segunda-feira, 7 de abril de 2014

The flirt

Nas minhas pesquisas, aterrei num blog. que se pronunciava sobre o Flirt como sendo uma traição para além de outros adjectivos que me deixaram séptico, apreensivo, com o texto e comentários. A administradora faz a pergunta : é ou não é traição? E em inglês acrescenta:  I don't need to flirt I will seduce you with my awkwardness. 
O dicionário, tal como imaginava considera o flirt como um namorico passageiro.
Todos nós tivemos flirtes nas nossas vidas; uns mais outros menos, e,é sobretudo na nossa adolescência, que os namoricos passageiros sem compromissos nem responsabilidades físicas ou morais, se situam… inexperientes, alusivos, uma simples brincadeira, que geralmente nos marca pelo acontecimento em si, mas, que superamos facilmente com o decorrer dos anos, a maturidade que segue a regra da lógica dos adultos, fazendo a diferença entre as fantasias e a realidade.
O meu primeiro flirt aconteceu, quando tinha apenas 9 anos… junto da lareira, onde um adulto familiar, vigiava atentamente, todos os nossos feitos e gestos, com uma desconfiança doentia… Só existia um meio de comunicação discreto, o qual deveria passar despercebido ao ditoso vigilante, e na nossa cabeça começou a magicar, a ideia de encontrá-lo. Peguei um carvão da lareira e escrevi na pedra que a suportava, a proposta: queres…comigo?
A resposta foi: - Sim
Encontrámo-nos num lugar combinado, e aí tivemos o nosso 1º relacionamento afetivo, breve, passageiro, que terminou tal como começou.
Era, sobretudo, através de papeluchos “rabiscados” à pressa, num canto fora do alcance dos olhares curiosos, redigidos com simplicidade temerosa e humilde, e entregues por um amigo com o qual confidenciávamos as tendências afetivas, que a ligação correspondente se urdia, quase sempre com a 1ª iniciativa pertencente ao sexo masculino. Os mais temerosos (envergonhados) passavam tempos indefinidos à procura de um meio eficaz para abordar a afeiçoada, sobretudo declarar a flama acesa por um simples trocar de olhar, um gesto, uma palavra. Os termos passavam dos mais velhos para os mais novos sem evolução:  - queres namorar comigo? Era o termo mais utilizado, tentando alguns rapazes, dar-lhe um acréscimo de “sal”, para justificar diferenças cavalheirescamente.
Quase sempre se recebia um não, nesta primeira abordagem, sendo o sim considerado pelas “cachopas” como sinónimo de leviandade… por outro lado, reforçava o interesse do interlocutor, havendo duas ou mais tentativas.
A adolescência é, no meu ponto de vista, a idade mais propícia ao “flirt”, sabendo que sentimentos e ideias se baralham, confundem e tentam os seres ainda vulneráveis, irresponsáveis pelos atos decorrentes.
Durante a minha adolescência, sem pretensões nem preconceitos, respeitando a integridade moral das minhas companheiras, tive numerosos flirts, com cachopas oriundas de diversos lugares. Uma delas, abalou para Dyjon com a família deixando-me uma carta de despedida, e uma foto onde me dedicava grande afeição… depois surgiu uma moça de Oleiros Bragança, de passagem pelos Pereiros, no dia das festividades anuais, com a qual me correspondi durante algum tempo por cartas. Não considerava estes relacionamentos como conquistas, e muito menos “engates”, o meu ego, sempre definiu, excentricidade e trivialidade, ficção e realidade.Os namoricos, foram em tempos idos, para muitos de nós, uma maneira simples de ocupar os tempos livres, rompendo o fantasmagórico rotineiro. Assim sendo, acompanha melhor a tradução do flirt em Francês.
O meu primeiro, grande e único amor, surgiu aos dezasseis anos, e o namorico foi-se prolongando até aos vinte e seis, com altos e baixos, ruturas e reconquistas… uma paixão que só acabará com a morte… há pessoas que tem a capacidade de se apaixonarem várias vezes, eu não… também não acredito que tal seja possível… o verdadeiro amor, aquele que nos captura o sentimento, não tem fotocópia… tentamos nós, em caso de fracasso, colmatar a ausência, substituindo aparentemente, segundo a conveniência momentânea, traímo-nos convencionalmente… e como a paixão não se identifica como uma paragem cardíaca… a vida continua... Aventuras amorosas, tive muitas… com as quais ludibriei os verdadeiros sentimentos. Não culpo ninguém, não julgo, nem sequer lamento o meu predestinado… refaria o mesmo caminho, e voltaria a levantar os pés para não passar por cima de ninguém…vivi a minha vida como um “paxá”, tive flirts que nunca foram traiçoeiros, aventuras amorosas consentidas e saboreadas, relações sem promessas nem compromissos, mas sobretudo grandes e numerosas amizades que de tempos a tempos vem visitar a minha memória relembrando a felicidade guardada com chaves de ouro num canto privilegiado da minha memória.

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