As histórias do “ mitonho”
Murçós, como tantas outras Aldeias, é afetada pela
desertificação e diminuição populacional, cujas consequências, como todos
sabem, provocam desalento e determinada impotência circunstancial. Porém, para
os que cá vivem permanentemente, e os que vem de tempos a tempos, uma das artes
praticadas, para matar o tempo é: “ as candongas do mitonho”… chamo-lhe assim
porque não sei com toda a certeza se são verídicas ou inventadas… certo é, que as conheço de cor e salteadas,
como a tabuada quando andava na terceira classe, por as ter ouvido contar
centenas de vezes, onde quer que ele encontre alguém disposto a ouvi-las, e dar
umas gargalhadas, sobretudo no café do Reis. Este homem, cujo passado foi um
romance de dificuldades, não tem vergonha dele nem dos seus, cujas origens, da
mãe, eram espanholas, daí a alcunha de : “mitonho”, o seu verdadeiro nome
António Correia. Vejamos então algumas delas…
Trabalhava ele e o Zé Adelino nas minas de Ervedosa,
deslocando-se a pés, creio nos fins-de-semana, para Murçós, por caminhos
sinuosos, distantes, que ambos percorriam alegremente. Um certo dia, ao passar
junto do moinho do “borracho” às pontes, viram a filha deste, de idade jovenil,
pastorear um rebanho, brincando alegremente enquanto o rebanho comia
pausadamente, e os cães ladraram, ao vê-los aproximar-se. Vinham vestidos com
as fardas de trabalho, inclusive os capacetes obrigatórios nas minas. Olharam
um para o outro e… chegando-se para perto da mossita, pergunta um deles:
- Tens licença dos
cães?
- Não – respondeu a moça
- Então vamos ter que multar-te…
E já o Zé Adelino
metia a mão no bolso e extraía um papel qualquer, talvez de enrolar a merenda,
escrevendo o que quer que fosse.
Estendendo o braço na direção da rapariga, o mitonho disse:
- Toma. È para ir pagar a Vinhais…
Dias depois iam passando no mesmo lugar, quando viram o
moleiro dirigir-se a eles. – Mau… - disse um para o outro. – A multa voltou
para trás…
Mas o moleiro tinha compreendido a brincadeira e até os
convidou para beber um copo na sua casa. Eles seguiram-no sempre com
desconfiança, e já depois de libertados davam pulos como macacos satisfeitos
com a personagem de agentes policiais.
Os pais do “mitonho” viviam junto da mineira, numa casa
pequena e pouco confortável… um certo dia um Sr. da terra mandou-o chamar,
queria falar com ele. O mitonho acompanhou o pai até à Aldeia, e foram bater a
porta da casa do sujeito, o qual foi direito ao assunto: - Queres um par de coelhos
de meias?
- Claro que quero…
O outro trouxe de imediato
o casalinho de coelhos, e os meeiros levaram-nos para casa. Dois dias depois
manda o seguinte recado para o proprietário:
- Venha buscar a sua parte dos coelhos, que nós já comemos a
nossa…
Os pais do “mitonho” tinham uma cabra, que lhe ia dando
leite regularmente, mas… estavam sem tostão e o pai resolveu ir vendê-la à
feira dos Chãos, e o filho acompanhou-o. Chegados a Espadanedo, entraram no
tasco, e conversa puxa conversa, apareceu um comprador para a cabra que
esperava ansiosa à entrada. Com os trocos da venda os dois começaram a mandar
vir e pagar rodadas atrás de rodadas, mais uma merenda já em Murçós com
chouriço e pão. E… esgotou-se o dinheiro da cabra. Voltaram para casa de mãos
lavadas e bolsos vazios.
O “mitonho” era assíduo perseguidor da passarada, passando
parte do tempo à procura dos ninhos. Um certo dia alguém lhe ensinou um já com pássaros
meio vestidos. Não tardou a ir visitar o ditoso ninho, não fosse o diabo tesselas
e alguém o descobrisse. Situava-se na ponta de uma carvalheira já com certa
altura, no meio de um enorme silveiro. Mas… para o “mitonho” não havia nada que
resistisse, e lá foi engatando pouco a pouco, até chegar aos filhotes do ninho
com as mãos, e ar rejubiloso pela aquisição embora difícil. Perto do local
alguém vigiava todos os seus gestos, escondido. De repente, ouviram-se as
pancadas de uma machada que à presa tentava cortar a carvalheira, e o “mitonho”
começava a ficar lívido com o receio que aconteceu momentos depois caindo com a
árvore no meio do silveiro, de onde saiu todo arranhado e sem pássaros.
Amigalhaço do Manuel “falina” o “mitonho foi visitá-lo um
certo dia que ele tinha vindo de França passar uns dias em Murçós. Estava um
frio invernal, mas, o amigo foi ao bairro do Queirogal visitar o outro. Já de
fora viu levantar-se uma fumaceira que saía da cheminé da casa do Manel.
Convidou-o a entrar dizendo: - tenho uma lareira que dava para assar um vitelo.
O mitonho entrou e ao fitar a lareira do Manuel desatou a
rir… o amigo não compreendeu e o matreiro não se descoseu… mas, ao chegar ao
café do Reis disse:
- Hoje em casa do “setas” havia uma lareira tão forte que
dava para assar um vitelo…
- Como assim perguntamos?
E às gargalhadas… feito de trochos de couve… olé!!!!
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