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Adeus minha querida mãe... que Deus te receba no céu como nos recebeste quando viemos ao Mundo com tanto AMOR CARINHO E AFEIÇÃO... descasa em paz |
sábado, 29 de março de 2014
Ultimo adeus
domingo, 23 de março de 2014
MURÇÓS
Não me vesti de luto; também não dei a luz ao mundo… mas,
padeço. Serei aquela mimosa donzela, de amarelo vestida, que expande através do
teu universo, perfumes de alto preço? Ou a Rainha dos sonhos… que em noite de
pesadelos, te afaga o rosto? Posso até ser: a avó dos teus netos e a mãe dos
teus avós… porque sou velhinha! Já fui amada, respeitada e querida… foi no
tempo do amor… naqueles dias em que o sol nascia por detrás da serra e se punha
tão longe quanto a distância que nos separa… tu eras tão pequenino! Choravas à
noite, no colo daquela que te deu à luz…
terias fome ou frio… ela amamentava-te, e eu sorria sabendo que depois dormirias como um anjo… foi no tempo da felicidade… quando tu e eu nos contentávamos com tão pouco! Mas tu partiste… à procura do ouro que apenas brilha… choravas, é verdade… mas as lágrimas secaram, tinhas apenas passado o Lameirão… e eu fiquei, sempre à espera de ver aquela porta abrir-se de novo… o galo que tão bem cantava ao amanhecer também calou o bico… já não se ouve o balido das ovelhas, e um cão ou outro, abandonados, ladram para despertar aqueles que adormeceram para sempre na paz do senhor. As andorinhas, cuja fidelidade, jamais traíram, voltam todos os anos para fazer os ninhos nos beirais que tendem a ruir, já sem brancura… seus filhotes começam a recusar tão longa viagem, sabendo que já muitos colegas desistiram… tentam os Pedreiros colmatar estas ausências, e animar o ambiente pacato, solitário, mas, em vão… receio a condenação perpétua… tenho tanto medo das noites de insonolência, passadas a pensar, recordando com tanta nostalgia, aqueles velhos tempos, em que os sabores e os perfumes, apesar de não abundarem eram verdadeiros! Como era lindo ver um par de namorados, junto da fonte, onde a água pura e cristalina jorrava pacientemente da nascente mãe, rir e falar discretamente, não fossem as paredes falar… lembrar os bailaricos saloios, no palheiro do tio Zé, aos Domingos à tardinha, antes do pôr-do-Sol…as festas e romarias, vestidos com as melhores roupas que havia, asseados…
Nestas casas, a ruir de velhas, nasceram tantos de vós! Por estas ruas, hoje mais asseadas, e quase desertas, passearam tantos sonhos à procura da felicidade prometida… andaram, por cá tantos forasteiros, vindos não se sabe de onde, à procura das riquezas que este solo rico em minerais, lhes proporcionava … abriram-se buracos… extraíram-se os minerais… restam os vestígios dos passageiros apresados… como é fácil esquecer!
O Vale dos meus encantos, deixou de ser brioso… rompem as silvas esta terra fértil, lamentam tanto desprezo os que vem esporadicamente visitar… filhos desta terra: não venham apenas criticar os que não foi feito pelos guardas de serviço… sejam solidários como são orgulhosos… não virem as costas à realidade dos factos… ajudem a recuperar a dignidade da vosso tão reputado berço, que vos “arrolou” acariciou, e que sempre vos receberá de braços abertos e coração palpitante. Murçós.
sexta-feira, 21 de março de 2014
QUARESMA
colegas mais próximos ou talvez com os que simpatizava mais, mas, juntavam-se na sala de visitas, durante dois dias, porque havia as anexas, oito a dez Sacerdotes num jantar ou almoço animados, alegres como nas festividades anuais… alguns deles, como o P.e Pires ficavam a dormir com prazer e um à vontade como se estivessem nas suas casas. Era o que se chamava a “torna-jeira” que consistia em ir hoje para uma paróquia e depois para as outras durante toda a quaresma. Fiquei desagradavelmente surpreendido quando alguém me disse que havia um cesto para deitar 5 euros para pagamento dos Sacerdotes que estavam a confessar
. Para que serve afinal a “avença” o valor que pagamos anualmente, e mais o que se paga para a fabriqueira?
Não me surpreende que os nossos filhos e netos abdiquem da
prática do cristianismo, sabendo que o dinheiro, e só através deste fundo
chamado de sobrevivência, a religião católica, consegue chegar até os seus
fieis, embora tentem fazer passar a ideia de que há transparência, que são os
servidores de Deus , e que os seus interesses pessoais passam para segundo
plano. Também não é minha intenção, com este texto, tentar desviar do caminho
escolhido com toda a convicção, quem quer que seja… sou fervoroso cristão, e,
se não concordo com certos actos repressivos que me indignam, respeito
incondicionalmente todo ser humano, de qualquer etnia ou religião… há factos
onde não me revejo como cristão, talvez porque durante cinco anos vivi num meio
Sacerdotal, e o que era justo superava os valores financeiros.
Voltando ao texto que desejo escrever, a época Pascal está
gravada na minha memória, como de oração, sacrifícios, e também de convívio em
volta de um bom folar Transmontano, nas reuniões familiares, nos divertimentos
após Páscoa, tais como: os jogos de roda nas eiras entre rapazes e raparigas… o
atirar da cantara de barro que depois passou a ser de zinco… a serra das velhas
e o casamento das novas pelos rapazes, e outros jogos simplórios, mas que nos
divertiam ao máximo.
Recordo-me também de uma cena passada na igreja, um dia que
ia com o P.e João benzer a água na pia, deparamos com uma quantidade de agulhas
no fundo, 7 exactamente, e foi então que me ocorreram as histórias contadas
sobre feitiço, bruxas e feiticeiras… -pega nelas rapaz que podem servir a Luzia
– que era a criada – mas, ao retirá-las constatámos que o orifício que serve
para enfiar o fio estava cortado, segundo dito para que as bruxas não saíssem por
lá!
A Primavera vem também animar os mais pessimistas com seus
raios de sol, e os perfumes das variadas e lindas flores que ornamentam o planeta
terra.
terça-feira, 18 de março de 2014
FFFernandos
Destinos e destinados
Uma história de ficção científica do meu manuscrito que data
dos anos 78. Vou tentar resumir com as menos páginas possíveis, o que não vai
ser fácil, sabendo que engloba 6 cadernos de 120 páginas.
Não sendo considerada uma história de amor, tentei elaborar
através das personagens, acontecimentos fatídicos, expandidos por terras onde a
ingenuidade frágil e vulnerável, se expunha aos poderosos de bom ou mau grado,
sem direitos de rebelião, e desinteresse que determinados acontecimentos
viessem à tona da água.
A Fernanda, abalou um certo dia, após uma quezila com o pai,
para o Porto onde uma amiga lhe arranjara uns patrões para trabalhar como
criada a tempo inteiro. Tinha então dezanove anos, pouca experiencia, e a vida
citadina era uma descoberta agradável para a jovem acostumada à rudez no
cultivo dos campos, e às frequentes agressões verbais, por parte da
paternidade. A sua formosura não obtinha o realce merecido, por culpa das
vestimentas simples e pálidas, do seu cabelo ao vento, mas sobretudo porque
nunca soube o que era maquilhagem… tinha uns lindos olhos verdes, face
pigmentada, e boca polposa, esbelta, mas sempre com ar tristonho, como quem
vive a vida por viver… nunca tinha namorado, apenas se afeiçoou por um rapaz da
terra mas não era correspondida… meses depois, já bem integrada no seu rodeio,
começou a notar os olhares persistentes do Carlos, filho do patrão, belo homem,
e quando se deu por conta, estava completamente enfeitiçada, hipnotizada, como
tantas outras vitimas deste sedutor nato, irresistível.
Filho único, de pais abastados, o Carlitos frequentou a
Universidade de Direito, mas, a meio do curso achou que era uma maçada,
resolveu abandonar, sem ponderar nem respeitar o desejo dos pais. Dedicava-se
exclusivamente ao laxismo vaidoso com engrenagem abusiva, descomplexado, com
princípios arcaicos, fundamentados em valores de superioridade e inferioridade.
Não tinha beleza interior!
Oficialmente namorava com a Paula, de 23 anos de idade,
loira natural, alta, magra, pele fina, esbranquiçada, que estava acabando o
curso de Economia, um arranjo familiar, num jantar marcado na propriedade para
o efeito, mas que o Carlitos, demonstrava afeição protocolar, para não
contrariar os projetos idealizados pelos progenitores, os quais prezavam a
preservação do império herdado.
A sua verdadeira namorada, aquela a quem demonstrava ter um
tacanho de amor, a Júlia, vivia nos arredores do Porto, junto da casa do campo
da família, onde iam frequentemente passar os fins-de-semana, andar a cavalo,
dar uns mergulhos na piscina, fazer picnics, ou jogar golfo, conjuntamente com
pessoas da alta sociedade. Era uma linda moça, teria sido miss Beira Alta, mas,
de uma rebelião desconcertante, o que deixava muitas vezes o Carlitos
desesperado, mas ao mesmo tempo, excitava-o encontrar alguém capaz de fazer
frente aos seus caprichos de menino mimado… às escondidas dos olhares curiosos,
discretamente, arranjava encontro com ela sempre no campo, em lugares pouco
frequentados, e apesar da moça apenas ter concluído a escola secundária,
aprendeu muito na escola da vida… sabia defender-se, embora tivesse um
fraquinho pelo sedutor.
Este ritual de namoro proibido durou alguns meses sem que
ninguém se apercebesse. Porém, o Carlitos, não era de contentar com palavreado
barato, com a troca de um sorriso passageiro, um piscar de olho rápido, o
beliscar de uma nádega num canto discreto, um beijo roubado enquanto o tempo
passava veloz. Só no seu quarto, pensava na maneira de armar a ratoeira…estabeleceu
com todos os pormenores, a passagem aos atos machistas, não fosse perder as
proas ali junto dele, à sua mercê.
domingo, 16 de março de 2014
Sonhos
…a revisitar os sonhos
Já não sei como se chamam… as coisas verdadeiramente importantes, às vezes, já se me encostam ao canto da memória. E são importantes porque vêm da infâncias, onde as coisas eram mágicas e tinham um significado fantástico e cheio de símbolos no reino fabuloso do faz de conta.
Às vezes ainda consigo regressar ao passado e revisitar estas plantas verdes, ornamentando soberbamente, numa exuberância ímpar, as paredes mais sombrias do povoado.
E lá está de novo a criançada da minha infância que ainda brincava na rua, a fazer magníficos chouriços enfiando as folhas desta abundante planta, umas nas outras… e logo o coração adivinhava apetitosos e abundantes chouriços que animavam a tarde e a brincadeira.
Já mais para o fim do Verão esta planta deita umas sementes granuladas… então que arroz fantástico se cozinhava na imaginação que criava e recriava a raridade do arroz que tardava a chegar às cozinhas mais humildes.
Por fim… no brincar que nunca esgota o sonho, espremiam-se as folhas nas mãos que eram verde e logo escorria um magnífico azeite… azeite dos pobres… luz da candeia… azeite do faz de conta.
Serão chapéus, estas plantas?!… mil nomes terão por esse mundo de Cristo, mas para mim, serão para sempre os sonhos da minha infância que se materializam no fulgor do verde.
Já não sei como se chamam… as coisas verdadeiramente importantes, às vezes, já se me encostam ao canto da memória. E são importantes porque vêm da infâncias, onde as coisas eram mágicas e tinham um significado fantástico e cheio de símbolos no reino fabuloso do faz de conta.
Às vezes ainda consigo regressar ao passado e revisitar estas plantas verdes, ornamentando soberbamente, numa exuberância ímpar, as paredes mais sombrias do povoado.
E lá está de novo a criançada da minha infância que ainda brincava na rua, a fazer magníficos chouriços enfiando as folhas desta abundante planta, umas nas outras… e logo o coração adivinhava apetitosos e abundantes chouriços que animavam a tarde e a brincadeira.
Já mais para o fim do Verão esta planta deita umas sementes granuladas… então que arroz fantástico se cozinhava na imaginação que criava e recriava a raridade do arroz que tardava a chegar às cozinhas mais humildes.
Por fim… no brincar que nunca esgota o sonho, espremiam-se as folhas nas mãos que eram verde e logo escorria um magnífico azeite… azeite dos pobres… luz da candeia… azeite do faz de conta.
Serão chapéus, estas plantas?!… mil nomes terão por esse mundo de Cristo, mas para mim, serão para sempre os sonhos da minha infância que se materializam no fulgor do verde.
sexta-feira, 14 de março de 2014
VIVERES II
capitulo II
Segunda-feira do mês de Dezembro 1968. Ainda bem cedo,
levantei-me, preparei-me e fui tomar o Metro a cerca de 150m da Cité des fleurs,
na estação Brochant. Tomei a precaução de antes, verificar no grande mapa as direções
a tomar, onde devia mudar, e meia hora depois, entrava na estação Saint Lazare,
para tomar o comboio que me levaria até Les Muraux, como tinha ficado previamente
combinado com os compatriotas. Levava o endereço escrito num papelucho, que tendia
aos passantes, os quais com muito custo me iam orientando, porque a distancia
dos trabalhos e o lugar não eram ainda bem conhecidos dos moradores. Porém,
cheguei ao local, e as primeiras impressões foram de desalento… havia um
barracamento alinhado, duas grandes gruas, homens de variadas raças, trabalhando
nas suas especialidades… construía-se um Liceu de três andares. Fui logo
abordado por um dos numerosos trabalhadores que me perguntou sem rodeios o que
procurava. – Venho falar co o Sr. … com o chefe.
-Qual deles?
O…
-É comigo gritou de longe o “pisco.”
Levou-me para uma barraca que servia de escritório, e n’um Francês
aportuguesado, explicou a situação ao superior, condutor de trabalhos. Pediu-me
os documentos (BI) e ordenou que podíamos ir, ficando tudo ao encargo do
contabilista.
Voltando-se para mim, o chefe de equipa, reconfortou-me
dizendo:
- Aqui estás à vontade… se precisares de alguma coisa, ou se
houver problemas é a mim que tens a dizer, que eu resolvo… como sabes já
trabalha cá o pintassilgo, o Moisés, o Domingos, e outros que eu trouxe… que
sabes fazer?
Sem saber que responder a tal pergunta, e não querendo
comprometer a minha admissão, demorei a responder, e o meu interlocutor adiantou:
- Aqui toda a gente faz tudo… se não sabe, aprende… vamos
lá.
Levou-me para junto do Domingos, o mais especializado,
veterano naquelas andanças. Por detrás de uma placa de cimento vigiava os meus
movimentos, chegando com certeza à conclusão mais plausível, que era eu nunca
ter visto os trabalhos da construção civil… segurava as escoras metálicas com
tanta delicadeza e receio de sujar a camisola, que o “pisco” não esteve com
meias medidas: aproximou-se de mim, arregaçou-me as mangas, e, com as mãos
cheias de óleo queimado passou-as pelos meus membros superiores, ao mesmo tempo
que acrescentava: - quem quer ser pescador tem que se lançar ao mar…
Fixei-me na barraca dos da terra, onde havia
instaladas quatro camas, sobrepostas, uma banca para cozinhar, e um fogão de
duas bocas pertencente aos compatriotas. Cada um de nós deveria fazer as
compras e cozinhar segundo os meios e possibilidades, embora, como era recém-chegado
me tenha sido proposto empréstimo de algum dinheiro para as primeiras
necessidades, e se quisesse comer juntamente com eles teria de participar nas
tarefas, das compras, cozinhar, e lavar a louça. A barraca prefabricada possuía
o mínimo conforto, água,
luz, e aquecimento, servindo a mata próxima para outras
necessidades, para os que não queriam usar o quarto de banho improvisado, para
o banho e WC.
Todos estes trabalhos realizavam-se no alto de uma pequena
colina, distante do aglomerado de casas de cerca de 2km.
A minha adaptação não foi fácil, mas, com a ajuda dos
amigos, consegui aprender a cozinhar, (sobretudo ovos mexidos com batata
frita), e as compras nos supermercados facilitavam-nos a taxa da linguagem.
Foram seis meses passados, tempo obrigatório do contrato, também para se obter
uma carta de “séjour” de “ travaille” e de segurança social.
O trabalho, pouco a pouco, aprendemos a fazer de tudo, e
entretanto tinha chegado também o Nelzeira e o Zé, este último tendo passado
por numerosas e complicadas dificuldades, ao ponto de ter de falsificar o seu
BI porque não tinha ainda 18 anos, e como tal não lhe era permitido trabalhar
em solo Francês.
Foram seis meses passados com altos e baixos. O racismo
levava os jovens a travar numerosos confrontos de agressão física e moral,
alguns deles provocados pela comunidade Portuguesa, que não respeitavam as
regras do Nacionalismo, nem tentavam esforçarem-se pela integração cívica que
se impunha. Por tudo isto, foram muitas as vezes em que a policia nos visitou
alta noite, nas barracas, pedindo a identificação, e alguns dos mais atrevidos,
dormiram na jaula. Para mim, integro defensor dos bons princípios, pacifista
por natureza, sentia-me mal, entre dois “clins”, tentando sempre distanciar-me
dos contenciosos por duas cascas de alho, tendo como objetivo primordial,ganhar dinheiro, e economizar o mais que possível para ajudar os meus
familiares deixados em Portugal. Voltei nas primeiras férias, após contrato concluído,
com 50 contos nos bolsos, os quais serviram para erguer as paredes da casa de
minha avó que tinha ruido com o inverno, onde viviam meus pais.
Gostava deixar uma homenagem muito sentida ao Domingos,
rapaz extraordinário, que faleceu por estas terras, vítima de doença insuficiência
renal, e ao Moisés que se salvou da broncopneumonia, após longo internamento no
hospital de Melun. Fostes para mim seres incomparáveis de bondade, dedicação
alegria de viver, mas sobretudo de uma ajuda que jamais esquecerei.
domingo, 9 de março de 2014
O Menino e o Cachorrinho
O Menino e o Cachorro
Um menino entra na lojinha de animais e pergunta o preço dos filhotes à venda.
- Entre 30 e 50 euros, respondeu o dono.
O menino puxou uns trocados do bolso e disse:
- Mas, eu só tenho 3 euros... Poderia ver os filhotes?
O dono da loja sorriu e chamou Lady, a mãe dos cachorrinhos, que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de pêlo. Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, com dificuldade, mancando de forma visível.
O menino apontou aquele cachorrinho e perguntou:
- O que é que há com ele?
O dono da loja explicou que o veterinário tinha examinado e descoberto que ele tinha um problema na junta do quadril - mancaria e andaria devagar para sempre.
O menino animou-se e disse com enorme alegria no olhar...
- Esse é o cachorrinho que eu quero comprar!
O dono da loja respondeu:
- Não, tu não vais querer comprar esse. Se quiseres realmente ficar com ele, eu to dou de presente.
O menino emudeceu e, com os olhos cheios de lágrimas, olhou firme para o dono da loja e disse:
- Eu não quero que o Sr. me ofereça. Aquele cachorrinho vale tanto quanto qualquer um dos outros e eu vou pagar tudo.
Na verdade, eu dou-lhe 3 euros agora e 50 centimos por mês, até completar o preço total.
Surpreso, o dono da loja contestou:
- Tu não podes querer realmente comprar este cachorrinho. Ele nunca vai poder correr, pular e brincar contigo e com os outros cachorrinhos.
O menino ficou muito sério, acocorou-se e levantou lentamente a perna esquerda da calça, deixando à mostra a prótese que usava para andar...
Olhou bem para o dono da loja e respondeu:
- Veja... Não tenho uma perna... Eu não corro muito bem e o cachorrinho vai precisar de alguém que compreenda isso.
Assim é na vida real, às vezes somos como o vendedor de cães. Ao ver alguem diferente já vamos achando que é imprestável sem ao menos analisar os valores da vida. No entanto, qualquer que seja o defeito de cada um, uma vez que saiba conviver com ele, adapta-se de forma a poder seguir seu caminho. Jamais coloque seu ponto de vista sobre qualquer diferença que alguém possa apresentar, pois pode ter uma razão completamente diferente da sua. Aprenda a ver as situações de todos os angulos possiveis antes de colocar seu próprio julgamento. Compreenda então as razões que motivam as pessoas a agirem de outra forma.
Um menino entra na lojinha de animais e pergunta o preço dos filhotes à venda.
- Entre 30 e 50 euros, respondeu o dono.
O menino puxou uns trocados do bolso e disse:
- Mas, eu só tenho 3 euros... Poderia ver os filhotes?
O dono da loja sorriu e chamou Lady, a mãe dos cachorrinhos, que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de pêlo. Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, com dificuldade, mancando de forma visível.
O menino apontou aquele cachorrinho e perguntou:
- O que é que há com ele?
O dono da loja explicou que o veterinário tinha examinado e descoberto que ele tinha um problema na junta do quadril - mancaria e andaria devagar para sempre.
O menino animou-se e disse com enorme alegria no olhar...
- Esse é o cachorrinho que eu quero comprar!
O dono da loja respondeu:
- Não, tu não vais querer comprar esse. Se quiseres realmente ficar com ele, eu to dou de presente.
O menino emudeceu e, com os olhos cheios de lágrimas, olhou firme para o dono da loja e disse:
- Eu não quero que o Sr. me ofereça. Aquele cachorrinho vale tanto quanto qualquer um dos outros e eu vou pagar tudo.
Na verdade, eu dou-lhe 3 euros agora e 50 centimos por mês, até completar o preço total.
Surpreso, o dono da loja contestou:
- Tu não podes querer realmente comprar este cachorrinho. Ele nunca vai poder correr, pular e brincar contigo e com os outros cachorrinhos.
O menino ficou muito sério, acocorou-se e levantou lentamente a perna esquerda da calça, deixando à mostra a prótese que usava para andar...
Olhou bem para o dono da loja e respondeu:
- Veja... Não tenho uma perna... Eu não corro muito bem e o cachorrinho vai precisar de alguém que compreenda isso.
Assim é na vida real, às vezes somos como o vendedor de cães. Ao ver alguem diferente já vamos achando que é imprestável sem ao menos analisar os valores da vida. No entanto, qualquer que seja o defeito de cada um, uma vez que saiba conviver com ele, adapta-se de forma a poder seguir seu caminho. Jamais coloque seu ponto de vista sobre qualquer diferença que alguém possa apresentar, pois pode ter uma razão completamente diferente da sua. Aprenda a ver as situações de todos os angulos possiveis antes de colocar seu próprio julgamento. Compreenda então as razões que motivam as pessoas a agirem de outra forma.
sábado, 8 de março de 2014
O JOÃO
FICÇÃO I
O Joãoznho nasceu numa noite fria de inverno, no final do
mês de Dezembro, envolvido em estrelas cintilantes, enfeites majestosos,
preparativos para a passagem de ano, após um Natal cheio de ansiedade em vir ao
mundo dos seres vivos, os quais ouvia dentro do ventre da sua mãe, de 49 anos,
numa clínica privativa, luxuosa, onde a organização e a minuciosidade, faziam
deste estabelecimento da saúde, o prestigio reputado e considerado, das
melhores do universo. Foi concebido por acidente, e, antes do seu nascimento,
considerado um parto de risco, dada a idade da progenitora. Porém, passados os
tempos surpreendentes, para os restantes membros familiares, cujo agregado
familiar era composto de oito pessoas, o Joãozinho não era bem-vindo… o irmão
mais novo, apesar dos seus nove anos, tinha ciúmes excêntricos que não
justificavam o seu lamentável comportamento, embora os mimos que antes lhe
pertenciam se fossem, pouco a pouco, desvanecendo, e as atenções sempre
voltadas para ele, rareassem, ao ponto de passar despercebido no seio da sua
grande família, a qual só tinha olhos para o recém-nascido João.
Havia uma diferença de idades considerável, entre ele e o
irmão mais velho, 27 anos exactamente, não sendo o único contratempo
contribuinte para a indiferença do místico comportamento… as três irmãs envergonhavam-se,
e, não ousavam falar do recém-nascido, nos agrupamentos amistosos, retirando-se
sem balbuciar palavra, quando em casa, durante as refeições, ou no repouso da
noite, era abordado o evento no nascimento inesperado.
O João ia crescendo indiferentes as estas crises de ciúmes, tanto
mais que ignorava tudo devido à sua tenra idade, e, felicíssimo brincava, com
brinquedos específicos, aqueles que despertavam a sua atenção. Bem cedo se
começou a compreender, logo no infantário, que o miúdo era diferente dos putos
da sua idade… considerá-lo um superdotado, seria prematuro, mas, todos os
feitos apontavam para uma criança diferente… e os pais sentiam-se orgulhosos,
era para eles a recompensa de Deus em relação aos irmãos, os quais, mesmo pressionados,
e com meios financeiros, para obter cursos superiores e seguir uma carreira
académica, sempre rejeitaram os estudos, demasiado secante – segundo eles -
possuindo os pais uma fortuna considerável, que assegurava o futuro de todos
eles, sem mexer palha…
Dia após dia, o João mostrava, sintomas de enfado, nos
jogos, na aprendizagem, na maneira dos adultos se prenunciarem, relativamente
ao que para ele era simplório, isolando-se silencioso, aparentemente infeliz… o
que deixava perplexos os que o rodeavam, e atribuíam culpas à timidez… ao mesmo
tempo admiravam aquela destreza em tudo que lhe ordenavam, assim como nas
respostas, coisa que nunca tinha vista naquele infantário…
Com três anos de idade lia e escrevia corretamente, e o diretor
considerou necessário um exame aprofundado por especialistas, para confirmação
dos seus brilhantes preceitos, os quais a verificarem-se verídicos, seria
necessário tomar providências adequadas, para poder desenvolver esses dons de
Deus.
Veio em representação, a pedido do Diretor, uma equipa
especializada, conferenciar com o João, durante lingas horas , saindo com a
certeza, de que o rapaz tinha uma inteligência fora do comum, e seria
necessário coloca-lo numa instituição competente a fim de poder desenvolver os
seus potenciais livremente.
(continuação)
»»»
quinta-feira, 6 de março de 2014
O sofrimento do hipocrita
Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da
palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de
uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior
temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem
é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros
que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se,
reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do
crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a
perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na
franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais
difícil, nada mais doloroso. 0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no
hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a
astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer
essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o
seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo
orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu
desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e
levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a
sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da
enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão.
domingo, 2 de março de 2014
Entrudo em Murçós
Também em
Murçós se festejava o entrudo intensamente; em tempos, quando ainda a população
era numerosa e jovem… vestidos de “marafonos” irreconhecíveis, mascarados ou
simplesmente disfarçados, segundo as imaginações de cada um… começavam a
aparecer no Outão, lugar mítico de encontros, vindos de todos os cantos, para
se reunirem na rua principal, onde formavam o cortejo, com encenações e
coreografias improvisadas, algumas delas à margem da decência, mas, que todos
os presentes admitiam por ser Carnaval… uns aplaudiam outros riam às
gargalhadas, e ainda os que vinham ver para criticar, esses menos numerosos e
mais discretos, correção protocolar obrigava…recordam hoje, nostalgicamente,
aqueles que viveram esses tempos eufóricos, alegres e conviviais, não sendo
necessário sair da terra para presenciar e apreciar as festividades
carnavalescas, simbolizantes da saída do profano, entrando na quaresma, 40 dias
de oração, abstinência, e sacrifícios religiosos. É com resignação e de coração
triste que os mais velhos contam passagens desses desfiles, os quais ficarão a
jamais gravados num canto secreto das suas memórias, para libertarem se lhes
for concedida a atenção, ou ficarem para sempre prisioneiras na discrição.
Nos meus
tempos de puto, festejavam-se freneticamente, os cinco dias de férias
Carnavalescas, que a Educação Nacional concedia aos alunos, das maneiras mais
estrambólicas e imagináveis, com “ferretes” farinha, papelinhos, serpentinas, trajos
rocambolescos, batom e pó de arroz para as meninas, e marchas populares
ensaiadas ao longo de muitos dias, teatros de rua, cantares e danças que
alegremente levávamos a toda a Aldeia. Infelizmente são apenas tradições que
tendem a perder-se em benefício das novas tecnologias e do virtual.
Os nossos
governantes só querem grandes Cidades, onde os seres humanos se amontoam,
correm à direita e à esquerda, procurando a paz de espirito e a alegria de
viver que jamais encontrarão… e as Aldeias sofrem, morrem por falta de alento…
porque alguém resolveu condená-las à solidão sem jamais serem julgadas
justamente.
texto de Alexandre Parafita
em baixo
As festas do Entrudo fazem parte de um tempo excepcional e têm uma função transgressora, libertadora e, em muitas circunstâncias, iniciática. Trata-se de um tempo limitado mas intenso, em que tudo é permitido, um tempo de ruptura das proibições, um tempo de violação ritual, que se opõe aos “constrangimentos” da Quaresma que se avizinha. Em Trás-os-Montes, o que de mais genuíno perdura das tradições de Entrudo, são os desfiles diabólicos de “caretos”, “matrafonas” e “facanitos”, assim como as leituras de “testamentos” (ou “papeladas”), os “julgamentos públicos” e as “pulhas casamenteiras”.
O Entrudo procede do latim “introitus”, que significa entrada. Por isso, representa a entrada na Quaresma, ou seja, a despedida dos excessos e dos prazeres da carne (de onde veio a moderna designação de “Carnaval”), o que confirma bem o apurado sentido cristão da sua génese, ainda que o vejamos, como festa popular, inteiramente dominado por rituais pagãos. Esta “despedida da carne”, que se festeja um pouco por todo o mundo em múltiplas manifestações consoante a idiossincrasia e o ímpeto catártico dos povos, vemo-la em algumas aldeias transmontanas assumir um carácter muito singular, revestindo um fenómeno antropologicamente assaz valioso.
A tradição dos “caretos”, tal como ocorre em Podence, Macedo de Cavaleiros, é bem o espelho desse fenómeno. E é de todas a mais ativa. Os rapazes, com os seus fatos de franjas de cores garridas, feitas de linho e lã nos velhos teares da aldeia, com máscaras de lata e chocalhos à cintura, percorrem num frenesim “eléctrico” todos os cantos da aldeia, entram e saem pelas janelas das casas e alpendres, trepam aos telhados, em busca das raparigas solteiras que arrastam para a rua ensaiando com elas rituais eróticos. Estas, caso não queiram entrar neste “jogo” só têm uma solução: vestem-se de “matrafonas” (mascaradas como eles) e saem também para a rua, onde estarão imunes às investidas dos moços. O cortejo completa-se com os “facanitos”, ou seja os mais pequerruchos da aldeia que, mascarados de trasgos ou mafarricos, acompanham os demais, cumprindo, também eles, o seu próprio ritual de iniciação e garantindo, ao mesmo tempo, a continuidade da tradição.
Não menos singular é o mito/rito do Entrudo em Santulhão, Vimioso, conhecido como “julgamento do Entrudo”, onde se posicionam o “Anunciador”, o “Entrudo” acompanhado pela mulher e filhos, depois os “Advogados” de acusação e defesa e, por fim o “Juiz” exibindo o “livro das leis”. Esta alegorização do Entrudo e do seu clã familiar visa responsabilizá-los pelas desgraças do inverno, especialmente os males agrários, pelo que o ritual do julgamento representa, simultaneamente, o seu esconjuro e a purificação da comunidade, que assim entrará, com outro ânimo, num novo ciclo produtivo. Daí que, lavrada a sentença pelo juiz, os bonecos de palha, simbolizando as figuras a esconjurar, sejam queimados na praça pública perante a azáfama do povo.
Pela firmeza intemporal de algumas destas manifestações, há nelas, claramente, uma herança diluída dos velhos ritos romanos em honra do deus Saturno, o deus da agricultura. Nessas celebrações (conhecidas como “Saturnais Romanas” ou “Saturnálias”), era permitido que o poder dos senhores passasse provisoriamente para aqueles que faziam produzir os campos: os escravos. Era um tempo de inversão, prazer e exagero, em que estes passavam a ser livres, nas palavras e nas ações, podendo expor publicamente os seus senhores, criticando-os e pregando-lhes partidas.
Na região transmontano-duriense, com a mesma expressão, ou expressões similares e afins, os ritos expurgatórios que definem o Entrudo são comuns a muitas outras zonas, como sucede com os caretos de Vila Boa de Ousilhão, os Caretos aos Pares (compadres e compadres) de Lazarim, os Diabos, a Morte e a Censura em Bragança, a Morte e os Diabos de Vinhais, os Testamentos ou Papeladas em Espinhoso, as Pulhas Casamenteiras em Mogadouro, entre muitos outros.
Alexandre Parafita
(escritor e etnógrafo; professor da UTAD)
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