Gerações. ficção
Nasceram nos tempos onde o modernismo e as novas tecnologias
são fatores essenciais para o desenvolvimento das atividades facultativas e
prejudiciais em aspetos condicionados para a essência natural de congregar o
egocentrismo.
Ele chamava-se Agamenon,
de origem grega que significa: persistente.
A ela chamemos-lhe ABRA; de origem hebraica que significa:
mãe das multidões
Agamenon nasceu numa nobilita casa pecuniosa junto à margem
do rio Mondego, onde viveu a sua infância de menino mimado cujos progenitores
jamais deixaram que lhe faltasse o que quer que seja. Era filho único, uma
mais-valia – dizia ele mais tarde – quando integrou a universidade em Coimbra –
assim não tenho que dividir nada com ninguém. Desde a sua tenra idade,
sobretudo quando jogava futebol e se banhava com os outros meninos, que começou
a matutar no que o diferenciava dos outro rapazes esperando para ir banhar-se
já quando todos os outros tinham saído, e só retirava as roupas íntimas quando
verificava que já não havia ninguém nos vestiários. Os colegas chamavam-lhe o
retardatário, considerado por ele inofensivo, sendo cada vez mais e mais
acentuadas as diferenças entre eles. Os seus órgãos genitais não acompanhavam o
crescimento natural do corpo, a timidez e a maneira como se sentia bem entre
homens era agora para ele uma realidade que o martirizavam! Seus pais
conservadores jamais aceitariam que aquele filho a quem tinham dado tudo, e
agora fazia projetos a longo prazo, de ter netinhos que viessem alegrar aquela
confortável casa, a qual com o envelhecimento dos proprietários se vinha
tornando de uma pacatez desconfortante, fosse homossexual. Optou por guardar
bem guardado o segredo que nem aos seus melhores amigos revelou, e com o
decorrer do tempo se veria…
Ela, Abra, vivia em Viseu com os seus pais. Tinha dois
irmãos mais velhos que já tinham “espolinhado”, um deles casado, outro vivia
com uma catraia e por lá governavam a vida, com a ajudinha de vezes em quando
da paternidade, porque nos tempos que correm o dinheiro não chega para limar as
arestas dos magros salários, sobretudo no início das carreiras. Tinham formação
superior, porém, os contratos temporários terminavam e o ciclo vicioso
arrancava não podendo estabilizar ora ele ora ela. Abra estudava direito em
Coimbra e foi lá que conheceu Agamenon, numa daquelas praxes idêntica à da
praia do Meco onde o impetuoso sucumbiu ao dominador psicopata; ordena a jovens
vulneráveis que vendem os olhos com uma lista preta, volta a ordenar que voltem
as costas ao mar para serem engolidos pelas ondas, e foge como um ladrão, a
quem não pesa na consciência, a terrível dor, daqueles pais amargurados, em
condições diferentes, que os aproximaram de uma amizade terna, porque ambos
tiveram a coragem de dizer não. Nós não alinhamos em disparates deste género.
Durante os cursos encontravam-se imensas vezes.
Chegaram mesmo a alugar um pequeno apartamento só para os dois. As más-línguas chamavam-lhe
o casalinho e eles apenas sorriam… confiavam cegamente um no outro, pelo que as
confidencialidades surgiam enquanto estudavam no aconchego do sofá e na discrição
daquelas paredes. Podiam dormir juntos na cama para se fazerem companhia, e,
neste aconchego, os seus corpos tocavam-se sem que houvesse qualquer reação perversa.
A pedofilia era, por vezes, tema de conversa, e lamentavam que tal como eles
aqueles seres humanos tivessem nascido diferentes… não
julgavam receosos de serem julgados, eram quase felizes assim!
Os familiares orgulhavam-se do aproveitamento e desempenho, e de tempos a
tempos lá vinha a perguntinha: E, como vão esses namoricos? Agamenon respondia
com um sorriso forçado: - Estudar não dá tempo para nada… enquanto Abra
respondia com rebeldia: - Metam-se nas vossas vidas… -até que um dia, já depois
da queima das fitas, enfiados no baú dos segredos chegaram a um acordo
convencional: viveriam juntos como um casalinho, e ninguém precisava de se
molestar. Adotariam um filho secretamente, e seriam felizes como as outras
pessoas sem discriminações.
Tomaram as diligencias necessárias para a adoção normal, e
esperaram, esperaram, até que por fim lhes foi entregue um cesto com um menino enrolado
em roupa quente até às orelhas, todos os documentos legalmente emitidos e um
adeus e sejam felizes…
Quando estavam sós, Abra pegou no menino e notou que não era
como os outros meninos… retirou-lhe as roupinhas e tal uma salamandra o menino
tinha tatuagens até às orelhas.
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