sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Pelo termo...

                                                                               
                 Foi mais um passeio matinal debaixo de intensa chuva, fria, gelando-me o rosto (como na canção de Mariza) e o vento forte soprava provocando grandes dificuldades, para segurar o guarda-chuva, meu companheiro de viagem, com o qual trocava impressões relativas à desertificação das pessoas integras, das quais só restam vestígios de um olhar para trás… atravessando, uma vez mais a Aldeia de lés a lés, vendo apenas uma velhinha que tentava regressar ao aconchego da lareira, onde se refugiam os restantes moradores desta terra com semelhança fantasma no sentido de desambiguação dista da civilização que a minha mente colocou lado a lado com a “Rue du Fauboug Saint Honoré, num dia próximo das festividades Natalícias, onde os engarrafamentos medonhos suscitavam nos passantes correndo apressadamente de um lado para o outro, como formigueiro, à procura das ocasiões


excecionais de compras onde se situam as lojas mais reputadas e caras da cidade de Paris… e neste penar de lamentações, surge o olhar para a frente, ou seja, o envelhecimento que fora premeditado de forma diferente, em tempos otimistas de ilusões, onde os cidadãos sabiam fazer a diferença entre o civismo e o : “olho por olho, dente por dente”! Nestes tempos, de dificuldades e pobreza, vivia-se em harmonia, o que não acontece hoje em dia, por omissão ou esquecimento, porque ninguém precisa de ninguém, e o parasitismo paira por aí, como abutre referenciado aguardando a hora certa para aplicar o golpe fatal.
Chegava ao Santo António, e ao voltar-me deparei com a placa em zinco que dizia: - BEM-VINDOS À FREGUESIA DE MURÇÓS – e a tristeza invadiu-me… na perplexidade dos meus sentimentos, surgiram passagens diversificadas desde a adoção até a adaptação morosa, mas, que viria a enraizar com tanta grandeza, ao ponto de não suportar ouvir dizer mal, nem do sítio nem de quem ca vive. Contudo, continuo a ser considerado como forasteiro, e, apesar de não me afetar no dia-a-dia que vivo a meus custos exclusivamente, torna-se cansativo, desmoralizador, desprezível.Os lugares por onde passo regularmente nos meus passeios solitários para desenferrujar os membros inferiores, e oxigenar os pulmões com um balão de ar puro, tornaram-se rotineiros, sem aquela beleza paisagista, “charmosa” que as giestas, estevas, pinheiros, e outros

arvoredos campestres suscitavam atenciosamente, e os caminhos conduzem-me sempre a esta casa onde me refugio a ler o último livro comprado, cujo titulo e um texto publicado nas redes sociais, que visito frequentemente e me deixam cada vez mais desapontado os conteúdos publicados, vindos da prefabricação para extorquir fundos monetários, e publicidades mentirosas, me desiludiu o autor com o vocabulário, talvez perspicaz para esta geração á “rasca”, mas deveras repugnante contextualmente. Saturado das amizades virtuais que servem apenas a coscuvilhice, travo lutas desenfreadas no jogo de damas contra opositores não sei de onde, mas, que como eu, gostam de ganhar ainda que seja a feijões… eis o meu matar do tempo, enquanto Ontem desci pela estrada de Ferreira até água-dalte, subi o caminho que vem dar ao velho campo de futebol onde me quedei alguns minutos relembrando os tempos em que as equipas de Murçós e Rebordainhos ali se defrontavam, com o mínimo de condições para o exercício deste desporto. Fomos derrotados uma destas vezes por 8-o, mas não saímos de lá humilhados… em primeiro lugar porque Murçós quase sempre teve uma equipa melhor que a nossa, e depois porque o campo tinha uma elevação gradual, sem linhas, balizas de madeira com trave de corda, e um “bec” que metia a bola na baliza com a mão nos lançamentos de fora. Lembro não chega o tempo bom para a apanha da azeitona.com grande emoção o nosso guarda-redes Albino, que faleceu com um cancro cerebral no auge da idade, deixando três filhos de tenra idade ao encargo da esposa cujo sofrimento compartilhou durante o tempo de fase terminal, regressando despedido dos médicos a casa, e, como um mártir, soltava gritos que se ouviam do centro da Aldeia… de salientar que nesse tempo ainda não era aplicada a morfina para atenuar o sofrimento, pelo que jamais esquecerei este amigo, bom e generoso, trabalhador e honesto, herança de uma família exemplar. Que Deus te reserve o lugar que mereces no céu, grande amigalhaço.

4 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Obrigada por nos mostrares as nossas lindas paisagens de Outono.

Os pensamentos partilhados, mesmo que de desalento, tal como as recordações são um bálsamo para quem escreve e para quem lê, poque se revê nas tuas palavras. oBrigada por elas.

Beijos

antonio disse...

És sempre recebida com grande carinho Fátima, mesmo quando as coisas andam complicadas por cá. Bem-hajas pela visita. Beijos

Anónimo disse...

António, como sempre gosto de passar por aqui e recordar tempos antigos. Hoje, embora com a recordação triste da morte do Albino (sabe que fui ao casamento dele e da Ester?)homem que Deus não deu tempo de gozar o crescimento dos filhos e a felicidade de uma vida mais longa. Mas... quem somos nós para definir como ELE faz as suas escolhas? Só temos que aceitar. As fotos estão lindas. Abraço
Eduarda

antonio disse...

Olá Eduarda! Obrigado pela sua visita... é sempre bem-vinda. Peço desculpa por demorar tanto tempo a responder; falta de tempo e disposição. Últimamente não me apetece nada visitar as redes sociais...
Não sabia que tinha assistido ao casamento do Albino, era um homem com H grande... Marcou-me muito o seu sofrimento e falecimento. É o destino de todos nós mas enfim.... Abraço