terça-feira, 1 de abril de 2014

Minha querida mãe

                     Uma lágrima pelos que partem... evapora-se

                     Uma flor sobre a campa... murcha

                      A dor e o sofrimento...
                      vai-se atenuando

                                       mas

                     Os corações dos que batem por amor...
                      Jamais te esquecerão
                                                             A TUA FAMÍLIA



Na tua humilde casinha, envolvida em dificuldades, quando eras ainda autónoma, foste feliz... à tua maneira, mesmo retirando muitas vezes o pão da boca... receosa com as doenças que pudessem retirar-te, os filhos e netos, que criaste com tanto amor e carinho... sem queixas nem protestos, dividias por todos em partes iguais, os alimentos, as caricias, os bons conselhos, as inquietações que te mortificavam, deixando-te num nervosismo, e grande ansiedade... oravas à Senhora do Rosário, implorando forças e alento, a fim de levares ao teu calvário aquela cruz tão pesada, que não conseguia fazer-te vacilar. A sala enchia-se tantas vezes e a mesa era já demasiado pequena...alguns comiam na cozinha... mas tu´minha querida mãe, querias-nos a todos junto de ti... sentias tanta felicidade e orgulho, que deixavas a porta aberta e davas umas voltinhas pela varanda, como quem quer mostrar ao mundo, que apesar das dificuldades pelas quais passaste, tinhas agora a recompensa... todos nós tentamos os possíveis para que nunca te faltasse nada, e tu contentavas-te com tão pouco!
Todas a mães são sempre as melhores do Mundo... tu eras apenas a nossa que amávamos com todas as forças e hoje choramos com lágrimas dolorosas... sabíamos, que terias de partir um dia, mas, nas nossas mentes, esse dia nunca mais chegaria...Ficaste tão triste, quando um dia, logo de manhã, te vim visitar e te encontrei estatelada
no soalho onde terias passado parte da noite aos gritos, pedindo socorro, e ninguém te ouviu, ao anunciar-te que não podias continuar sozinha, e que a Senhora a quem pagávamos para tratar de ti durante o dia não aceitava deixar a sua família para passar também a noite em tua casa, por conseguinte só nos restava uma solução: um lar para idosos. Vi duas lágrimas cair pelas tuas faces, e compreendi que te estava a espetar uma espada no coração... escondi-me para chorar também, e pela minha cabeça passaram culpas desastrosas de impotência...Tentei tudo para remediar... pedidos, promessa de pagamentos, implorei, mas, todas as portas se me fecharam...metido entre a espada e a parede, tentei arranjar-te um lugar numa instituição privada ainda que a custos elevados. Convenci~te a ir visitar o Lar Sta Marinha, onde ficaste como encarcerada, e eu senti-me tão mal...Com tudo, foi a tua casa durante quase 7 anos. Acostumaste-te, foste sempre tratada com muito carinho, respeito e delicadeza, e eu velava vindo visitar-te sempre que podia.... ficava horas a conversar contigo e restantes utentes... não via o tempo passar.Mas, essa doença de Parkinson foi evoluindo... retirou-te as funções dos órgãos nutritivos, depois os da linguagem, e trocávamos apenas ternos olhares... conhecias o meu carro que vias chegar através da grande vidraça e sorrias... conhecias a minha voz a léguas de distância... mas, já não podias comer o chocolate que sempre te trazia do qual tanto gostavas. Perdeste todas as faculdades, caíste nessa cama onde acabaste por adormecer para sempre naquela madrugada de Sexta-feira, deixando-nos os corações destroçados, mas, convictos, que partiste com a dignidade que te caracterizava, e a humildade que te acompanhou ao longo da vida. Se houver um reencontro, minha adorada mãe, guarda-me um lugar pertinho de ti, no aconchego dos teus braços.

Nota: agradecimentos a todos aqueles que nos ajudaram nos preparativos do Funeral, especialmente a Angélica e Filipe. Agradeço também a presença dos que estiveram presentes no funeral, que trouxeram lindos ramos de flores, e aos que através de contactos também o fizeram. Aos familiares mais ou menos próximos que estiveram ao nosso lado, à fabriqueira de Rebordainhos, ao Diácono pela linda cerimónia; à  funerária profissionalismo exemplar, a todos os que vieram das diversas localidades; ao lar de Rossas pela visita e flores, a todos quantos me enviaram centenas de mensagens de reconforto,: Ás trinta e tal pessoas de Murçós, e por fim, esperando não ter esquecido ninguém, a todo o pessoal do Lar sta Marinha Arrifana, por tudo quanto fizeram para que minha mãe tivesse vivido os seus últimos tempos de vida com dignidade, higiene, carinho e dedicação. Que Deus vos proteja a todos.

4 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Fazes bem em escrever, que é o mesmo que desabafar. Eu demorei nove anos a ser capaz de escrever sobre o meu pai. Pela minha mãe e pelo meu marido ainda não fui capaz e já lá vão oito e cinco anos. Talvez o meu tempo sejam os nove anos...

A tua mãe - e vós com ela - viveu a tristeza de ter de se separar da sua terra e da sua casa. Mas essa era a única escolha de um viver com aconchego. Nada tendes a censurar-vos, antes, deveis lembrar-vos que a acarinhastes sempre e essa dedicação faz toda a diferença, porque nada há de mais importante.

Beijos

antonio disse...

Como te compreendo Fátima! Também me estou sentindo tão mal... confuso; não consigo admitir, por muitos esforços que faça... Tinha-me jurado a mim próprio ser forte e ajudar os meus a superar estes momentos tão difíceis, e, consegui acumular sem demonstrar a fragilidade que me estava minando...mas, hoje ainda não consegui comer nada... não posso ouvir ninguém e a cabeça parece querer estoirar... está sendo tão difícil... quase não sei o que digo, desculpa. Beijos

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Sobretudo, não peças desculpa! Estranho seria que fosse de outra maneira. Quanto à comida, também é assim mesmo (eu estive, de cada vez, três dias sem ser capaz de mastigar nada - alimentava-me de água), mas, sobre isso, vai dando ouvidos à família. A mim até tiveram que me falar grosso. Na altura senti-me com isso, mas depois dei razão a quem me obrigou a começar a comer.

Digo-te mais: até deixei de ser capaz de fazer as coisas que mais gosto de fazer. Quando foi do meu pai, estive meses e meses sem ser capaz de ler e há coisas em que ainda não toco.

Não te espantes, porque é mesmo assim: quem muito ama muito pena. Tens é que começar a lembrar-te daquilo que minha mãe sempre disse: a vida continua!

Beijos

antonio disse...

Vou tentar Fátima... bem-hajas por tudo.Beijos