Pudéssemos nós um dia, para a lua viajar, e com as estrelas
brincar, como brincam os meninos, de manhã ao levantar com os olhos a brilhar,
tal como brilha o sol, em terras de miséria e fome, esquecidas, ignoradas, pelo
que tem tudo e come; e não se lembra que um dia, veio ao mundo despido,
descalço, sem cor sem nação, sem ouro nos dedos da mão, chorando sem lágrimas
sem dor, acariciado pela obra do amor!
Quiséssemos numa noite de luar, por cima do imenso mar
andar, sem barco pra naufragar, e sobre ondas gigantescas adormecer até ao
amanhecer, sem ouvir o galo cantar, sem ver aquele vulcão fumegar e sua lava
correr, destruindo no seu caminho a vida e o carinho da terra que nos viu
nascer. Curvam-se as serras adormece o vento, amam-se as rochas frias já sem
alento, beijam-se os pântanos no silencio do desejo, de branco vestem-se as
árvores seguindo o cortejo.
Fossemos nós num ano de glória, Heróis de um deserto dos
quais não reza a história, sombras errantes, oásis que não matam a sede,
vegetais sem gosto nem cor, grãos de fina areia na sandália, rostos rusgados
cobertos de dor. E de olhos oclusos e coração nas mãos, ajoelhamos pedindo a bênção,
num murmurar de pecador, de arrependido ou simples ficção, clamamos Ó redentor!
Não seremos nunca o que jamais fomos…
AB
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