quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Apanha da castanha 2013



De que modo o cultivo da castanha é uma fonte de rendimento que beneficia não apenas os agricultores proprietários dos soutos mas também a população local?
Uma vez que a colheita constitui um dos principais encargos com a produção da castanha, e dada as dificuldades que se colocam à difusão do processo de colheita mecânica, está-se perante uma actividade que constitui uma importante fonte de rendimento não apenas para os proprietários dos soutos mas também para a mão de obra assalariada, necessária sobretudo para a poda (dos ramos secos, doentes e cruzados) e colheita do fruto. Aliás, um dos principais problemas que se perspectivam ao futuro desenvolvimento desta actividade, passa essencialmente pela escassez de mão de obra, em consequência da progressiva tendência de envelhecimento da população e das dinâmicas demográficas repulsivas que se assistem no nordeste transmontano.Ainda no que se refere a benefícios para a população e uma vez que a colheita deste fruto obriga a que o souto seja revisitado 3 a 4 vezes, é usual os proprietários, no final da época da colheita, permitirem a apanha gratuita (rebusco) dos últimos frutos, que são utilizados para consumo próprio, alimentação de animais ou mesmo para comercialização.  Trata-se portanto de uma actividade com um peso importante para a economia familiar da região.
Num bom ano de produção quais os níveis de produtividade alcançados na Terra Fria Transmontana?
Para o conjunto da Terra Fria Transmontana a produção anual ronda as 12 a 13 mil toneladas.
Que proporção é arrecadada pelo agricultor do total de castanha obtida?
Aproximadamente 2% que se destina essencialmente a auto-consumo e alimentação do gado suíno.
Quais as principais pragas/doenças fitossanitárias que afectam a produção de castanha no nordeste transmontano?
Tanto os soutos antigos como os mais recentes são dizimados pelas doenças da tinta (chegou a portugal no século XIX e propaga-se através das raízes) e do cancro-do-castanheiro (detectado pela primeira vez em Trás-os-Montes em 1989), levando muitas vezes à morte das árvores. Calcula-se que em 1999 cerca de 1/3 da produção foi afectada pelos efeitos destas doenças e por condições climatéricas adversas. As consequências negativas destes flagelos são mais alarmantes sobretudo nos concelhos de Bragança e Vinhais.
Apesar dos trabalhos de investigação que têm sido feitos pela Universidade de Trás-os-Montes, pelo Instituto Politécnico de Bragança e pelo Centro Nacional de Sementes Florestais, ainda não existe um tratamento eficaz para nenhuma das pragas. Todavia, consciente deste problema a Associação de Produtores de Castanha do Nordeste Transmontano já promoveu desde 1995 mais de 24 acções de formação sobre a prevenção destas pragas, verificando-se já consequências positivas como seja árvores plantadas em locais mais adequados e melhor podadas e fertilizadas.
Quais os principais factores desfavoráveis a uma produção de qualidade?Uma produção de menor qualidade está sobretudo associada aos anos com condições climatéricas adversas (chuvas intensas e geadas), responsáveis por um fruto de má qualidade fitossanitária e de pequeno calibre (um pequeno calibre quando existe mais de 80 frutos por quilo, um bom calibre oscila entre os 45/60 frutos por quilo).
Quais as variedades de castanhas dominantes na Terra Fria Transmontana?
A Longal é a variedade regional característica do norteste transmontano, predominando por isso nos soutos mais antigos, embora de calibre menor (por isso mais rejeitada pelos compradores e nas novas plantações por significar uma colheita mais onerosa) é a que tem melhor sabor, melhor poder de conservação e maior aptidão para descasque.
Pelo facto dos intermediários estarem dispostos a pagar mais se o fruto for de maior dimensão e com boa apresentação, os agricultores têm optado por outra espécies nas novas plantações. A Judia é uma variedade de muito grande calibre, sendo por isso muito utilizada nas novas plantações, assim como a variedade francesa, Marron, por ter também grande calibre e ser resistente à doença da tinta (embora sensível à do cancro). Também são muito apreciadas as variedades precoces (Boaventura e Aveleira) devido sobretudo ao preço de oportunidade que os agricultores conseguem com a sua produção nos meses de Setembro/Outubro.
Quais os agentes que intervêm no circuito de comercialização da castanha da Terra Fria Transmontana?
Os principais agentes que interactuam no circuito de comercialização da castanha são: produtores, ajuntadores/intermediários, agroindústria, armazenistas, exportadores, mercados abastecedores, retalhistas, consumidores. Ao longo desta cadeia de comercialização procede-se a um conjunto de operações que promovem um acréscimo de valor ao produto: limpeza, selecção de variedades, calibragem, desinfecção, conservação, embalagem, descasque, congelamento, produção de pasta de castanha, etc. (pela actuação destas diferentes operações, a matéria prima, que no ano 2002 foi paga ao produtor a uma média de 1 a 1,5 euros por quilo,  representa apenas cerca de 20 a 25% do preço de mercado).
De modo a alcançar localmente um aumento do valor acrescentado que se introduz a este produto, o Instituto de Bragança encontra-se a desenvolver um projecto de investigação sobre as potencialidades da transformação da castanha (produtos derivados como farinhas, bolachas, doces, compotas e outros), o que pode induzir benefícios evidentes para a agroindústria local.

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