Famílias sem
laços nem abraços
Por: António Braz Pereira
Antigamente,
as famílias eram reconhecidas até à quarta ou quinta geração tal como o ADN,
molécula portadora de informação genética, responsável pela transmissão das caraterísticas
hereditárias nos seres vivos o exige seja para o bem ou para o mal. Parte delas
não eram consideradas, mas os laços esticavam sem pedir o consentimento de
ninguém. Havia aqueles que fingiam ignorar quando na vida social os níveis eram
diferentes, mas não havia meio de fugir, e de bom ou de mau grado… tentavam
separar as águas, como se diz correntemente, mas os rios corriam sempre para o
mesmo lado. Antes de expandir os meus míseros conhecimentos sobre o tema, gostaria
de dizer que nos tempos em que vivemos, família são considerados filhos pais e
netos, e as quezilas pelos mais amados, mais ajudados, mais considerados são
frequentes e com consequências desastrosas, envolvendo ferimentos, e até
mortes, não esquecendo o corte de relações por tempos indefinidos, talvez
porque toda a gente tem tudo mas queriam ter mais, invejas, hipocrisia e
desprezo por um par de nozes, ou pelo conhecimento das contas bancárias que
numerosas vezes dividem entre eles deixando os progenitores na miséria,
encerrados num lar, e, o coração vai deixando de ter alento pouco a pouco e os
olhos secaram para sempre.
Havia
pobreza, fome e desespero, mas era com dignidade que se sobrevivia noutros tempos.
As circunstâncias obrigaram famílias numerosas a partir, nos anos cinquenta
para o Brasil, depois para as colónias, à procura de uma vida mais grata, a
qual nem todos encontraram. Para o Brasil partiu o tio Manuel e a tia Elisa com
cinco filhos já nascidos, dois nasceram em S. Paulo. Pouco a pouco arranjaram
dinheiro para se estabelecerem, por conta própria comprando uma padaria familiar.
Deles tínhamos apenas notícias de ano a ano, e do tio Zé que também embarcou
com eles deixando três filhos ao cargo de uma mulher solteira, que também comeu
o pão que o diabo amassou para os criar: reconheceu-os como filhos sem jamais
assumir as responsabilidades de um homem, refugiando-se na maior das cobardias,
o abandono.
O casal só voltou uma vez a Portugal quando eu tinha por volta dos trinta e sete anos. Diziam que as viagens eram caríssimas, e por lá ficaram. Quando a minha mãe e a tia eram vivas telefonávamos a perguntar
notícias,
depois, faleceram e durante algum tempo correspondi.me por e-mail com a
Augusta, e telefonei várias vezes pata ter notícias da tia Elisa que foi a
última a falecer. Depois tudo se desmoronou como um castelo de cartas. Conhecíamos-mos
apenas por fotos, e conforme a idade foi avançando fomos perdendo o contacto.
Ainda tentei através de um familiar em 5º grau que os conhecia, mas fiquei com
o sentimento que eramos apenas uns estranhos para eles e não queriam ser incomodados.
A humildade
e o respeito pelos outros em todas as situações sociais são fundamentais para
andar de cabeça erguida na rua e o coração em paz. Já se sabe que não somos
todos iguais, que temos cursos ou apenas uma profissão digna e honesta, que uns
vivem bem outros menos bem, mas a passagem por cá está destinada e nada se
leva. Gosta de falar de um familiar talvez em 4º que conheci no RI 13 em Vila Real,
e reencontrei um ano depois no destacamento de Bragança. Ele tinha sido enviado
para Chaves, depois da recruta, e eu para o RTM transmissões do Porto. A minha
especialidade foi longa e as notas contaram para escolher o quartel que
desejava para prosseguir o serviço militar. Entretanto em Vila real fomos massacrados
(o nosso pelotão) por dois vaidosos, um Alferes o outro cabo miliciano, a quem
pesavam demais os galões e divisas, e que por certo meteram o chico…
Já em
Bragança voltei a encontrar o familiar e amigo Varandas. Uma pessoa extraordinária…
para ele também os laços familiares para além dos afetivos tinham um
significado especial. Fui convidado um dia de festa a jantar na casa dos pais,
e acolhido como verdadeiro familiar. Também eu o considerei sempre, e em tempos
de castanhas fui a casa assar três assadores de castanhas que dividimos com
outros amigos. Tinha-lhe perdido o rasto, mas um dia aparece-me nas redes
sociais, pedindo-me amizade. Não o reconheci na foto, mas o seu apelido tinha ficado
guardado na minha memória como um dos nossos. Vive há mais de trinta anos em
Toronto, com uma bela e grande família, com boa situação e conforto. Trabalhou sem
dúvida duro para conseguir, como todos nós, mas venceu, e eu, fiquei
imensamente contente. Ligamos frequentemente por vídeo chamadas, para recordar
tempos idos, ou falar de tudo e de nada, mas é o meu primo Varandas.
Sem comentários:
Enviar um comentário