sábado, 22 de novembro de 2014

Pelos caminhos de Vinhais

  Tinha passado dois dias terríveis a consultar, analisar, com senso, maestria, e complacência, fatos pessoais que me deram volta à cabeça de forma tão radical, que o eu já não era eu… senti na pele um pavor excessivo, e no coração a mágoa do desespero, que nos retira todo discernimento, caindo num raciocínio indutivo. De volta a casa, após uma noite passada ao relento, num estado de insonolência agravado, fui tentado por “espíritos malignos,” acordado, a fugir para longe dos seres vivos, esconder-me nas profundezas do silêncio, cego, mudo, sem corpo nem alma; apenas uma silhueta misteriosa, errante pelas ruas desertas de uma terra que como eu perdera a dignidade, o fervor e a alegria de viver… poucas ou nenhumas, foram as pessoas com quem me encontrei na minha rota sem destino, e na abstração de conversas fúteis, num fugitivo saudar de boas horas de cara voltada para o lado oposto, e no desinteresse comum de manifestar o desejo do cessar da chuva, já com as últimas castanhas apanhadas e vendidas a bom preço este ano, ruminava vezes sem fim no meu pensamento, aquela alegria exuberante que um dia me trouxera aqui, com fé, mas sobretudo esperança, de viver dias felizes aos quais todos os seres humanos tem direito, independentemente do lugar onde tenham nascido…
E inconscientemente, contei mentalmente as casas existentes na pacatez desta Aldeia… duzentas - segundo os sensos realizados em 2011. Mais de metades estão desabitadas, e é grande a percentagem das que mora lá apenas uma pessoa… como é triste! O autocarro escolar vem buscar 4 crianças com mais de seis anos e apenas duas com menos… e os idosos vão partindo cada vez mais numerosos na rota do desespero que os isola deixando-os temerosos com o que possa acontecer numa destas noites escuras e frias de inverno, que já nem um cão se ouve ladrar! - Murçós foi uma das aldeias que sofreu muito com a desertificação massiva e o envelhecimento – confidenciava-me um colega de formação em Macedo de Cavaleiros – Murçós é hoje simplesmente o refúgio dos inconscientes e dos que julgam ser tarde demais para abandonar o barco à deriva…
 De volta a casa, manifestei numa rede social o meu precário estado de espirito pensando aliviar o peso que me sufocava com remorsos de consciência, culpabilizando-me dos resultados infrutíferos, desastrosos, dos quais me sentia responsável embora indiretamente…
Pelas 21 horas recebi um telefonema de dois primos de passagem pela terra, que alertados por um terceiro, homem exemplar de bondade, sempre disponível benevolamente para ajudar os outros, carenciados ou vulneráveis, de incondicional fé em Deus e na religião cristã que pratica assiduamente, me convidaram para almoçar com eles num local marcado. O convívio é realmente uma terapia saudável que nos ajuda a combater os preconceitos e os percalços que a vida nos reserva…
 Após o almoço fomos passear o resto do dia lá para os lados de Vinhais, onde as paisagens outonais sublimam olhares tristes, e consolam corações martirizados. Foi realmente o “golfo” de oxigénio que os nossos pulmões precisavam para voltar a sorrir, rir e brincar esquecendo todos os problemas do mundo. Os castanheiros outoniços de Mós e celas, velhos de centenas de anos começavam a despir-se o que lhes dava um “charme” peculiar, enquanto na encosta, Negreda e a sua quinta dos castanheiros aguardavam sorridentes a chegada dos hospedes vindos para aliviar do stress cotidiano; do outro lado, Martim, Refoios e Zoio, serenavam na última recolta da castanha. Chegados a Nunes começamos a ver Vinhais esplendoroso na
 
 encosta, e a magnifica Aldeia de Cidões, ladeada de serras e banhada pelo rio, uma maravilha! Numerosas foram as fotos que do miradouro majestoso tiramos, como crianças que brincam alegres e felizes, alheias às peripécias da vida. Até o grande assador de castanhas, o maior do mundo, podendo assar uma tonelada, de cada vez, nos acolheu de braços abertos. Estou imensamente grato aos primos e sobretudo ao Carlos que mesmo de Lisboa não lhe passou despercebido um problema familiar.







6 comentários:

Anónimo disse...


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"Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade..."


http://youtu.be/yVbAWf349eE

Abraço
Eduarda

Anónimo disse...

António, em tempos a Fátima ensinou-me a colocar os links nos comentários, mas como "burro velho não aprende línguas", não consegui aprender. Assim peço desculpa da forma como fiz o cometário anterior, sendo que o meu propósito era tão somente colocar-lhe o link de uma música dos Trovante que achei conveniente para o post acima As minhas desculpas pois saíu-me mal a pintura. Abraço Eduarda

antonio disse...

Bem-haja Eduarda... haja sempre alguém. Abraço

antonio disse...

Eduarda: efitivamente o sistema de segurança ativado não me deixa ver a letra... mesmo no youtube, não faz mal.

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Aí não está a letra, mas aqui podes vê-la e é muito bonita.

Tenho estado ausente por mil e um motivos que não vêm ao caso, o que importa é ver que consegues ir escrevendo e desabafando um pouco.

Beijos

antonio disse...

Obrigado Fátima pela letra dos trovante que é realmente muito linda, e pela amabilidade e disponibilidade que dedicas aos outros... eu bem preciso neste momento.Vou escrevendo a custo, porque nada me faz prazer... desejava-me tão longe... enfim não te vou maçar com os meus problemas, já te chegam os teus. Beijos