sábado, 8 de março de 2014

O JOÃO

FICÇÃO I

O Joãoznho nasceu numa noite fria de inverno, no final do mês de Dezembro, envolvido em estrelas cintilantes, enfeites majestosos, preparativos para a passagem de ano, após um Natal cheio de ansiedade em vir ao mundo dos seres vivos, os quais ouvia dentro do ventre da sua mãe, de 49 anos, numa clínica privativa, luxuosa, onde a organização e a minuciosidade, faziam deste estabelecimento da saúde, o prestigio reputado e considerado, das melhores do universo. Foi concebido por acidente, e, antes do seu nascimento, considerado um parto de risco, dada a idade da progenitora. Porém, passados os tempos surpreendentes, para os restantes membros familiares, cujo agregado familiar era composto de oito pessoas, o Joãozinho não era bem-vindo… o irmão mais novo, apesar dos seus nove anos, tinha ciúmes excêntricos que não justificavam o seu lamentável comportamento, embora os mimos que antes lhe pertenciam se fossem, pouco a pouco, desvanecendo, e as atenções sempre voltadas para ele, rareassem, ao ponto de passar despercebido no seio da sua grande família, a qual só tinha olhos para o recém-nascido João.
Havia uma diferença de idades considerável, entre ele e o irmão mais velho, 27 anos exactamente, não sendo o único contratempo contribuinte para a indiferença do místico comportamento… as três irmãs envergonhavam-se, e, não ousavam falar do recém-nascido, nos agrupamentos amistosos, retirando-se sem balbuciar palavra, quando em casa, durante as refeições, ou no repouso da noite, era abordado o evento no nascimento inesperado.
O João ia crescendo indiferentes as estas crises de ciúmes, tanto mais que ignorava tudo devido à sua tenra idade, e, felicíssimo brincava, com brinquedos específicos, aqueles que despertavam a sua atenção. Bem cedo se começou a compreender, logo no infantário, que o miúdo era diferente dos putos da sua idade… considerá-lo um superdotado, seria prematuro, mas, todos os feitos apontavam para uma criança diferente… e os pais sentiam-se orgulhosos, era para eles a recompensa de Deus em relação aos irmãos, os quais, mesmo pressionados, e com meios financeiros, para obter cursos superiores e seguir uma carreira académica, sempre rejeitaram os estudos, demasiado secante – segundo eles - possuindo os pais uma fortuna considerável, que assegurava o futuro de todos eles, sem mexer palha…
Dia após dia, o João mostrava, sintomas de enfado, nos jogos, na aprendizagem, na maneira dos adultos se prenunciarem, relativamente ao que para ele era simplório, isolando-se silencioso, aparentemente infeliz… o que deixava perplexos os que o rodeavam, e atribuíam culpas à timidez… ao mesmo tempo admiravam aquela destreza em tudo que lhe ordenavam, assim como nas respostas, coisa que nunca tinha vista naquele infantário…
Com três anos de idade lia e escrevia corretamente, e o diretor considerou necessário um exame aprofundado por especialistas, para confirmação dos seus brilhantes preceitos, os quais a verificarem-se verídicos, seria necessário tomar providências adequadas, para poder desenvolver esses dons de Deus.
Veio em representação, a pedido do Diretor, uma equipa especializada, conferenciar com o João, durante lingas horas , saindo com a certeza, de que o rapaz tinha uma inteligência fora do comum, e seria necessário coloca-lo numa instituição competente a fim de poder desenvolver os seus potenciais livremente.

(continuação) »»»

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