terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Natal


 

Pudéssemos nós um dia, para a lua viajar, e com as estrelas brincar, como brincam os meninos, de manhã ao levantar com os olhos a brilhar, tal como brilha o sol, em terras de miséria e fome, esquecidas, ignoradas, pelo que tem tudo e come; e não se lembra que um dia, veio ao mundo despido, descalço, sem cor sem nação, sem ouro nos dedos da mão, chorando sem lágrimas sem dor, acariciado pela obra do amor!


Quiséssemos numa noite de luar, por cima do imenso mar andar, sem barco pra naufragar, e sobre ondas gigantescas adormecer até ao amanhecer, sem ouvir o galo cantar, sem ver aquele vulcão fumegar e sua lava correr, destruindo no seu caminho a vida e o carinho da terra que nos viu nascer. Curvam-se as serras adormece o vento, amam-se as rochas frias já sem alento, beijam-se os pântanos no silencio do desejo, de branco vestem-se as árvores seguindo o cortejo.



Fossemos nós num ano de glória, Heróis de um deserto dos quais não reza a história, sombras errantes, oásis que não matam a sede, vegetais sem gosto nem cor, grãos de fina areia na sandália, rostos rusgados cobertos de dor. E de olhos oclusos e coração nas mãos, ajoelhamos pedindo a bênção, num murmurar de pecador, de arrependido ou simples ficção, clamamos Ó redentor!

Não seremos nunca o que jamais fomos…

AB



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