. Contou-nos que, quando era pequena, ia com a mãe e a irmã, cantar os Reis e não era “por dinheiro, nem tão pouco chouriços”. Iam cantar aos amigos que, naqueles tempos, eram muitos. “Naquela altura, quase não havia inimigos, sabe porquê? Porque vivíamos todos ao mesmo nível, não havia pessoas mais ricas do que as outras, era um nível igual e como era igual, e as pessoas eram todas simples, ninguém andava a olhar de lado uns para os outros”. Também, o ambiente social, o facto de não existirem distracções vindas de fora da comunidade, proporcionava esse convívio, hoje já pouco habitual. “Havia mais alegria. Não havia televisões... Eu lembro-me de não haver mesmo electricidade, e rádios não eram todos que os tinham! Então era bom passar estes bocados assim. Havia mais convívio. Não digo que não havia gente má, mas era em menos quantidade. Eu tenho saudades daquele tempo. Hoje andamos lá metidos no cantinho sempre. Mal nos vêem na rua, não há tempo para nada e eu digo: não é normal esta vida e não é normal...!”. Para manter talvez a vida, dentro de âmbitos mais normais, na sua aldeia, existe a Associação dos Amigos e Melhoramentos de Morais. Foi com este grupo que Maria Teresa esteve no Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros, a cantar os Reis. Segundo Alzira da Conceição, em Morais ainda existe esta tradição de cantar os Reis porta a porta, mantida sobretudo pelos mordomos da grande Festa anual, que vão angariar fundos, desta maneira, mas “já não é como antes”. Esse grupo de Morais apresentou, no final, um dos cantares mais diferentes, a “Canção da Manta”, chamemos-lhes assim, cuja letra Maria Teresa aprendeu com a sua avó, há muitos anos. Uma manta é segurada nas quatro pontas, sobe e desce, conforme a letra. Quando sobe alguém passa por baixo.
Também em Murçós se mantem esta tradição... embora, como é referido no texto, o "reizinho" ou chouriço, já não satisfaça os cantadores, que preferem uma moedinha, e uns licores para afinar a garganta. Geralmente esta prática, incumbe aos jovens, mas, acontece que também grupos formados por adultos, percorram a Aldeia, mais com o intuíto de levar as Boas-Festas até junto daqueles considerados e respeitados, que própriamente para angariar fundos ou géneros.
QUE OS SANTOS REIS NOS TRAGAM A TODOS HARMONÍA E PAZ

1 comentário:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Também li o artigo e achei-o interessante.

É uma tradição tão bonita, que será uma pena se algum dia desaparecer.

Beijos