sexta-feira, 21 de março de 2014

QUARESMA

 A quaresma caminha a passos largos para a Páscoa; ritos que com a evolução dos tempos se vão tornando cada vez mais laxistas, permissíveis, condescendentes, muito por culpa do próprio catolicismo ao demonstrar exigências excessivas, esquecendo regras primordiais, aprendidas, como eu, na catequese dos nossos tempos, as quais eram concebidas e realizadas segundo os mandamentos da Lei de Deus, os Sacramentos, admoestação ou prédica, considerada e respeitada, sem restrições. Também noutras religiões se pode observar com rigor uma crença dedicada e respeitada, embora em outras épocas do ano, tal como: o Ramadão na comunidade Muçulmana.

 As pascoelas, lindas, abertas e perfumadas davam o sinal da aproximação da Páscoa… ao longo dos ribeiros, nos lameiros frescos, encostadas a um riacho, surgiam aqui e ali, erguendo-se às dezenas entre as folhas verdes que ornamentavam o ramo campestre ou selvagem… Como lhe quiserem chamar, mas formosas, resplandecentes no colorido natural amarelado pigmentado.Durante a minha adolescência aprendi a viver profundamente a quaresma com todas as exigências da lei cristã, e hoje, sinto-me perdido, atraiçoado, entre a crença e a descrença… desde a quarta feira de cinzas, durante toda a quaresma, nas sextas feiras, eram rigorosamente cumpridas as leis do jejum e abstinência…também as confissões, permissíveis a uma vez por ano, na altura da quaresma tinham uma aderência substancial por parte dos homens e mulheres… mas, não era necessário pagar! Recordo-me dos convites do P.e João,
 
 colegas mais próximos ou talvez com os que simpatizava mais, mas, juntavam-se na sala de visitas, durante dois dias, porque havia as anexas, oito a dez Sacerdotes num jantar ou almoço animados, alegres como nas festividades anuais… alguns deles, como o P.e Pires ficavam a dormir com prazer e um à vontade como se estivessem nas suas casas. Era o que se chamava a “torna-jeira” que consistia em ir hoje para uma paróquia e depois para as outras durante toda a quaresma. Fiquei desagradavelmente surpreendido quando alguém me disse que havia um cesto para deitar 5 euros para pagamento dos Sacerdotes que estavam a confessar
 . Para que serve afinal a “avença” o valor que pagamos anualmente, e mais o que se paga para a fabriqueira?
Não me surpreende que os nossos filhos e netos abdiquem da prática do cristianismo, sabendo que o dinheiro, e só através deste fundo chamado de sobrevivência, a religião católica, consegue chegar até os seus fieis, embora tentem fazer passar a ideia de que há transparência, que são os servidores de Deus , e que os seus interesses pessoais passam para segundo plano. Também não é minha intenção, com este texto, tentar desviar do caminho escolhido com toda a convicção, quem quer que seja… sou fervoroso cristão, e, se não concordo com certos actos repressivos que me indignam, respeito incondicionalmente todo ser humano, de qualquer etnia ou religião… há factos onde não me revejo como cristão, talvez porque durante cinco anos vivi num meio Sacerdotal, e o que era justo superava os valores financeiros.
Voltando ao texto que desejo escrever, a época Pascal está gravada na minha memória, como de oração, sacrifícios, e também de convívio em volta de um bom folar Transmontano, nas reuniões familiares, nos divertimentos após Páscoa, tais como: os jogos de roda nas eiras entre rapazes e raparigas… o atirar da cantara de barro que depois passou a ser de zinco… a serra das velhas e o casamento das novas pelos rapazes, e outros jogos simplórios, mas que nos divertiam ao máximo.
Recordo-me também de uma cena passada na igreja, um dia que ia com o P.e João benzer a água na pia, deparamos com uma quantidade de agulhas no fundo, 7 exactamente, e foi então que me ocorreram as histórias contadas sobre feitiço, bruxas e feiticeiras… -pega nelas rapaz que podem servir a Luzia – que era a criada – mas, ao retirá-las constatámos que o orifício que serve para enfiar o fio estava cortado, segundo dito para que as bruxas não saíssem por lá!

A Primavera vem também animar os mais pessimistas com seus raios de sol, e os perfumes das variadas e lindas flores que ornamentam o planeta terra.

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