sábado, 30 de abril de 2016

Já as rosas se adivinhavam...

Fernando Calado

De Fernando Calado
…Quase poema… ou tu e eu… em 30 de abril
Era trinta de abril, quase maio. Já as rosas se adivinhavam à beira da surpresa. Abri a janela do sol poente …senti o meu ocaso, no descanso de ter fechado a vida.
Era trinta de abril… quase maio… sem um anúncio… sem um sinal… tu chegaste… e entardecia.
E somente disseste: - já há rosas?!
- Já volta a haver… já vesti de novo o coração de branco e tenho imensas roseiras no quintal e já se adivinham no perfume do poema… doce e cheio de ternura que se dá e sente-se como o rio sente as margens, a abelha sente a flor e o beijo sente o desejo... e ficamos.
E tu disseste: “Sigo os sinais cravados no meu peito… descubro no deserto tortuosos caminhos… a terra de pedra e os pés com rugas no mapa do destino… uso as minhas armas… mato a sede acenando aos barcos… Choro rios… Não me entendo sem adormecer a impaciência da esperança, nem a solidão da alma para entender o que me resta na lembrança, sonhos de ouro, relíquias de marfim, companheiro dos meus dias na teia das horas mortas.
Anoitece e sei-me tua… o fogo do sol, um hálito quente repara no sentimento. Silêncios que se inspiram… pele onde a terra e o céu respiram… e fico na ilha do teu abraço… e nas mãos da noite o corpo suspira em festa… Madrugada no berço da lua e dança no orgasmo das palavras… o mistério canta no poema que me arde, nem cedo nem tarde, tão longa é a noite no sol do teu abraço.”
E eu disse: que o orgasmo nasça no sussurro das palavras e na flor, em prenúncio de fruto e seja longo e doce e fique num remanso de água, de sumo de laranja, de beijo húmido e do abraço que fica à flor da pele... e que para sempre os rios corram no meio dos dedos e se façam maresia neste sentir sem estar, neste desejo de fruta madura, neste cheiro a rosas em abril… quase maio… quase flor... que os rios corram… mas fiquem!
Era trinta de abril… quase maio…
… e foi assim!

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