quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Há olhares que não mentem… expressões que visam os nossos corações! Há bocas que se calam … dores que se transmitem; há seres insensíveis que a crueldade adornou, o ódio alimentou, e o cinismo dominou!?

O PUTO:
Nasceu num verdadeiro Palácio, lá para os lados da Loire. Tinha criados para todos os seus movimentos e acções. Nasceu num berço dourado, com lençóis de cetim cobertores de caxemira, estrelas brilhantes luminosas, que expandiam melodiosas baladas enquanto dormia, e sonhava… sonhava com coisas horríveis, pesadelos que lhe roubavam a alegria, os sentimentos, a felicidade fácil, facultada com os melhores valores materiais, existentes nas redondezas. Densas vezes, acordou em choros, em gritos desesperados, que o atormentavam ao mais profundo do seu ser. Filho único, seus pais não compreendiam, não concebiam tais traumas, sem razões aparentes, sem qualquer justificação… não lhe faltava nada, porquê tais procedimentos? Os criados queixavam-se de bruxedos invejosos, de possessão demoníaca, de maus-olhados, mas, os pais, cultos cientistas, não acreditavam em nada, tentando encontrar cientificamente a verdadeira razão dos traumatismos. Levavam-no visitar lugares nobres e cultos, frequentava o conservatório musical de Paris desde a sua tenra idade, tinha lições de equitação, falava já cinco línguas correntemente, era um dotado de inteligência, mas… ninguém o compreendia. Os deveres protocolares, tantas imposições e restrições, faziam do puto, um objecto comandado para ser o que os outros queriam que fosse… um “pantin”.
Numa visita ao Sacée-Coeur, a pés, para melhor apreciar a beleza de Mont-Martre, com suas vinhas, seus moradores, quase todos artistas, vivendo em casas construídas sobre rochedos, chegaram à praça do Tertre, onde centenas de pintores ofereciam seu serviços em troca das pinturas rápidas amor que nunca tive… do carinho que me falta, das histórias lindas para adormecer que meus ou simplesmente um desenho caricatural.
- Deseja que pinte sua família? Perguntou um deles.
Não. – Respondeu o pai – nós já temos valorosos quadros no palácio.
Mas o puto não abandonava o local… sentia uma fascinante atracção pelos pintores e suas obras. Já os seus familiares desciam para o elevador, quando ele se voltou a correr.
Dirigiu-se para um dos pintores e disse: - Podem pintar os meus sentimentos?
- Podemos pintá-lo a si menino… só pintamos o que vemos!
Seus pais que tinham voltado à procura do filho, aguardavam perplexos, o desfecho da conversa.
O puto tomou novamente a palavra e disse:
- Então vão fazer o seguinte: pintem a mímica, do pais nunca me contam, os jogos com meninos da minha idade encerrado num palácio de rosas picantes… pintem tudo o que me falta, porque o resto sempre o tive.



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